"Quem mais entende de música não é aquele que mais ouviu, mas aquele que mais leu sobre música", observou o jornalista André Forastieri para a plateia lotada do auditório do Museu da Imagem e do Som (MIS), na última terça-feira, em São Paulo.
Ele e outros dois jornalistas, André Barcinski e Ricardo Alexandre, se reuniram para discutir os caminhos da crescente produção literária sobre música e sua indústria no país. Todos lançaram livros sobre o assunto neste ano.
Para Ricardo Alexandre, autor de Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar, há boa bibliografia sobre música se formando no país "porque os bons jornalistas estão cada vez menos presentes nas redações de jornais e revistas e se dedicando mais aos livros". "Temos livros sobre a Tropicália, sobre rock... Quero crer que logo teremos parte da música comercial brasileira coberta por bons livros", acredita.
Com experiência de ter sido proprietário da editora Conrad, Forastieri alerta para a limitação do mercado. "Eu sei que fazer livro é a maior bobagem do mundo. Eu fui dono de editora e perdi rios de dinheiro com isso. Livro é um negócio do mal. Não para ler, mas para fazer, escrever ou publicar", advertiu.
Forastieri lançou recentemente O Dia em Que o Rock Morreu, uma compilação de textos escritos em jornais, revistas e blogs. "Por isso, o meu livro é o mais picareta. Eu reuni textos que já tinha escrito. Não me deu trabalho nenhum", disse, em tom de brincadeira, para os colegas.
Autor do recém-lançado Pavões Misteriosos 1974-1983: A Explosão da Música Pop no Brasil, Barcinski refletiu sobre como o gosto pessoal do escritor não pode influenciar a pauta de uma pesquisa sobre música.
"Se fosse escrever um livro só pelo meu gosto pessoal, iria escrever sobre os Melvins [banda americana de rock alternativo]. Ia vender 100 cópias." Para ele, a obrigação do escritor e pesquisador é "saber reconhecer as boas histórias". "Não ouço a Gretchen e o Sidney Magal em casa, mas eles têm histórias fantásticas que nunca tinham sido contadas", explicou.
Comunicação rock
Ele explicou que a ideia de fundo de seu livro foi tentar entender em que circunstâncias a música se tornou um fenômeno pop no Brasil dos anos 1970. "Música é arte. Música gravada é comércio, indústria. Tentei pautar meu livro com esta ideia. Muita gente fala que a música brasileira piorou muito depois dos anos 1970. Será que a música piorou? Ou foi a indústria que mudou a ponto de não permitir que esses caras fizessem os discos que eles queriam?", indagou.
Para Alexandre, o ponto de partida de um livro sobre música é saber para quem se está falando. "Há uma diferença entre comunicação pop e uma comunicação rock. Para o leitor rock, o fato de o baixista ter composto a maior parte do segundo disco e a menor do terceiro faz toda a diferença. Para um fã da Rihanna não faz a menor", comparou.
Para ele, a fronteira entre livro rock e pop tem muito a ver com a ética do autor. "O interesse em relação ao objeto que a gente aprendeu com a imprensa de rock é muito diferente de um livro feito por um relações públicas para ganhar um troco", afirmou.
Cheguei Bem a Tempo de Ver o Palco Desabar
Ricardo Alexandre. Arquipelágo Editorial, 256 págs., R$29.
Pavões Misteriosos 1974-1983: A Explosão da Música Pop no Brasil
André Barcinski. Três Estrelas, 239 págs., R$ 39.
O Dia em Que o Rock Morreu
André Forastieri. Arquipélago Editorial, 186 págs. R$ 29.