“Bad Romance”, da Lady Gaga. “Don’t Stop Believin’”, do Journey. “California Gurls”, da Katy Perry.
Lamentamos muito se você acabar passando o resto da vida com os versos “Just a small town girl / living in a lonely world” ou “Ra ra ah-ah-ah / Ro ma ro-mah-mah” se repetindo eternamente na sua cabeça. Mas saiba que você não está sozinho. Os psicólogos que estão tentando entender o motivo de certas músicas grudarem na cabeça descobriram que esses três hits são os campeões de reclamação entre aquilo que se chama popularmente, em inglês, de “earworms” [literalmente “vermes (ou minhocas) de orelha”, expressão que descreve músicas que grudam na cabeça].
E todas elas têm uma coisa em comum, segundo a psicóloga musical Kelly Jakubowski, que liderou a equipe de um estudo publicado na quinta-feira no periódico Psychology of Aesthetics, Creativity and the Arts.
“Há certas características de uma melodia que aumentam as chances que a música tem de grudar”, ela explicou. Após conduzir uma análise estatística de milhares de formulários preenchidos online sobre músicas grudentas, ela e seus colegas descobriram que as músicas mais persistentes são aquelas com um ritmo agitado e uma melodia familiar, que se destacam por um padrão específico de intervalos.
“Gaga ooh-la-la / Want your bad romance”. E lá vamos nós de novo.
Jakubowski, que conduziu a pesquisa na Goldsmiths University of London, diz que esse é o primeiro estudo em larga escala já conduzido para analisar o que é o que faz com que uma música grude na cabeça. As descobertas confirmam a crença de que as canções populares que mais tocam nas rádios têm mais chances de serem descritas como grudentas. Mas elas também sugerem que certas características melódicas fazem com que alguns hits do Top 40 sejam mais inescapáveis do que outros.
O andamento da música tem um papel imenso nisso: as mais rápidas têm mais chances de começarem a tocar de repente dentro da sua cabeça em momentos inoportunos e são mais difíceis de tirar depois que aparecem.
“Isso pode ter a ver com a ideia de que somos propensos a nos mexermos no ritmo das músicas”, disse Jakubowski. “Muitas pessoas têm a experiência da música que gruda quando saem para correr ou quando estão escovando os dentes”.
Essas músicas também têm estruturas simples, com as quais já estamos familiarizados. Por exemplo, “Brilha, brilha, estrelinha” começa grave, depois sobe e, por fim, se resolve de volta com uma nota grave – um padrão bastante comum para melodias.
Mas elas também precisam ter algo que as diferencie. “Elas precisam de algum tipo de padrão único de intervalos dentro da melodia que as distingua das outras músicas pop”, disse Jakubowski. O ritmo incomum, pipocado, dos riffs instrumentais de “My Sharona”, do The Knack, e “In the Mood”, de Glenn Miller, ambos demonstram isso.
“É como se o cérebro estivesse procurando pelo nível ideal de complexidade na melodia”, disse Jakubowski. “Ela precisa ser interessante, mas não pode ser complicada demais para o cérebro lembrar”.
A pesquisa dá prosseguimento a um estudo de 2014 em que Jakubowski perguntou aos participantes quais eram suas estratégias para se livrar de músicas que grudam. Alguns disseram que costumam tentar se distrair ouvindo uma outra música no lugar (a música de “cura” mais listada foi o hino nacional britânico “God Save the Queen”, mas, para os antimonarquistas, também serve “My Country, ’Tis of Thee”, que tem a mesma melodia).
Outros acreditam que o melhor seja colocar para tocar a própria música grudenta mesmo, como um tipo musical de terapia de exposição. Muitas vezes, as partes que tocam na cabeça das pessoas são os refrões das músicas ou outras partes mais pegajosas: é possível que o efeito do “grude” surja de não saber como a música termina.
“Se eles forem atrás da música e a ouvirem inteira, procurando esse sentimento de desfecho, pode-se colocar um fim a essa experiência da música que gruda”, disse Jakubowski. “Talvez seja uma questão de irresolução com a música, e é possível, então, colocar um desfecho nisso desse jeito”.
Mas toda essa pesquisa é apenas preliminar. Jakubowski e seus colegas do Earworm Project da Goldsmith esperam poder começar a testar em breve suas descobertas no laboratório, onde poderão conectar os voluntários a máquinas de ressonância magnética e registar como eles respondem a músicas elaboradas especialmente para terem esse efeito em particular.
É possível que os resultados permitam mais do que arranjar uma cura para as pobres almas condenadas a seguir sua vida ao som ininterrupto de “Don’t stop believin’”. Jakubowski disse que as músicas que grudam são uma forma intrigante de pensamento espontâneo – essas noções que surgem nos nossos cérebros independentemente da tarefa que estamos fazendo.
“As pessoas andam por aí com a música na cabeça”, diz ela. Compreender o porquê disso poderia ajudar os cientistas a compreender aonde vai a mente quando deixamos que ela divague.
Sarah Kaplan é reporter do caderno Speaking for Science do Washington Post.
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