Foto pós-show ao lado de Jonny Wah Wah, da banda On Trial UK, um dos organizadores do evento| Foto: Gary Trueman/Divulgação

O editorial da revista que apresenta a vigésima edição do Rebéllion Festival – maior festival de punk rock do mundo, que aconteceu entre 3 e 6 de agosto, na cidade de Blackpool, Reino Unido – chegava a ser profético: ao apresentar as bandas que subiriam ao palco Rebellion Introducing, entre elas a curitibana Sem Futuro, terminava dizendo “Deem a elas muito suporte, elas são o futuro”. Nada mau para quem desdenha do futuro até no nome. Depois do show da única representante brasileira no festival, uma lenda repetiu essas palavras, transformando o imponderável em realidade.

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Muito antes, no entanto, de escrever seu nome na história do festival, a banda saiu da capital paranaense com a expectativa convulsionando as veias e com material suficiente na bagagem para inundar o Reino Unido.

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Com instrumentos comprados lá para despistar as autoridades - optaram pelo visto de turista em vez do de trabalho -, a primeira parada foi no Hop Blackpool, um pub que acabou abrigando uma apresentação não programada da banda – e cujo registro será lançado em breve. O aquecimento impregnou os músicos do incêndio interior necessário para o palco do Rebellion.

Bebês de moicano

A cidade transpirava punk rock. De bebês de moicano a punks de bengala, todos transitavam por uma Blackpool que aprendeu a pulsar no ritmo dos três acordes. Até mesmo as rígidas leis britânicas relativas ao consumo de bebidas alcoólicas nas ruas foram suspensas durante o festival. A organização e a atmosfera de harmonia – até mesmo entre punks e skinheads – surpreendeu quem estava habituado a turbulências brasileiras.

“Eu já estive em muitos festivais grandes mas em nenhum me senti tão seguro”, diz Tiagonha, guitarrista da banda. O vocalista Minhoca completa dizendo que “eles sabem que se acontecesse uma confusão ela poderia tomar proporções incontroláveis. Manter a tranquilidade ali é uma forma de proteger o próprio festival para que continue ocorrendo nos próximos anos”, diz.

”Não entendemos nada, mas vocês são demais!”

O show em si respeitou a pontualidade britânica. Às 5h45 da tarde de sábado, a banda destilava seu repertório para uma plateia lotada conquistada com muita panfletagem no dia anterior. Ingleses intrigados com as letras repetiam: “What f**k man, we didn’t understand any word but you are great” (Mas que p***a, cara, nós não entendemos uma única palavra, mas vocês são demais). Entre os impressionados estava Jeff Turner, lenda do Cocney Rejects, que coroou a noite com a frase: “You are brilhant! You are the punk future! (Vocês são brilhantes! Vocês são o futuro do punk!)

Com a benção do mestre, já era possível decretar missão cumprida. Houve ainda um terceiro show agendado em um pub local, mas as condições etílicas deixaram o relato bastante breve, então, respeitando a máxima “o que acontece na estrada fica na estrada”, apenas Blackpool vai lembrar essa história.

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Rádio alemã

Outro momento marcante da passagem curitibana por terras anglo-saxônicas está relacionada a um kebab. Em um dos poucos momentos em que a banda optava por deixar as Guinness de lado e comer algo sólido, um encontro inesperado aumentou a amplitude da Sem Futuro. Felpas, baixista, lembra que “estavam comendo um kebab enquanto um alemão repleto de bótons no chapéu entrou no restaurante e Lalau, baterista, ofereceu-lhe um novo bóton (e um CD da banda). No dia seguinte a nossa música estava tocando em uma rádio alemã e esse senhor passou a acompanhar nossos shows”, se diverte.

Conscientes do papel que desempenharam, Minhoca lembra “que essa experiência abre portas para ensinar o caminho das pedras para outras bandas de Curitiba que queiram se aventurar lá fora, agora temos como orientar a galera”, Lalau completa observando que “não nos vemos como pioneiros mas ajudamos a criar esse espaço, quem leva as coisas com seriedade sempre vai ter seu lugar”, afirma.