Muito mudou na música desde os tempos em que Bach, Mozart e Beethoven compuseram suas obras-primas. Os sistemas de harmonia mudaram, transformou-se o público e até os instrumentos hoje são diferentes. Mas há elementos que continuam os mesmos de sempre. Um deles é a necessidade da grande maioria dos compositores de criar obras que emocionem o ouvinte. Outro é a ligação entre a música e a espiritualidade, que continua presente mesmo em algumas obras formalmente radicais.

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James MacMillan, um escocês nascido em 1959, é um compositor que serve como prova viva dessa verdade. E os concertos da Camerata Antiqua de Curitiba de hoje à noite e de amanhã vão mostrar o porquê. As duas obras do compositor selecionadas para integrar o repertório da orquestra têm origem na religião. Por outro lado, apesar das inovações formais típicas da época, suas peças já foram descritas como "emocionalmente cativantes".

Regida por Wagner Polistchuk, a Camerata vai apresentar As Sete Últimas Palavras da Cruz, de 1993, e Cantos Sagrados, de 1989. Ambas são para coro e orquestra. Para poder cumprir com o que o compositor exige, a orquestra foi obrigada a reforçar seu grupo vocal. Ao invés dos 16 cantores que normalmente integram a formação, haverá 24 no palco. "A peça exige mais vozes e, por isso, o coro precisou ser ampliado", diz Wagner Polistchuk, diretor artístico e regente titular da Orquestra Sinfônica da Universidade Estadual de Londrina. O regente foi convidado, exclusivamente, para fazer esse concerto à frente da Camerata, já que a orquestra atualmente não tem maestro fixo.

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As Sete Últimas Palavras da Cruzé uma obra em sete movimentos que narra os últimos momentos da Paixão de Cristo, tema clássico da música erudita. "Um dos aspectos mais impressionantes é o uso do silêncio. O efeito que ele cria é tão potente quanto o som de uma orquestra sinfônica, e realmente traz à vida os últimos suspiros de Cristo", comenta o maestro. A peça tem texto em latim.

Cantos Sagrados não é o nome traduzido da segunda obra da noite. O texto que deu origem à obra é latino-americano. Os poemas, aliás, falam sobre a religiosidade na América Latina.

MacMillan, embora seja pouco conhecido no Brasil, já tem renome na Europa. Sua primeira grande aparição foi na rede britânica televisão BBC, quando sua obra The Confession of Isobel Gowdie foi apresentada em um programa tradicional, ao lado de obras de Beethoven e Sibelius. O compositor tem vários discos gravados e atualmente vive em Glasgow, na Escócia.

* Serviço: Camerata Antiqua de Curitiba. Paróquia São Judas Tadeu (R. Carlos de Laet, 2.495 – Boqueirão), (41) 3276-4021. Hoje, às 20 horas. Entrada franca. Reapresentação amanhã, no Teatro do Museu Oscar Niemeyer (R. Marechal Hermes, 999), (41) 3350-4441. Ingressos a R$ 5 e a R$ 2,50 (meia).