Alcione veste camisa com foto de Axl Rose, vocalista do Guns N’ Roses: amizade inusitada| Foto: /Reprodução

O que hoje conhecemos como música brasileira é fruto de um mix cultural difícil de ser mensurado: se uma de suas maiores influências foi a música africana, repleta de ritmos intensos e instrumentos rudimentares, foi apenas quando ela entrou em contato com elementos trazidos pelos colonizadores é que uma identidade nacional começou a ser formada. Desde então, séculos se passaram e canções e melodias foram difundidas em uma tentativa de aprofundar o diálogo, atingindo cada vez mais um público maior.

CARREGANDO :)

Hoje, já parte do imaginário social, a música é indissociável do nosso cotidiano e nos vemos representados por artistas que reproduzem ou ditam comportamentos. Pensando nisso, selecionamos 19 momentos envolvendo nomes da música nacional, que senão merecem ser exaltados como fundamentais para a produção cultural brasileira, ao menos podem refletir através de personagens e fatos inusitados recortes da sociedade em determinados momentos da história. Confira:

Publicidade

Alcione homenageando Axl Rose

Talvez um dos acontecimentos mais inusitados da música brasileira tenha sido o encontro da cantora Alcione e de Axl Rose, vocalista do Guns N’ Roses. Em 2014, a “marrom”, como é chamada pelos seus fãs, deu início a uma belíssima amizade com o músico norte-americano, durante passagem da banda pelo Brasil. O cantor chegou a divulgar em seu Twitter uma imagem ao lado de Alcione – a cantora replicou a imagem no Instagram, levando a internet à loucura. “Hoje eu ganhei meu dia! Encontrei meu ídolo AXL ROSE! Abracei, beijei, cheirei, fiz tudo que tinha direito!”, dizia o post dela. Axl, claro, retribuiu o agradecimento com, que culminou em um convite para Alcione acompanhar um dos shows do Guns N’ Roses, neste ano. Tudo registrado por Alcione nas redes sociais.

Alexandre Pires chorando no encontro com George Bush

Apesar de ter pouco a ver com a comunidade hispânica residente nos Estados Unidos, em 2003, Alexandre Pires foi convidado para cantar em uma cerimônia na Casa Branca, em Washington (DC). À época, o presidente era George W. Bush, que acabara de desencadear uma guerra contra o Iraque e tinha a aprovação de 35% da comunidade latina no país. Mesmo neste contexto, Pires cantou “Garota de Ipanema” ao violão, e recebeu elogios de Bush, que arriscou curtas frases em espanhol com o ex-vocalista do Só Pra Contrariar, como “mi casa es su casa”. Emocionado, o pagodeiro chorou e foi consolado pelo presidente norte-americano em uma cena histórica.

Caetano e David Byrne no VMB

Ainda na época áurea da MTV Brasil, o VMB tinha sua relevância dentre as premiações de música e todas as apresentações internacionais geravam expectativa. Em 2004, Caetano Veloso subiu ao palco junto a David Byrne, líder do grupo Talking Heads. Convidados para cantar “Nothing But Flowers”, hit da banda, os dois enfrentaram problemas técnicos não uma, mas três vezes logo na abertura. Possesso, Caetano falou uma das frases que se tornaram icônicas no canal: “Emetevê, bota essa p* pra funcionar!”. A transmissão foi cortada no mesmo momento, mas posteriormente o episódio foi tratado com irreverência e bom humor pelos VJs da MTV. Anos mais tarde, Zico Goes, então diretor de programação da emissora, em seu livro “MTV Bota Essa P#&* Pra Funcionar”, contou detalhes da história. “Um roadie da banda do Caetano Veloso abriu um microfone no backstage [bastidores]. Esse cara era da equipe do Caetano, mas ele estava sob as nossas orientações e saiu do nosso controle, a gente não vigiou esse cara”, revelou.

Carlinhos Brown levando garrafada

Carlinhos Brown ganhou um “presente de grego” na edição de 2001 do Rock In Rio, quando foi escalado para o festival antes de Oasis e Guns N’ Roses, duas das atrações mais aguardadas do evento. Não deu outra: vaiado, o músico tentou partir para o meio da galera durante a apresentação e levou uma chuva de garrafas e latas, eternizadas como um dos momentos mais marcantes do festival. “Não guardo nenhuma chateação, de forma alguma. Era necessário acontecer. Quem ganhou com isso foi o Rock in Rio, o próprio festival se adequou. Foi bom pra mim, inclusive, que fiquei conhecido no mundo inteiro”, disse Brown, em entrevista ao site oficial do Rock In Rio. “Hoje, com a internet, é como se você recebesse garrafada todo dia”, despistou.

Publicidade

Cascavelletes no “Clube da Criança”

Que a televisão brasileira não era um primor de bom senso na década de 80, todos sabemos. Mas a participação do Cascavelletes no “Clube da Criança”, da Manchete, extrapolou alguns limites. Sob a singela presença Angélica, a banda gaúcha cantou seu maior sucesso na época, “Eu Quis Comer Você”. Um pouco surpresa, a loira reagiu com um contido “Olha só! Que barato...”. Mas a melhor parte, claro, são as crianças acompanhando o refrão enquanto batem palmas.

Chorão brigando com Marcelo Camelo

A “rivalidade” entre Charlie Brown Jr. e Los Hermanos atingiu seu ápice em meados dos anos 2000, quando os músicos Chorão e Marcelo Camelo se atracaram no aeroporto de Fortaleza (CE). Segundo relatos do próprio Chorão à TV Cultura, a confusão toda teve início quando Camelo criticou a participação da banda em um comercial da Coca-Cola e externou isso em uma entrevista para o Jornal do Brasil. “Essa coisa ‘do amor’ que ele prega é fake”, desabafou o músico. Quando se encontraram, Chorão não perdoou: deixou Camelo com o olho roxo após uma cabeçada. Ao músico do Los Hermanos restou processar o vocalista do Charlie Brown Jr, morto em 2013.

Muitas brigas e polêmicas marcaram a vida de Chorão

Depressão de Arnaldo Baptista

Arnaldo Baptista criou Os Mutantes, ao lado da cantora Rita Lee e de seu irmão caçula, o guitarrista Sérgio. O ápice do sucesso aconteceu na década de 60, porém, aos poucos Arnaldo foi perdendo a lucidez. O próprio cantor relata um fato como determinante para entrar em depressão: a perda da então mulher, a própria Rita, que deixou a banda e o casamento em 1972. Tudo isso somado ao consumo desenfreado de drogas fez com que Arnaldo perdesse o foco: em 31 de dezembro de 1981, internado na ala psiquiátrica do Hospital do Servidor Público, ele atirou-se da janela do 4º andar do prédio. Pouco tempo antes, ele havia concluído as gravações de Singin’ Alone, seu segundo álbum-solo, que só chegaria ao mercado em meados de 1982 – o álbum, considerado um dos mais sombrios do tropicalismo, seria relançado em 2013.

Dinho Ouro Preto caindo do palco

Um acidente que mexeu com as estruturas de quem é fã do rock nacional, a queda de Dinho Ouro Preto de uma altura de mais de 3 metros gerou ao músico diversos transtornos. Em 2009, durante um show na cidade de Patos de Minas (MG), o vocalista do Capital Inicial acabou caindo do palco, chegando a ser internado na UTI com traumatismo craniano e dois coágulos no cérebro. O acidente deixou o Capital Inicial inativo por algum tempo, mas foi ainda pior para Dinho. “Com o acidente, perdi meu olfato e parte do paladar”, lamentou ele, em entrevista. “Me engano com os cheiros também. Sinto cheiro de plástico queimado às vezes. (Uma vez) perguntei para os meus amigos o que era aquele cheiro e me disseram ser apenas o de dama-da-noite”.

Publicidade

Vocalista do Capital Inicial cai de palco durante show

Ed Motta metendo o pau em brasileiro

Usuário frequente das redes sociais, em 2015, Ed Motta desabafou no Facebook que se incomodava – e muito – com parte do público que ia acompanhar seus shows na Europa, onde o músico divulgaria seu disco mais recente, “AOR”. Não deu outra: após dizer que nordestinos sofriam de “coitadismo” e chamar Caetano Veloso de “puxa saco corporativista”, Ed avisou, através de um “textão” ácido, que não falaria português em seu show e muito menos tocaria “Manuel”, seu hit dos anos 90. “Não é possível que o imigrante brasileiro não saiba um básico de inglês”, disse o cantor, que dias depois se retratou e cantou “Manuel” em uma apresentação bem humorada em São Paulo, onde incentivou que todos gravassem um vídeo seu utilizando um relógio branco, peça de vestuário duramente criticada pelo músico na rede social.

Ed Motta aparece em comercial cantando em norueguês

Entrevista de Rodrigo Amarante

Provavelmente o primeiro grande “meme” da história do jornalismo tupiniquim. Rodrigo Amarante, força motriz que dividia a autoria das canções do Los Hermanos com Marcelo Camelo, deu uma entrevista em que sintetizava todo seu pensamento sobre a mídia musical, após uma pergunta sobre o suposto incômodo que o hit “Anna Julia”, gravado à época que a banda era produzida por Rick Bonadio, causava quando os fãs a pediam em shows. “É muito comum, hoje em dia, a polêmica ser a tônica do jornalismo, como se o papel do jornalista fosse descobrir um ponto fraco”, respondeu Amarante ao jornalista. “Esse tipo de pergunta leviana, sem profundidade, acaba levando as pessoas a ter uma impressão errada de que incomoda a gente ‘Anna Julia’”.

“Fim” da dupla Zezé Di Camargo & Luciano

Uma discussão momentos antes de um show na capital paranaense quase pôs fim a parceria entre os irmãos Zezé di Camargo e Luciano. Em um Teatro Guaíra lotado, o público que esperava ver a dupla foi surpreendida no início do show: apenas Zezé di Camargo subiu ao palco e logo desabafou: “Depois de 20 anos de carreira estou no palco sozinho, sem meu irmão. Já aconteceu isso uma vez, mas hoje pela segunda vez está acontecendo. Teve um probleminha no camarim. Meu irmão foi embora. Depois a gente resolve o resto, mas o importante hoje é que eu estou aqui e respeito muito todos vocês”. Ele deu início a apresentação, porém, aproximadamente 30 minutos depois Luciano apareceu. “Não era para eu estar aqui agora. Até o final do ano vou cumprir todos meus compromissos. Mas o ano que vem o meu irmão vai continuar a carreira sozinho”. Dias depois, em entrevista no Programa do Jô, Luciano explicou o que teria ocorrido. “Na verdade tenho certa dificuldade para urinar, tenho retenção de líquido. Tomo um diurético duas vezes por mês. Aí eu já estava pra lá de Bagdá e resolvi tomar um porre. Como não bebo, abri umas garrafinhas, tomei uísque e um Rivotril para dormir”, disse o cantor.

Publicidade

Dupla Zezé Di Camargo e Luciano anuncia o fim em Curitiba

Lobão cheirando cocaína no caixão de um amigo

O cantor e escritor Lobão, ao longo dos anos, se tornou famoso por suas declarações ousadas, desde pedir voto para Luiz Inácio Lula da Silva, em 1989, em pleno Programa do Faustão, a até mesmo a famigerada briga de anos com Caetano Veloso, eternizada na canção “Lobão Tem Razão”. Outro episódio inacreditável, descrito pelo músico na biografia “Cem Anos a Mil”, foi o velório do poeta Julio Barroso, amigo pessoal de Lobão e Cazuza, falecido em 1984. Como uma forma de prestar homenagem ao amigo, os dois cheiraram, cada um, uma carreira de cocaína sobre o tampo do caixão, conforme conta o músico na própria biografia.

Participação de Tico Santa Cruz em “A Fazenda”

Na terceira edição de “A Fazenda” (2010), um dos integrantes era ninguém menos que Tico Santa Cruz, vocalista do Detonautas Roque Clube e, atualmente, ativista virtual. Durante uma discussão no programa, Tico quase chegou às vias de fato com o ator Dudu Pelizzari. “Judas, Judas, Judas. Você é um X-9”, entoou o músico após uma discussão iniciada por Sergio Mallandro, resultante de uma prova da competição. A discussão entre os dois durou 13 minutos e se tornou um dos momentos mais memoráveis de todas as edições do programa, rendendo tweets raivosos posteriores de Tico, que foi eliminado do programa pouco após o entrevero e chegou a compor um funk hostilizando Dudu.

Paulo Coelho e Raul Seixas contemplando um disco voador

É inegável que a parceria entre Paulo Coelho e Raul Seixas impulsionou ambos criativamente. E, claro, tudo começou com um disco-voador. “Conheci o Paulo na Barra da Tijuca, em um dia que estava lá. Às cinco horas da tarde eu estava lá meditando. Paulo também meditava, mas eu não o conhecia. Foi o dia que nós vimos um disco voador”, disse Raul em entrevista ao Pasquim em 1973. “Cinco horas da tarde. Então eu vi. Enorme, rapaz, um negócio muito bonito. Inclusive os jornais levaram a coisa para o lado sensacionalista: o cara viu o disco voador. “O profeta do apocalipse.” Eu dei muita risada com isso. Mas não foi nada, foi um disco muito bonito”, completou Raul.

Racionais no VMB

A quarta edição do VMB, em 1998, também não passou despercebida da nossa lista. Recebendo o prêmio de escolha da audiência pelo clipe “Diário de Um Detento”, o Racionais MC’s escolheu KL Jay para fazer um discurso na entrega do prêmio, exaltando a comunidade de periferia do país e todos os negros que vieram da África para o Brasil. O que gerou estranheza, no entanto, foi que Carlinhos Brown, escolhido para ser o apresentador da noite, resolveu interromper o discurso de forma energética para cantar no ouvido de KL Jay. Após a intervenção, o integrante do grupo retomou o discurso, mas há quem diga que Carlinhos e Mano Brown tiveram mais desentendimentos nos bastidores após o ocorrido, interpretado como um desrespeito do músico.

Publicidade

Roberto Carlos censura biografia

Famoso pelas crenças e obsessões com cores, Roberto Carlos também é um notório defensor da história. Bom, pelo menos do ponto de vista dele: em 2007 o cantor de “Detalhes” moveu um processo contra o escritor Paulo César de Araújo, que publicou uma biografia do Rei sem autorização. O feito de Roberto Carlos reverberou por anos e teve conclusão em 2015, a partir de decisão do STF, que derrubou por unanimidade a necessidade de autorização prévia para a publicação de biografias – posteriormente o cantor se declarou feliz com a decisão. Quanto ao livro de Paulo César, este talvez jamais ganhe nova edição, pois Roberto fez um acordo com a editora que detém os direitos da publicação.

Roberto Carlos ganha na Justiça direito de tirar biografia do mercado

Sertanejo Hudson e sua coleção de armas

O cantor sertanejo Udson Cadorini Silva, da dupla Edson & Hudson, foi preso em flagrante o início de 2013 por porte ilegal de arma. Ele foi pego com uma pistola 380 e um revólver calibre 38, ambos municiados com quatro balas. O cantor não tinha permissão para carregá-las em vias públicas. “Saí para buscar meu carro que estava com a minha filha. Ia sair com a BMW, mas peguei a caminhonete e esqueci que as armas estavam no veículo. Então a polícia me parou e achou as armas”, disse o cantor. “Eu não tenho armas para atirar em pessoas. Apenas sou colecionador”, completou. Hudson havia sido denunciado pelo então marido de sua ex-esposa de Hudson. Assustado, ele teria acionado a Polícia Militar após ver um SMS no celular da esposa, em que o cantor afirmava que passaria na residência do casal: “Sei que ele anda armado e achei que iria arrumar confusão”.

Cantor Hudson é preso por porte ilegal de arma

Vanusa cantando hino nacional

Quase ninguém presente no Encontro Estadual de Agentes Públicos, na Assembléia Legislativa de São Paulo, imaginasse que a cerimônia fosse gerar tanta repercussão. Não por causa do evento em si, mas pela interpretação do Hino Nacional na voz de Vanusa, cantora famosa pelo sucesso “Pra Nunca Mais Chorar”. Anestesiada por calmantes e lidando com uma labirintite, ela se perdeu no andamento e na letra; já o vídeo em si vale mais pelo semblante dos agentes públicos, incertos se tudo era ou não intencional. Mais tarde, Vanusa admitiu que teve 15 dias para decorar a letra e que estava muito nervosa, devido a uma agenda corrida de shows. “O artista, se for morrer, só pode morrer 10 minutos depois do show”, desabafou.

Publicidade

Vizinho de João Gilberto reclamando de seu apreço pela maconha

Segundo o jornalista e escritor Ruy Castro no livro “Chega de Saudade”, João Gilberto João passou boa parte da década de 50 sob a influência de maconha, a ponto do contemporâneo Carlinhos Lyra apelida-lo de Zé Maconha, tamanho o apreço do intérprete de “Desafinado” pela planta. O gosto de João pela erva voltou à tona em 2011, quando um vizinho acusou o músico de exagerar no consumo em seu apartamento. “Deve ter um mês mais ou menos que um morador foi até lá e bateu tanto [na porta] que quase pôs a porta abaixo! O problema é a maconha. Parece que ele fuma e o cheiro entra pela janela da casa do rapaz. Aí os dois ficaram se xingando”, contava uma vizinha anônima. Para o porteiro do prédio, João disse que faria o que lhe desse vontade em seu apartamento.