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Thom Yorke: choramingo constante | Albert Olivé
Thom Yorke: choramingo constante| Foto: Albert Olivé

Radiohead tem transformado paranoia em perfume por tanto tempo que não há razão para se preocupar se você tiver se tornado habituado ao cheiro. O nono álbum do grupo, “A Moon Shaped Pool”, é só mais um mergulho em melancolia distópica, outro exercício em ansiedade esteticizada.

Após duas décadas profetizando lindamente o fim, a banda nunca pareceu mais confortável em seu desconforto do que parece agora. As canções mais estimulantes do Radiohead sempre pareceram um alerta contra quaisquer energias sinistras que pareciam estar se avolumando no horizonte – opressão tecnológica, controle da mente pelas grandes corporações, guerra perpétua – mas agora o grupo soa derrotado, esvaziado e entediado com sua própria angústia.

Esse é um álbum esguio, largamente extirpado do rico tecido eletrônico que torna os melhores álbuns do Radiohead dignos de serem absorvidos em fones de ouvido caros. Ao invés disso, a banda faz seu trabalho mais sério com pianos, violões e a ajuda da Orquestra Contemporânea de Londres.

O efeito cumulativo parece não acabado. Guitarras são tocadas apenas gentilmente, mesmo quando são tocadas velozmente, como durante o taco de golfe motorizado que é “Ful Stop”, ou o clique claque espartano de “Identikit”. As texturas sintetizadas soam humildes, até mesmo pedestres.

E, como sempre, o choramingo de Thom Yorke permanece sendo a constante sonora da banda. Mas quando ele canta sobre “um ataque de pânico voando baixo” por sobre o pizzicato impaciente de “Burn the Witch”, ele apenas cultiva o estupor que parece estar atacando.

Autoparódia

Outra cantilena sobre nosso apocalipse ambiental iminente (“The Numbers”) e a monotonia da vida de escritório (“Daydreaming”) quase beiram a autoparódia. Talvez Yorke esteja ciente disso? Durante uma canção particularmente má cozida chamada “Decks Dark”, ele canta: “esse pavor ainda nos cobre/você deve estar brincando comigo”.

Muitas dessas canções têm feito barulho no repertório ao vivo do Radiohead há anos. A balada que encerra o álbum, “True Love Waits”, apareceu pela primeira vez há mais de duas décadas. Então, em muitos sentidos, “A Moon Shaped Pool” parece simplesmente uma limpeza de armário – uma que sugere que o tédio do Radiohead em relação ao mundo tem sido há muito tempo uma configuração padrão em vez de uma resposta engajada ao presente.

Isso é problemático. Sim, nossos medos coletivos continuam a parecer exponenciais nesse século jovem e aqui há uma banda que ainda consegue transmutá-los em canções de rock semiprofundas e excessivamente bonitinhas. Mas essas canções costumavam parecer alarmes para que acordássemos. Agora, elas soam como canções de ninar das quais não nos lembraremos.

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