Talvez você não saiba, mas nesta quinta-feira (dia 1.º) é celebrado o Dia Mundial da Música. A data foi instituída em 1975 pelo International Music Council, instituição fundada pela Unesco, com o objetivo de promover a arte e divulgar a diversidade musical.
Para celebrar a data, a equipe do Caderno G fez uma seleção musical especial.
Cada integrante da equipe indicou uma música que marcou a vida e explicou por que e como ela marcou.
Se você quiser contar que música marcou sua vida (explicando ou não o motivo), é só escrever lá nos comentários.
Johnny Hartman (1923-1983) morreu marcado como um “cantor de jazz”, o que significa que era respeitado muito, mas vendia pouco. O tempo talvez faça justiça e dê ao “Sinatra Negro” a audiência que ele merece (e acredite: a comparação com Frank Sinatra é só uma parte da justiça que precisa ser feita). Em 1963, Hartman gravou um disco com o saxofonista John Coltrane (1926-1967). O álbum, “John Coltrane and Johnny Hartman”, tem seis faixas em pouco mais de 30 minutos e cada uma delas é capaz de mudar uma vida para sempre. A minha ficha caiu lá pela terceira música, “My One and Only Love”, que eu achava que já conhecia. Coltrane faz uma introdução de dois minutos e a maneira como ele toca o sax tenor é absolutamente única. Então Hartman entra com a voz mais incrível que jamais ouvi. Por causa dessa faixa, desse disco, passei a gostar mais de música e um pouquinho mais da vida. (Irinêo Baptista Netto)
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Na década de 1990, minha mãe tocava numa orquestra de violões. As apresentações aconteciam em teatros, sempre à noite. Criança de tudo, prestava atenção em quase nada e preferia pipoca doce. Numa noite, a orquestra tocou “Meu Primeiro Amor”, de Cascatinha & Inhana. Lembro agora e parece uma fotografia: a mãe com vestido elegante e batom vermelho fazendo a segunda voz e balançando a mão direita no violão sem tirar os olhos da partitura. O primeiro verso, título da canção, se alongou para sempre. Me fez lembrar das pequenas coisas do coração, que à época começavam a se apresentar – e também do filme “Meu Primeiro Amor”, de 1991, recém-assistido numa Tela Quente, hehe. De repente, uma música ganhou forma e conteúdo. Foi isso. Um dos maiores clássicos do sertanejo, “Meu Primeiro Amor” é uma versão da música de H. Gimenez, J. Fortuna e Pinheirinho, criada em 1952 por Francisco dos Santos (1919-1996) e Ana Eufrosina da Silva (1923-1981). É uma das músicas mais tristes da história. Foi meu começo, mas ela fala sobre o fim. Quero acreditar que isso me ajudou em alguma coisa. (Cristiano Castilho)
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Cresci em duas cidades: Curitiba, onde sempre morei, e União da Vitória, onde nasci. Para lá, a família viajava pelo menos duas vezes por mês durante meus primeiros vinte anos. Nessas viagens conheci a música popular no toca fitas do Fusca bordô. O K7 que hoje eu sei ser o disco “Trem das Onze”, com os Demônios da Garoa cantando os sambas de Adoniran Barbosa, foi a machadada. Depois de ouvir e entender “Saudosa Maloca” me tornei brasileiro. Está tudo lá.Tudo o que foi importante para minha formação futura: nostalgia, crônica social, cidade, luta de classes, amizade, humor, religião...Uma música perfeita que encaminhou minha vida para o lado certo. (Sandro Moser)
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Lembro-me até hoje da experiência de ouvir pela primeira vez o álbum “OK Computer”, do Radiohead. Entre o primeiro e último acorde do disco acredito que fui abduzido, passeei por alguma dimensão musical da qual jamais retornei por completo, visto que até hoje me arrepio e me emociono a cada audição. Admito que é difícil escolher uma entre as seis primeiras faixas, mas acabo ficando com “Paranoid Android”, quase uma ópera pós-moderna: começa suave, cresce até se tornar furiosa, se acalma quase em um mantra antes de terminar de forma explosiva. (Anderson Gonçalves)
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É clichê sacar uma música dos Beatles nestas circunstâncias, mas uma lista como esta precisa ter pelo menos um. E é verdade: lembro quando escutei “A Day in The Life” pela primeira vez. Foi em uma daquelas madrugadas regadas a downloads ilegais na época da internet discada, em 2000. Era esperar e ouvir cada faixa que chegava, às vezes depois de horas. Peguei no sono e acordei mais ou menos quando a orquestra de George Martin tocou pela primeira vez aquela famosa massa sonora cujos harmônicos teriam alcançado frequências audíveis só para cães. Depois veio John, com uma voz e uma melodia que me soaram sublimes, e uma segunda aparição daquele emaranhado caótico de sons, que se dissipou num susto e terminou num acorde de piano que ecoou até me deixar em um silêncio amedrontador. Acho que aquela música me mostrou uma dimensão que eu ainda não conhecia. E ela me impressiona até hoje. (Rafael Rodrigues Costa)
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Aquela canção que, entre um ou outro dos afazeres da casa, sua mãe cantarolava desde sua infância. Lembro de gostar dos versos porque traziam imagens do campo. Mesmo que palavras como “debulhar”, “forjar” e “afagar” ainda não fizessem parte do meu vocabulário de guri, o que importava era a sensação de frugalidade, de conexão inconsciente com as raízes rurais da família que evocava. Esse sentimento sobrevive até os dias de hoje e, a cada novo significado que ganha no decorrer dos anos, continua transformando a minha vida. (Enrico Boschi)
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Aos 5 ou 6 anos, lembro de meu pai me entregar em mãos a recém-lançada fita VHS do filme “Blues Brothers 2000” para que eu pudesse assistir com uma amiga da vizinhança. E enquanto ela parecia entediada com o filme, lembro de ter ficado com os olhos vidrados na televisão enquanto via Aretha Franklin exigir respeito através de sua música - ela precisou até soletrar r-e-s-p-e-c-t para isso. Perdi a conta de quantas vezes assisti à mesma cena, caminhando para cima e para baixo dizendo que Aretha Franklin era minha cantora preferida. E a sensação de que eu também era uma garotinha que merecia respeito desde então nunca passou. (Thaís Carvalho)
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As preferidas são outras, mas é muito difícil para um adolescente branco de classe média passar ileso pelas histórias reais do rap nacional. É claro que eu não vivo o negro drama, eu não sou o negro drama, nem sou fruto do negro drama, mas eu entendi o recado. Portanto, apesar do amor cultivado pela guitarra elétrica e de ser um antagonista social de todos os “nego drama”, hoje, assim como Mano Brown, eu penso: “o rap fez eu ser o que sou”. (Braian Boguszewski)
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Uma música que marcou minha vida? Na verdade não sei. Vivo muito de fases e, conforme vou andando, crescendo e amadurecendo, uma música diferente se encaixa em meus momentos. Atualmente “Ame Mais, Julgue Menos”, da Marcela Tais, tem falado muito comigo. Além do ritmo gostoso e a voz doce e suave, todo o conceito do dever de nos importarmos um com o outro sem apontar o dedo, reclamar da personalidade ou julgar suas crenças, é algo que tem me movido. Clichê? Não sei. Só sei que me toca. (Lana Carvalho)
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