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MC João: pós-ostentação | /Divulgação
MC João: pós-ostentação| Foto: /Divulgação

Ele podia ser só mais um João. Mas sua estrela tem brilhado mais que de qualquer outro em 2016. Dono do hit “Baile de favela”, o paulistano MC João é o grande nome do funk paulista - agora em fase “pós-ostentação”.

Se nos últimos anos, falaram mais alto no gênero a atitude, carrões e o ouro no pescoço de nomes como MC Guimé, hoje é a celebração à vida simples e sexualmente agitada nas favelas quem faz a cabeça dos milhões de fãs que colocaram MC João no topo do gênero.

Desde que foi lançada em julho do ano passado, no mesmo dia em que foi composta e gravada, Baile de Favela já teve mais de 120 milhões de visualizações no Youtube.

Neste primeiro semestre de 2016, a música esteve sempre no top 10 das mais executadas em serviços de streaming como Spotify e do iTunes no Brasil colocando-o ao lado de Justin Bieber e Anitta.

“Já deu pra trocar a salsicha por alcatra”, disse, em tom de brincadeira, nos bastidores do palco da Sistema X, tradicional balada de bairro de Curitiba que o convidou para um show nos último sábado (21).

Aparentando ser mais jovem que seus 23 anos, boa pinta e sorridente João Israel Simeão é tímido e simpático fora do palco ao atender as centenas de fãs –principalmente, meninas – que queriam tirar foto com ele após o show.

Bem diferente do Mc João que se viu no palco e nos clipes: safado, mulherengo e falando de sexo de um jeito obsceno.

Durante o show de cerca de uma hora, João cantou cerca de uma dúzia de musicas suas e alguns clássicos do funk nacional. Foi agarrado por fãs mais exaltadas que foram retiradas do palco pela segurança. Outras jogaram sutiãs em sua direção enquanto João se ajoelhava e simulava uma sessão de sexo oral.

E cantou duas vezes seu grande hit. Baile de Favela tem uma estrutural de composição tradicional conhecida como “list song”. São aquelas canções cuja letra enumera itens de uma lista.

“Do Leme Ao Pontal”, consagrada por Tim Maia, fazia um rol das praias do Rio de Janeiro. No clássico do rap nacional “Senhor Tempo Bom”, o rapper Thaíde trazia a lista dos antigos bailes, pontos de encontro e usos e costumes da geração black power nos anos 1970 em São Paulo. “Baile de Favela” também é uma lista: a dos bailes funk espontâneos que surgiram nas ruas das periferias de São Paulo.

O refrão “chiclete” gruda na cabeça à primeira audição e é hoje repetido em estádios de futebol. Claudia Leitte a cantou em seu trio elétrico no carnaval de Salvador. O hit também é tocado com entusiasmo em qualquer balada de endinheirados. “Baile de Favela” é hoje o melhor sinônimo para uma boa festa”.

A música gerou uma série de paródias, versões e respostas gravadas e publicadas no YouTube. A letra pornográfica obrigou MC João a criar uma “versão light”, para que a música pudesse tocar no rádio.

Funkeiro de família

Na noite de sábado, a obscena letra original foi cantada pelas duas mil pessoas que lotaram a Sistema X. Mostrando como falam línguas diferentes os artistas e o público que consome o pop das periferias e os criadores da mesma geração preocupados em criar músicas “bem-intencionadas” .

As coisas tem andado rápido para ele. Há um ano ele era office boy e ganhava menos de R$ 700 por mês que usava para ajudar a mãe, viúva desde 2010, e suas duas irmãs.

Apesar do sucesso, João ainda mora na casa da família no Jová Rural, bairro no extremo norte de São Paulo, na região do Jaçanã. Como o filho zeloso do samba “Trem das Onze”, que fala da mesma área, o funkeiro faz questão de colocar a família na frente de tudo em suas declarações. Ele tem uma tatuagem em arco no peito onde se lê: “ostentado superação”.

“Era meu sonho [virar um artista famoso] e foi muita luta chegar até aqui. Sempre priorizei levar comida para casa do que gastar com tênis de marca. Quis tirar isso [a ostentação] da minha música”, diz.

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