Curta-metragem
Cineasta retorna à ficção com Medo de Sangue
Sem realizar um filme de ficção desde que rodou o média-metragem O Fim do Ciúme, em 2000, o diretor curitibano Luciano Coelho quebrou o jejum com o curta Medo de Sangue, cujo roteiro foi escrito em parceria com Juliana Sanson.
A produção, que será lançada no próximo dia 20 de setembro na Cinemateca de Curitiba, traz os atores Álvaro Garutti e Rejane Arruda (do longa Veneno da Madrugada, de Ruy Guerra) nos papéis de um homem e uma mulher que atravessam um tenso e doloro processo de separação, em uma trama que lida com elementos como memória e suicídio. (PC)
as e melodias refletiriam essa ambientação pouco identificada com os estereótipos solares e carnavalescos brasileiros.
Assista ao trailer do filme Linha Fria do Horizonte
Admirador da obra de Ramil, o cineasta curitibano Luciano Coelho resolveu investigar a extensão desse impacto das temperaturas mais baixas, e dos cenários menos tropicais que as acompanham, na produção sonora não apenas do sul do Brasil, mas do continente, estendendo sua curiosidade à produção de países vizinhos, como Argentina e Uruguai.
?Acompanho a música latina, em espanhol sobretudo, desde que estudei na Escuela Internacional de Cine y Televisión de San Antonio de Los Baños, em Cuba [entre 1993 e 1995]?, conta o diretor, hoje com 40 anos, que transformou seu interesse pessoal no projeto de um documentário, A Linha Fria do Horizonte ? no qual vem trabalhando nos últimos meses. Ele e sua equipe acabam de retornar a Curitiba de uma maratona de 17 entrevistas, realizadas em Porto Alegre e Santo Antônio da Patrulha (na região metropolitana da capital gaúcha); Buenos Aires e La Plata, na Argentina; Montevidéu e Paysandú, no Uruguai.
Além do manifesto de Ramil, A Linha Fria do Horizonte também encontra substrato teórico no trabalho do geógrafo gaúcho Lucas Panitz, que pesquisa a representação das paisagens platinas na letra das canções da região, bem como a influência desse cenário no ritmo das músicas. O título do filme se remete a um verso do poema ?Horizonte?, do português Fernando Pessoa.
Templadismo
Embora toda a música produzida dentro dos rigores dessa tal Estética do Frio identificada e também fomentada por Ramil tenha em seu DNA a milonga ? estilo musical popular na América Latina e na Espanha, que, como o tango, tem parentesco com a habanera e a guajira cubana ?, há diversas vertentes dessa musicalidade das baixas temperaturas.
Se as composições de Vitor Ramil vieram como uma espécie de alternativa a gêneros mais tradicionais do Rio Grande do Sul, como o vanerão, muito popular nos Centros de Tradição Gaúcha (CTGs), surgiu no Uruguai um movimento chamado Templadismo.
Por trás dessa proposta, equivalente à estética friorenta de Ramil, estão os irmãos Jorge e Daniel Drexler. O primeiro, expoente da música latino-americana, venceu o Oscar de melhor canção original por ?Al Otro Lado del Rio?, tema do filme Diários de Motocicleta (2004), do brasileiro Walter Salles.
Anos antes de Jorge ser reconhecido pelo prêmio da Academia de Hollywood, os Drexler se dedicaram a criar uma música que, ao mesmo tempo, se comunicasse com ritmos tradicionais e refletisse a atmosfera geográfica e psicológica em que vivem os habitantes de terras com clima temperado, expostos a vastos horizontes e ventos gelados.
Há, diz Coelho, um diálogo evidente entre o Templadismo e a Estética do Frio de Ramil, tanto que o gaúcho coassina a canção ?12 Segundos de Oscuridad?, faixa-título do álbum gravado por Jorge em 2006.
Daniel Drexler já foi entrevistado para A Linha Fria do Horizonte e Jorge, atualmente na Europa, deve fazer sua participação em outubro. No Uruguai, outra artista ouvida para o filme foi a cantora revelação Ana Prada, nascida em Montevidéu, mas cujo trabalho está fortemente relacionado à cidade de Paysandú, localizada no norte do país, onde viveu por muitos anos e deu seus primeiros passos musicais.
Entre os argentinos, um dos músicos mais interessantes que integram o elenco musical para o documentário é Kevin Johansen, natural da cidade de Fairbanks, no estado do Alasca, filho de pai norte-americano e de mãe argentina. ?A música dele derruba fronteiras sonoras, territoriais, políticas e linguísticas. Mistura ritmos latinos, numa salada musical que ele chama de subtropicalismo, referindo-se, inclusive, ao Brasil com a referência de tropicalismo.?
Lançamento
Prevendo o lançamento do documentário para o segundo semestre de 2012, Coelho conta que, além de Jorge Drexler, falta ainda gravar a entrevista com Ramil, que se mostrou muito receptivo em relação ao projeto e pediu mais tempo para elaborar sua reflexão sobre a Estética do Frio e suas implicações. ?Gravaremos cenas na cidade de Pelotas?, conta Coelho.
A Linha Fria do Horizonte nasceu de um projeto de curta-metragem, aprovado pela Lei Municipal de Incentivo à Cultura de Curitiba. Com o tempo, no entanto, foi ganhando envergadura e resultará em um longa, já aprovado pela Ancine, para ser custeado por meio da Lei do Audiovisual, que prevê a captação junto a empresas de recursos necessários para sua realização.
A fotografia de A Linha Fria do Horizonte é assinada pelo chileno de origem alemã Hans Stempel, com quem Coelho trabalhou em 1997 no documentário História de um Passado Perdido, e no ainda inédito curta-metragem de ficção Medo de Sangue, que será lançado no dia 20 de setembro próximo (veja box acima).
A direção de produção é de Christiane Spode e a produção executiva de Marcelo Munhoz, também parceiros no Projeto Olho Vivo, que promove oficinas de documentário, interpretação para cinema e tevê, roteiro e realização de vídeo.
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