De Uber e Racionais a Michel Teló e Guns, uma noite no Country Festival

Um trio elétrico corta a multidão que se reúne na Arena Expotrade, em Pinhais. Mais de 50 mil pessoas passaram pelos shows do Country Festival, no último sábado (02), onde tocaram nomes como Michel Teló, Jorge & Mateus e até a funkeira Anitta.

No momento, é a vez da dupla Jeann & Julio, de cima de um caminhão, animar o público que está nas pistas comum e premium. Antenada aos gostos do público jovem, a dupla paranaense, de Londrina, termina o show dedilhando na guitarra os acordes de “Sweet Child O’ Mine”, do Guns’n’Roses. É o prenúncio de uma noite que já havia começado mais rock’n’roll que qualquer festival de música indie país afora.

Pouco antes da entrada do Festival, em meio a pessoas de botas, fivelas e calças de couro, dois taxistas partem para briga com um motorista do Uber. “Serviço ilegal. Vai para o inferno, aqui vocês não vão se criar”.

Mais adiante passa um carro rebaixado tocando “Racionais” no talo: “Conheço um cara que é da noite, da madrugada, que curte várias fitas, várias baladas”. Ele para próximo a uma pequena concentração, grita (“Bando de playboy desocupado”) e parte em disparada.

No portão principal, um cowboy urbano discute com um segurança sobre um iPhone perdido. Não se acalma até o aparelho reaparecer a salvo — mesmo assim exige escusas do staff, alegando ser “filho de um importante empresário”. Não consegue nada e volta amuado para os camarotes.

Reggae, axé e samba

Já dentro do Expotrade, Michel Teló canta seu maior sucesso, “Ai Se Eu Te Pego”, e o público responde com a devida reverência a um velho hit. O que não acontece, por exemplo, com Zezé Di Camargo e Luciano – o som falha e constrange quem está mais ao fundo. Luciano, porém, constrange mais, com sua pose de rockstar, tão crível quanto a do cowboy curitibano que desafiou o segurança.

Jorge & Mateus, o principal nome do sertanejo universitário, faz o que sabe fazer: emenda sucessos, solos de guitarra e deixa o gênero com um ar mais pop, sem perder, no entanto, a identidade e abrir mão de instrumentos tradicionais, como a sanfona. Mesmo assim há espaço para reggae, axé e até mesmo samba. O show acaba e ainda restam algumas apresentações no line-up do festival, mas o público começa a dispersar. Quando começa a apresentação de George Henrique & Rodrigo, mais da metade do público já havia deixado o Expotrade.

O universo rock’n’roll criado por Chuck Berry, focado em carros, garotas e na própria música, que hoje parece esquecido pelas bandas indies, é levado ao pé da letra pelo público. Quando o som não corresponde às expectativas, aproveita-se para flertar. Um jovem de 27 anos, jogador de poker, tenta quatro cantadas em um espaço de pouco mais de 10 minutos: 75% de aproveitamento. “Isso que é festival de verdade”, comemora.