O álbum “Blonde”, de Frank Ocean, entrou na Apple Music no sábado à noite. Mas não é um lançamento típico.
Sim, não é todo dia que o lançamento de um álbum é acompanhado pelo aparecimento, em várias cidades, de lojinhas instantâneas, nas quais você pode comprar o LP, com todas suas 17 faixas, junto com uma publicação que o acompanha, que inclui entrevistas, contos e um poema escrito por Kanye West sobre o McDonald’s. Mas, fora isso, o lançamento de “Blonde” é um acontecimento bastante importantinho.
Os fãs e a indústria musical esperam há quatro anos por esse momento, que veio após serem dadas várias datas de lançamento, anunciadas tanto de forma oficial quanto por boatos, sem que de fato saísse qualquer música nova. Crescia consideravelmente a antecipação sobre como o artista, que toca um tipo vanguardista de Rhythm & Blues, conseguiria superar o sucesso do seu disco de estreia.
“Foi a melhor época da minha vida”, Ocean postou no seu Tumblr logo após o lançamento. “Agradeço a todos vocês. Especialmente aos que nunca me deixaram esquecer que eu tinha que terminar. Que é basicamente todo mundo. Haha. Amo vocês”.
“Agradeço a todos vocês. Especialmente aos que nunca me deixaram esquecer que eu tinha que terminar. Que é basicamente todo mundo. Haha. Amo vocês”
O primeiro álbum de Ocean lançado por uma grande gravadora, “Channel Orange”, de 2012, foi um dos lançamentos mais aclamados pela crítica no ano, que rendeu ao artista seis indicações ao Grammy, incluindo as premiações principais – das quais ele foi embora com duas.
Chris Richards, crítico musical do Washington Post, se referiu ao álbum, que “explodiu as possibilidades emocionais da música pop contemporânea”, como a única obra-prima que surgiu em 2012.
“Como cantor, compositor e contador de histórias, Ocean é ao mesmo tempo fluido e dominante, oferecendo músicas cheias de sentimentos, lembranças e personagens detalhados – tudo cantado por um protagonista que conquistou seu espaço entre os grandes”, escreveu Richards.
Ocean chegou à cena a princípio como membro do coletivo de hip-hop Odd Future. O seu “Nostalgia, Ultra”, lançado de forma independente, acabou sendo um dos álbuns mais aclamados de 2011, e ele apareceu também no projeto “Watch the Throne”, de Jay-Z e Kanye West.
Ocean se tornou um tipo de ícone da cultura pop quando revelou que seu primeiro amor foi um homem, ao escrever sobre a experiência numa carta aberta, após um jornalista perceber que, em “Channel Orange”, Ocean se dirige a um interesse amoroso masculino.
Seis indicações ao Grammy
O primeiro álbum de Ocean lançado por uma grande gravadora, “Channel Orange”, de 2012, foi um dos lançamentos mais aclamados pela crítica no ano, que rendeu ao artista seis indicações ao Grammy, incluindo as premiações principais – das quais ele foi embora com duas.
“Quase todos os dias eu o via, ele e o seu sorriso. Eu escutava sua conversa e seu silêncio... até chegar a hora de dormir. A hora de dormir que muitas vezes dividi com ele”, escreveu Ocean em 2012. “Quando me dei conta de que estava apaixonado, foi uma sensação maligna, sem esperança. Não tinha como fugir, não tinha como negociar com o sentimento, não tinha escolha. Foi meu primeiro amor, mudou minha vida”.
A declaração rendeu mais atenção a Ocean e levou a um diálogo sobre sexualidade na comunidade do R&B e do hip-hop.
“Hoje é um grande dia para o hip-hop”, escreveu Russell Simmons sobre a declaração de Ocean. “É um dia em que definiremos quem somos de verdade. Quanta compaixão teremos? Quanto amor podemos dar?”
Então vieram as indicações de que Ocean estava em vias de bolar uns sons novos. Em 2013, ele disse que tinha feito já “umas 10, 11 músicas” para o projeto.
“É outra coisa coesa, quase um álbum conceitual de novo”. Disse Ocean à BBC à época. “No fim do ‘Channel Orange’, tem a ‘Golden Girl’, e é uma cena na praia. E eu queria esticar esse sentimento para cobrir o próximo disco inteiro, meio que fazer todo ele nesse tema”.
Cartão carimbado
Em abril de 2015, surgiu uma foto no seu Tumblr que mostravam o cantor olhando umas revistas, com o título “Boys Don’t Cry” e a hashtag #JULY2015. Um representante de Ocean confirmou para a Billboard que o álbum e a publicação deveriam sair em julho daquele ano.
Os fãs se prepararam para o lançamento iminente. Mas nada aconteceu. Em julho apareceu uma imagem no site de Ocean de um cartão de empréstimo de biblioteca, com as datas carimbadas e riscadas, um forma aparente de reconhecer que, pois é, ele estava meio atrasado.
No começo deste mês, uma transmissão ao vivo críptica e em preto-e-branco, mostrando o espaço vazio de um depósito com equipamento de estúdio, apareceu no boysdontcry.co, o Tumblr de Ocean ligado ao projeto. O New York Times relatou que “Boys Don’t Cry”, acompanhado por um grande vídeo e publicação, deveria sair no dia 5 de agosto.
E aí: nada. Os fãs se perguntaram se isso tudo não era só uma pegadinha complicada, e se o novo álbum na verdade não iria sair só em novembro, que era a última data que constava na imagem do cartão de empréstimo de biblioteca.
Um efeito colateral dos anos de especulação foi que ele manteve o nome de Ocean na boca dos fãs e criou antecipação, por mais que ele próprio tivesse evitado se expor demais. O entusiasmo por uma nova obra sua foi tanto que hordas de pessoas no Twitter imediatamente perceberam na noite de quinta-feira que a transmissão ao vivo de Ocean tinha começado a mostrar o artista construindo alguma estrutura no depósito abandonado enquanto uma nova música tocava no fundo. Momentos depois, a Apple Music lançou o álbum visual de Ocean, “Endless”.
Até a semana passada, esperava-se que o nome do projeto de Ocean fosse ser “Boys Don’t Cry”. Esse é o título da publicação, mas há ainda algumas discrepâncias com os nomes. A Apple Music se refere ao álbum como “Blonde”, ao passo que, na arte da capa, está escrito “Blond”.
Horas antes do novo LP ser disponibilizado pela Apple Music, no sábado, Ocean divulgou um vídeo da faixa “Nikes”.
A lista de colaboradores nesse último projeto de Ocean, tal como relatado por Steven Horowitz, da Billboards, é variada e inclui pesos pesados da música, como Beyoncé, David Bowie, os Beatles, Rick Rubin, Kendrick Lamar e Elliott Smith (escrito como “Elliot Smith” no encarte).
Por volta da manhã de domingo, “Blonde” estava no topo das paradas da Apple Music.
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