Querendo ou não, nacionalmente, o funk é um fenômeno oscilante. Mas também é inegável que no Rio de Janeiro, em bailes de favela e nos morros, ele está presente diariamente: com sua linguagem agressiva e MCs que despejam verdades que a sociedade tradicional se nega a expor, ele é a trilha sonora de um Rio de Janeiro imerso em contradições. Mesmo que muitos ainda o estigmatizem, como música de baixa qualidade, não podemos negar que se trata de uma manifestação cultural legítima.
“Não é um estilo musical muito veiculado pelas grandes gravadoras; só chega a ser aceito quando já está estourado em território nacional”, analisa Silvio Essinger, autor de “Batidão: uma história do funk”, que revela bastidores, origens e histórias de artistas do funk carioca, para ele o movimento musical mais democrático e popular surgido nos últimos anos no Brasil.
O fenômeno Anitta
Responsável pelo último grande boom do gênero, Anitta, que se apresenta em Curitiba neste sábado (27) no Live Curitiba, vem quebrando paradigmas: recentemente o apresentador William Waack lançou uma coleção de ironias contra a cantora após sua apresentação na abertura das Olimpíadas.
“Ela ficou marcada por ter surgido em um gênero que o grande público associa à sexualização exacerbada e à falta de refinamento. O que significa que, por mais que ela faça produtos de qualidade, como o programa Música Boa, que ela faz muito bem, dificilmente os chamados formadores de opinião vão batalhar para que seja aceita na MPB. Uma pena, porque há muito tempo uma artista pop não aparecia no Brasil com tanta força”, diz Essinger, que crê que apresentação de Anitta ao lado de nomes como Gilberto Gil e Caetano Veloso significa o surgimento de uma artista que representa o país sem ter que recorrer aos estereótipos brasileiros.
“Anitta não é só uma funkeira ou uma artista bem integrada ao pop internacional: é uma cantora de música popular brasileira. E muita gente vê isso como uma aberração”.
Eu vou continuar te provocando
A cantora prefere deixar polêmicas de lado e focar na música. “O que importa é que eu estava ao lado de dois grandes ídolos. Jamais imaginei que isso aconteceria, não poderia ter sido mais especial”, diz.
Repercussão global, porém, não é algo novo para Anitta. Ela já foi apresentada em Cannes, fez turnês no exterior e apresentou o Grammy Latino. A consolidação da carreira internacional é algo natural, o que já é sentido no direcionamento de seu próprio trabalho: “Zen” foi gravada em espanhol, enquanto o vídeo de “Sim ou Não”, gravado no México e dirigido por Jessy Terrero, quebrou o recorde de visualizações em 24h na América Latina.
Sábado (27), às 0h, no Live Curitiba (R. Itajubá, 143). Ingressos de R$ 60 a R$ 200. Mais informações no Guia.
“É uma realidade que estou buscando aos poucos. Mas quero fazer tudo com muita calma, passo a passo. É natural que as pessoas criem uma expectativa por causa do tamanho da minha carreira aqui no Brasil, mas tudo tem sua hora”, pondera.
Ainda sobre “Sim ou Não”, resultado da parceria com o colombiano Maluma, um dos principais expoentes do reggaeton, Anitta insere novos elementos em seu trabalho, provando sua versatilidade. “Sempre fui uma pessoa que ouviu e gostou de tudo. Já cantava um pouco de outros ritmos nos meus shows, mas faltava mostrar esse lado eclético oficialmente para o público”, reflete. “Fiz isso no álbum ‘Bang’, que tem referências de vários ritmos como hip hop, samba, MPB... Sempre quis poder cantar de tudo e estou muito feliz por poder viver isso”, completa.
Embora enfrente resistências internas, o talento da cantora já extrapolou o país: recentemente o jornal New York Times a comparou a Beyoncé – nós achamos Anitta melhor, claro. “Fico muito feliz com essas comparações”, brinca. “Não foi a primeira vez que um veículo internacional falou do meu trabalho, mas sei que não é de um dia para o outro que todos vão me conhecer. Adoro a Beyoncé, acho uma artista incrível, autêntica e fiquei muito honrada com a comparação”, conclui.
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