Cerca de uma semana antes de sua morte, no último 10, David Bowie ligou para o produtor Tony Visconti dizendo que gostaria de fazer outro álbum depois de “Blackstar” – lançado em 8 de janeiro, seu aniversário de 69 anos.
“Eu estava muito animado e achava, assim como ele, que ele teria pelo menos mais alguns meses”, afirmou Visconti à revista “Rolling Stone”.
Segundo o produtor, Bowie sabia desde novembro que seu câncer no fígado era terminal. “Então acho que foi muito repentino. Não tenho certeza, mas ele deve ter adoecido muito rapidamente depois daquele telefonema.”
Doença
Visconti, que trabalha com o músico desde “Space Oddity” (1969), soube da doença há um ano, nas gravações de “Blackstar”, em Nova York.
“Ele veio da sessão de quimioterapia e não tinha sobrancelhas ou cabelo”, contou o produtor à revista. “Não tinha como esconder da banda, mas ele me contou em confidência e realmente me emocionei conversando com ele.”
O belga Ivo van Hove, diretor do musical “Lazarus”, com o qual Bowie colaborou, contou à holandesa NPO Radio 4 que o músico pediu segredo ao lhe falar do câncer, há pouco mais de um ano.
Ao “New York Times”, pessoas que atuaram ao lado do cantor disseram que ele trabalhou até o último minuto: no disco, nos clipes, na produção teatral -uma espécie de sequência de “O Homem que Caiu da Terra”, livro de Walter Tevis que inspirou o filme homônimo de 1976, com Bowie.
Últimos meses
Nos últimos meses, o cantor mantinha sua vida nos arredores de seu apartamento no sul de Manhattan.
Em fotos da estreia de “Lazarus”, no dia 7 de dezembro, o cantor dá sinais de que já não estava tão bem de saúde.
Mas o produtor do teatro, Robert Fox, afirmou ao “Guardian” que nunca ouviu reclamações de Bowie durante a produção. “Alguns dias ele não tinha disposição para trabalhar, mas, quando tinha, o câncer não interferia.”
Fox contou ao jornal britânico que o músico só falava da doença na medida em que ela poderia interferir em seu trabalho. “Mas acho que ele não imaginava que iria tão cedo. Ele tinha esperanças de que um tratamento faria efeito.”
Após a sessão de estreia do musical, Bowie teve de ser escoltado pelo diretor e por Iman, sua mulher. “De alguma maneira eu sabia que era a última vez que o veria”, disse Van Hove ao “Guardian”.
Johan Renck, diretor dos clipes do recente álbum de Bowie, relatou ao periódico que as gravações para os videoclipes de “Blackstar” e “Lazarus”, num estúdio do Brooklyn, duraram cinco horas cada uma, pois era tudo que a saúde do músico aguentava.
O diretor também contou que foi de Bowie a ideia de aparecer em “Lazarus” com a cabeça enfaixada e botões no lugar dos olhos. Ao fim do clipe, o personagem do cantor entra em um armário e fecha as portas. Uma referência irônica, disse Renck, tanto à sexualidade de Bowie quanto à morte iminente.
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