Em setembro de 2015, duas centenas de pessoas do morro do Preventório queimaram três ônibus em Niterói. Pranteavam a morte de um conterrâneo, baleado em uma operação da Polícia Militar na comunidade.
Indignação semelhante move a música de Carolina de Oliveira Lourenço, a MC Carol. Criada no Preventório, a funkeira que conquistou fama com o feminismo de “Meu Namorado é o Maior Otário” se debruçar sobre a realidade que viu de perto em seu novo single, “Delação Premiada”, que chega aos serviços de streaming no início de julho.
“Será um funk proibidão, mas daremos uma camuflada, porque eu não quero ser tachada como cantora de proibidão — quando os policiais pegam esses funkeiros, agridem, às vezes levam preso”, afirma Carol em entrevista à reportagem.
Delação premiada e tortura
Sobre uma batida de trap funk, ela dispara versos que abordam casos de violência e abuso de poder por parte de policiais (”É negro e favelado/ Então tava de pistola”) e relembra casos que comoveram a opinião pública, como o desaparecimento do pedreiro Amarildo de Souza, levado a uma Unidade de Polícia Pacificadora, em 2013, e nunca mais visto.
“O funk é uma libertação, uma forma do favelado se comunicar e mostrar o que acontece dentro da comunidade para as pessoas que não sabem. Quero contar coisas que acontecem lá todos os dias: um morador inocente que é morto, uma criança que leva uma bala na cabeça. Não são todos os casos que vão parar na televisão”, diz a cantora.
Para o favelado abrir a boca, é choque e porrada, mas o rico, se falar a verdade, ganha recompensa. Delação premiada de pobre é tortura
O título da faixa é uma reprimenda à diferença de tratamento dada a infratores da favela e a criminosos de colarinho branco, em especial os investigados pela Operação Lava Jato.
“Para o favelado abrir a boca, é choque e porrada, mas o rico, se falar a verdade, ganha recompensa. Delação premiada de pobre é tortura.”
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