“The Get Down” retrata o surgimento do hip-hop na Nova York do final da década de 1970| Foto: Netflix/Divulgação

Os seis primeiros episódios da série “The Get Down” estrearam sexta-feira (12), na Netflix. A trama mostra o nascimento do hip-hop durante o auge da música disco nos anos 1970 do ponto de vista de jovens do sul do Bronx, em Nova York.

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“The Get Down” tem sido festejado por ter escolhido lançar luzes sobre a criação desta cultura desde suas raízes – anos antes de “Rapper’s Delight”, do Sugarhill Gang, apresentar o rap ao mundo em 1979.

Joseph Saddler, consultor (e personagem) da série mais conhecido pela alcunha Grandmaster Flash, tem dito em entrevistas que o diretor, Baz Luhrmann, foi o primeiro a tratar dos “ingredientes” do bolo.

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Australiano e com filmes como “Moulin Rouge!” (2001) no currículo, Luhrmann sabia que era uma escolha nada óbvia para falar do nascimento do rap nas profundezas caóticas do Bronx. Para contar a história direito, recorreu a Flash e outras autoridades e testemunhas da época, como o DJ Kurtis Blow e o rapper Nas (leia mais abaixo).

Reconstrução

“The Get Down” reconstrói o cenário turbulento de violência entre gangues e caos social do distrito nos anos 1970 – o trabalho de reconstituição história para as filmagens, aliás, foi meticuloso e notoriamente caro para o formato, destacou a imprensa americana. Contextualiza a crise econômica e social de Nova York, que prepararia o terreno para a plataforma de “lei e ordem” do prefeito Ed Koch. Relembra o visual extravagante da cultura disco. E mostra como era a cena que foi berço do hip-hop – festas fora do circuito das boates de disco, animadas por “mestres de cerimônia” que improvisavam sobre manobras habilidosas dos DJs nos toca-discos enquanto dançavam o break na pista.

A série, no entanto, não mira no rigor documental. A Netflix a divulgou como uma “saga mítica”, e Luhrmann imprime no drama a mesma linguagem teatral e estilizada de seus trabalhos anteriores – o que tem sido seu principal alvo de críticas.

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A história faz menções a episódios e personalidades reais, inclusive inserindo imagens de arquivo em meio às cenas filmadas no Bronx. Nos primeiros episódios, por exemplo, há o famoso apagão de julho de 1977 que provocou saques e vandalismo em Nova York.

Mas Luhrmann trabalha essencialmente com personagens fictícios, construídos com traços caricatos – e até “mágicos”, conforme o diretor reconheceu em entrevista ao “The New York Times”. O núcleo tem o DJ Shaolin Fantastic (Shameik Moore), que faz referência à popularidade dos filmes de kung fu da época pulando como um ninja pelos topos dos prédios; a jovem aspirante a cantora de disco Mylene Cruz (Herizen Guardiola), que representa a corriqueira história da artista que precisa enfrentar pais conservadores para seguir seus sonhos; e o também jovem poeta e pianista Ezekiel Figuero (Justice Smith), que encarna o romântico e cativante “Zeke”.

Independentemente de suas escolhas estéticas, no entanto, a história maior que “The Get Down” pretende contar – como jovens do Bronx criaram um dos estilos mais influentes do mundo –, deve interessar ao menos a quem gosta de música.

“Autoridades”

Conheça o time que ajudou o diretor Baz Luhrmann a dar autenticidade à série “The Get Down”:

Nelson George

O escritor, crítico e jornalista cobriu a cena que deu origem ao hip-hop. Já em 1978, ano seguinte à época em que a série inicia, ele escreveu sua primeira reportagem sobre o movimento.

MC Nas

Produtor executivo de “The Get Down”, o MC é responsável pelos raps cantados por Zeke, personagem principal da série, já adulto.

DJ Kool Herc

Clive Campbell foi um dos pioneiros do hip-hop. É atribuída a ele o uso do “break” das gravações de funk.

Afrika Bambaataa

Considerado um dos maiores divulgadores do hip-hop, ele também prestou consultoria para a série.

Inspiração real

Alguns personagens de “The Get Down” são inspirados em figuras que realmente existiram. Veja:

Grandmaster Flash

O DJ, interpretado na série por Mamoudou Athie, é Joseph Saddler, hoje com 58 anos. Ele foi um dos produtores associados e consultor de Baz Luhrmann. Flash é considerado um dos inventores do “turntablism”, a técnica de manipulação das músicas usada pelos DJs de hip-hop.

Ramon S. Velez

Chamado de “Padrino” no Bronx por suas controversas ações humanitárias, o líder comunitário porto-riquenho inspirou Francisco Cruz, personagem da série interpretado por Jimmy Smits.

“Crash” e “Daze”

Dois dos principais artistas do graffiti nova-iorquino a partir dos anos 1980, John “Crash” Matos e Chris “Daze” Ellis – também consultores da produção – inspiraram os grafiteiros “Thor” e “Rumi”.

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