Em sua primeira passagem por Curitiba, o tenor italiano Andrea Bocelli cantou para cerca de 20 mil pessoas no Estádio do Atlético Paranaense na noite desta quarta-feira (19), segundo contagem divulgada pela produção.
O show – parte da turnê de divulgação do CD mais recente do artista, “Cinema” (2015) –, reuniu árias de ópera famosas, alguns números instrumentais, música de trilhas sonoras e hits românticos do italiano.
Depois de uma execução do Hino Nacional na voz do também tenor italiano Davide Carbone, que acompanha Bocelli desde 2012, o astro abriu o repertório com a ária “Recondita Armonia”, da “Tosca”, de Verdi.
Bocelli falou pouco ao longo do primeiro bloco, em que também cantou peças de Puccini, Giorgani e Mascagni, acompanhado pelo Coro e Orquestra Jovem do Estado de São Paulo.
Aplausos para Daniel e Anitta
O italiano se limitou a alguns agradecimentos e recorreu ao maestro quando precisou apresentar um de seus convidados, Daniel, que conheceu em Aparecida (SP) no concerto do último dia 15.
Muito aplaudido, o cantor sertanejo dividiu com o italiano os vocais de “Ave Maria”, de Schubert, no início do “segundo ato” do show – mais dedicado a trilhas de cinema.
Uma das canções do gênero ficou por conta de Anitta, que interpretou “Over the Rainbow” acompanhada apenas pela orquestra.
O anúncio da escolha da artista para participar dos shows de Bocelli não havia deixado todos os fãs do tenor italiano felizes, mas ela acabou sendo bem recebida pela plateia da Arena, que chegou a aplaudi-la antes mesmo de sua performance discreta terminar.
Mais tarde, Anitta dividiu o palco com o tenor italiano nas canções “Il Canto Della Terra” e “Vivo por Ella”, uma das mais esperadas pelo público -- em uma performance que provavelmente foi a mais bem executada desta turnê.
Cético com a participação da funkeira Anitta, o público que acompanha a cantora nas rádios estava “frustrado”. O copiloto Rafael Costa estava decepcionado com a escolha da Anitta para os duetos. “Eu esperava Sandy ou outra cantora brasileira com um estilo mais próximo do dele. Foi uma escolha muito ruim”, disse. Mesmo assim, ele e namorada Andressa Bonetto viram duas das quatro apresentações de Bocelli no Brasil. “Fomos para Aparecida também e foi muito emocionante.”
Mas Anitta se revelou ao alcançar notas mais graves e conseguiu agradar. “Estávamos com o pé atrás, mas foi surpreendente. Foi ótimo”, disse Giana Roveredo, que estava acompanhada da família de sete pessoas. Giuseppe Roveredo, italiano tradicionalista, também se disse encantado. “A ópera de Carreras é diferente desta aqui, mas sou um italiano. Como não vou aplaudir um dos símbolos da minha cultura?”
Depois da festejada “Con Te Partiró”, que Bocelli cantou ao lado de Daniel e da soprano cubana Maria Aleida, o tenor encerrou o show de mais de duas horas de duração com “Nessun dorma”, de Puccini, em sua performance vocal mais intensa.
Bocelli comenta duetos
Bocelli falou brevemente com a reportagem antes do início do show. Disse que considera o Brasil um país de cultura musical profunda e destacou neste retorno o concerto do Santuário Nacional de Aparecida, que achou “absolutamente especial”. “A lembrança é sempre o calor do público”, disse.
Perguntado sobre a controversa escolha das vozes que o acompanhariam nos duetos, disse que “é sempre interessante trocar experiências com artistas de outras culturas musicais”.
O cantor explicou que considera estes convites importantes para agradar o público. Tendo cantado ao lado de várias vozes mundialmente famosas em sua carreira, evitou comentar as que o acompanharam nesta passagem pelo Brasil.
“Cada talento é único”, disse o tenor, brincando que está mais acostumado a receber críticas do que a criticar outros cantores. “Acho que quando um artista conquista o coração do público, seguramente tem tudo o que precisa para ter o seu sucesso.”
Carbone
A conversa com a Gazeta foi intermediada por Davide Carbone, “afilhado” musical de Bocelli e sua esposa e empresária Veronica. O tenor milanês, que impressionou Bocelli com seu vibrato em uma audição, contou que ainda estuda que caminho artístico seguir em sua carreira musical.
Ele diz que já reuniu algumas canções – inclusive composições próprias – e agora está na fase de escolher o produtor ideal para o seu primeiro álbum.
“Acho que o primeiro álbum é muito importante na carreira de um artista. Como sou influenciado por muitos estilos de música, acho difícil escolher uma estrada definitiva”, disse o cantor, incluindo a música brasileira entre suas referências (Carbone tem uma casa em Fortaleza e vem para o país de tempos em tempos).
Um dos dilemas, ele explicou, é que o mundo clássico costuma fechar algumas portas para quem se lança no mercado como cantor popular. “Todo mundo vai colocar você em um determinado gênero musical. E para mim é difícil, porque gosto de muitos tipos de música”, explica Carbone. “Depois, para mudar de estilo, fica muito difícil.”
Público
Majoritariamente mais velho, o público chegou aos poucos à Arena da Baixada. Com a abertura dos portões às 18h, Ernesto Zanlorenzi, que estava no setor diamante (com o valor de R$ 1.700 a inteira e R$ 850 a meia) foi um dos primeiros a entrar. Sozinho, o aposentado de 71 anos ganhou da filha o ingresso para a apresentação em São Paulo. Por problemas de saúde perdeu o show na capital paulista, mas conseguiu um novo ingresso para a apresentação em Curitiba. “Vim aqui para ouvir a tradicional música italiana e um grande show”, disse animado.
A última apresentação no Brasil da turnê “Cinema World Tour” quase lotou o estádio do Atlético Paranaense. Com um perfil de público mais maduro, Sophia Maciel, de 10 anos, destoava das cabeças grisalhas. Com um vestido de gala e um laço na cabeça, a menina era a mais ansiosa para ver de perto o ídolo: “Meu pai ouvia em casa e eu adorei aquele som“. Acompanhada dos pais, Sophia ganhou de presente do avô o ingresso para ir ao show. “Viemos por ela”, disse a mãe, Raquel Maciel.
Tsuneko Nakaba também ganhou de presente do filho, Ituo Nakaba. A japonesa de 73 anos conheceu a ópera quando trabalhava em uma multinacional, no Japão, e se “encantou com aquele som”.
Do outro lado do estádio, o casal Jocilene e Luiz Eduardo Fogagnholi estava na arquibancada superior. Com ingressos a R$ 150 a meia, os aposentados estavam emocionados “foi um presente maravilhoso do nosso filho. Queremos vê-lo, independentemente do lugar onde estejamos”.
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