Bob Dylan não irá buscar seu Prêmio Nobel de Literatura em Estocolmo, em dezembro, por conta de “outros compromissos”, informou nesta quarta-feira (16) a Academia Sueca após receber uma carta do cantor e poeta americano.
O cantor e compositor americano escreveu à instituição para comunicar sua decisão de uma forma que deixa a porta aberta a todas as interpretações.
“Ele gostaria de poder receber o prêmio em pessoa, mas outros compromissos tornam isso impossível, infelizmente. Ele ressaltou que se sente extremamente honrado por este prêmio Nobel”, escreveu a Academia em um comunicado.
A natureza destes compromissos é um mistério. E o repúdio representa uma guinada com relação a suas declarações ao jornal britânico Daily Telegraph no fim de outubro, quando planejava comparecer. “Certamente, se for possível”, afirmou na ocasião.
Os vencedores do Prêmio Nobel são homenageados no dia 10 de dezembro, data de aniversário da morte de seu criador, o industrial, inventor e filantropo Alfred Nobel.
Nesse dia, os escolhidos de Medicina, Física, Química, Literatura e Economia recebem seus prêmios das mãos do rei da Suécia e fazem um discurso em um banquete diante de 1.300 convidados.
“A Academia Sueca respeita a decisão de Bob Dylan. Um vencedor do Prêmio Nobel não poder vir a Estocolmo para receber o prêmio é pouco habitual, mas não excepcional”, indicou a instituição.
Recusa
Até agora, só o filósofo francês Jean-Paul Sartre rejeitou o Prêmio Nobel de Literatura, em 1964. Embora tenha renunciado às 273.000 coroas suecas que acompanhavam o prêmio na ocasião, seu nome continua constando entre os contemplados.
A instituição citou o caso dos escritores Doris Lessing e Harold Pinter, que não viajaram por conta de sua saúde frágil, e Elfriede Jeline, devido à sua agorafobia (distúrbio de ansiedade que, na maioria das vezes, está associado a crises de pânico).
Discurso pendente
A secretaria perpétua do Nobel, Sara Danius, lembrou o vencimento próximo. Bob Dylan tem seis meses, segundo os estatutos do prêmio, para enviar um discurso de agradecimento à honraria da forma que quiser.
Se ele o fará? “Não sabemos nada ainda”, disse Danius à agência de notícias TT.
O que está em jogo é um cheque de oito milhões de coroas suecas (quase três milhões de reais), do qual o artista não precisa, em vista de seu retumbante sucesso. A revista especializada Forbes escreveu em outubro que, embora sua fortuna seja impossível de calcular, as poucas cifras disponíveis sobre seus ganhos levam a crer que ele leva a vida muito comodamente.
A Academia Sueca e a Fundação Nobel nunca tinham sido confrontadas com uma situação como esta. Interrogada sobre o destino do cheque, caso Bob Dylan não escreva nada, Danius respondeu: “Isso não posso dizer”.
Desde o princípio, Bob Dylan mostrou-se um premiado um tanto peculiar, ao se negar a atender aos telefonemas do jurado que queria falar com ele. Deixou que seus colaboradores o fizessem.
Em 13 de outubro, quando foi anunciado como ganhador, Dylan fez um show em Las Vegas, mas não falou nada a respeito e apenas cantou sem se comunicar com o público.
Bob Dylan, cujo nome de batismo é Robert Allen Zimmerman, é, aos 75 anos, um dos cantores e compositores mais influentes da história da música.
Ele é o primeiro músico a conquistar a prestigiosa recompensa, apesar de os meios literários apostarem em autores como Salman Rushdie, Adonis ou Ngugi wa Thiong’o.
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