Desde que foi flagrado deixando um ensaio do AC/DC no final de março, levantando especulações de que substituiria o vocalista Brian Johnson no grupo, Axl Rose virou alvo fácil. O longo histórico de polêmicas do cantor do Guns N’ Roses deu munição para críticos e fãs – normalmente intransigentes quando se trata de mexer com instituições do rock – refutarem a ideia: sua personalidade imprevisível e encrenqueira faria mal à banda; seu estilo vocal não combinaria com as músicas; a coisa toda não foi legal com Johnson, que cantava no AC/DC desde 1980, etc. Até Noel Gallagher, uma das figuras mais fanfarronas da música, se viu no direito de se comover: “É simplesmente errado”, disse.
O anúncio oficial de fato acabou irritando muita gente. Parte significativa do público que já havia comprado ingressos para os shows da turnê europeia, que vai até 12 de junho, pediu reembolso (foram 7 mil devoluções só na Bélgica, diz o “NME”).
Prova de fogo
Axl, no entanto, aparentemente virou o jogo em sua primeira apresentação com o AC/DC, que aconteceu neste sábado (7), no Passeio Marítimo de Algés, em Portugal. Pontual, com um pé quebrado, uma performance comedida e um discurso reverente ao AC/DC e a Johnson, o cantor parece ter feito tudo certo.
As resenhas do show na imprensa portuguesa foram predominantemente positivas. O “Público” disse que Axl esteve “seguríssimo no seu papel, tecnicamente inatacável”, e destacou a recepção positiva que o público de cerca de 50 mil pessoas reservou para a banda. Alguns depoimentos foram gravados e divulgados pelo próprio grupo em sua página no Facebook. “A gente não sabia o que esperar, mas foi ótimo”, disse uma fã. “Obrigado aos fãs que não quiseram vir – nós conseguimos os ingressos e foi maravilhoso”, espetou outro.
Michael Hann, do “Guardian” – um dos vários veículos de comunicação de fora de Portugal convidados pela própria banda para conferir a prova de fogo do novo vocalista – argumentou que o estilo de Axl se encaixou perfeitamente com as canções da era Bon Scott (vocalista do AC/DC morto em 1980). O jornalista havia defendido que a banda australiana – depois de uma sucessão de perdas que inclui a aposentadoria de Malcolm Young por demência em 2014 e a prisão do baterista Phil Rudd no ano passado – deveria parar. Catherine Gee, do Telegraph, agradeceu aos deuses do rock. “Rose foi certeiro naqueles vocais”, escreveu. Para Mark Sutherland, da “Rolling Stone”, Axl honrou o som do AC/DC e “triunfou”.
Turnê
10/5 – Sevilha, Espanha
13/5 – Marselha, França
16/5 – Werchter, Bélgica
19/5 – Viena, Áustria
22/5 – Praga, República Tcheca
26/5 – Hamburgo, Alemanha
29/5 – Berna, Suíça
1.º/6– Leipzig, Alemanha
4/6 – Londres, Inglaterra
9/6 – Manchester, Inglaterra
12/6 – Aarhus, Dinamarca
Futuro
Em entrevista ao “NME” publicada no dia 6, Axl e o AC/DC evitaram falar sobre o que deve acontecer depois da turnê, que ainda tem dez datas a serem anunciadas nos EUA. Sobre uma possível volta de Johnson, Angus Young disse apenas que o cantor precisava ser cauteloso com a audição que lhe sobrou – decisão que considera compreensível.
Johnson, em comunicado divulgado em abril, diz que não se aposentou.
Especula-se que a agenda de Axl com o Guns N’ Roses deve dificultar que a parceria do cantor com o AC/DC vá além da “Rock or Bust Tour”, mas ainda não há respostas oficiais.
A principal pergunta que estava no ar, no entanto, parece ter sido respondida no sábado.
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