Clarice Falcão é problema dela mesma. “Não me leve a mal, mas você não me tem”, diz ela em “Problema Meu”, música homônima ao disco que apresenta no dia 24 em show na Ópera de Arame, em Curitiba. Assinantes da Gazeta têm desconto de 50% na compra do ingresso (confira o serviço completo no Guia Gazeta do Povo). Mas a recifense não faz o tipo autocentrada e elege uma série de outros problemas para chamar de seus. “Em primeiro lugar, a questão do feminismo, mas também são problemas meus a representatividade política das minorias, a homofobia, o racismo... Não sou protagonista de muitos deles, mas vou fazer o possível para que sejam discutidos”, afirma.
A artista, que viu a carreira ser catapultada muito graças ao YouTube, primeiro com a produção de um curta-metragem premiado, videoclipes divertidos e, depois, como parte do elenco do canal de humor Porta dos Fundos, é de fato muito identificada com a questão feminista, mas procura adotar uma postura bastante humilde, dando o lugar de fala a mulheres que vivem na pele preconceitos dos quais ela não tem conhecimento.
No caso do estupro coletivo de uma garota carioca de 16 anos, ela fez o mesmo em alguma medida, mas porque estava bastante abalada. “Esse caso me chocou muito e fiquei bem mal por vários dias. Preferi ficar quieta, digerindo e observando as reações. Fiquei impressionada com a quantidade de homens querendo ‘biscoitinho’ por não serem violentos. Não era o momento de quererem protagonismo. Senti até mesmo uma energia de flerte deles, querendo mostrar para as mulheres que eles são bons”, diz a cantora, que foi a alguns protestos que nomeavam a cultura do estupro.
Web fãs
Clarice transita muito bem pela internet. Em 2007, pediu à mãe, a roteirista Adriana Falcão, que fizesse um texto para um concurso de curtas do YouTube, o “Project: Direct”. Dirigido por Flávia Lacerda e com música da própria Clarice, acabaram ganhando, o que significou prêmio em dinheiro e exibição no Festival de Sundance. Depois de ter deixado o elenco fixo do Porta dos Fundos, onde estava desde 2012, ela continua ativa no Twitter e no Instagram, onde por vezes é alvo de ataques por seus posicionamentos, sobretudo políticos. Mas isso não é um peso, garante ela.
“Estou lá só quando estou a fim, não é um plano de carreira”, brinca. “Levar muito a sério seria perder a espontaneidade da coisa, que é algo que eu acho muito importante nessa relação direta com quem acompanha meu trabalho. Mas, às vezes, dependendo do meu estado de espírito, me pega muito mal e eu dou um tempo”.
O primeiro semestre Clarice dedicou à música, preparando o álbum e a turnê que tem rodado o Brasil. “Tenho tido muita saudade de atuar e de escrever”, afirma. A proximidade com os amigos do canal do YouTube, de onde saiu em novembro de 2015, segue forte e ela até fez algumas participações em vídeos neste ano. Mas escrever para esse veículo é algo no qual ela não aposta. “Tudo porque eu não levo muito jeito para escrever esquetes. Não tenho essa mão que eles têm. Quando tentei escrever um, fiz uma música (o vídeo “Essa é pra Você”, o terceiro mais visto do canal, com quase 21 mil visualizações) . A equipe de roteiristas é superfechadinha já, eles já fazem isso muito bem”, afirma.