Os helênicos conceberam a Ilíada. Da mitologia nórdica nasceu a Edda Poética. No Brasil, inspirado em obras como “O Uruguai” (José Basílio da Gama), “Caramuru” (José de Santa Rita Durão) ou mesmo “Iracema” (José de Alencar), o disco Holy Land, do Angra, foi concebido para ser um épico conceitual moderno que resgata as raízes culturais brasileiras.
Responsável por consolidar a banda no panteon do metal melódico mundial, ao lado de nomes como Blind Guardian, Avantasia, entre outros, vendeu mais de 200 mil cópias pelo mundo e, em 2016, completa 20 anos desde seu lançamento. Eles estarão em Curitiba no dia 27 de agosto para apresentação comemorativa.
Serviço
Data: 27/08/2016
Local: Ópera de Arame (R. João Gava, 970, Pilarzinho)
Ingressos: Entre R$ 70 e R$200
Vendas: www.ticketbrasil.com.br
Uma turnê mundial – iniciada na Indonésia – já está em curso desde abril deste ano. A ideia é levar ao palco da Ópera de Arame todas as 11 faixas do disco na sequência, além de canções do disco mais recente “Secret Garden”, de 2014.
Com referências que vão desde a primeira missa celebrada em terras brasileiras – na faixa de abertura “Crossing”, composta por Giovanni Pierluigi da Palestrina (1525-1594) – até uma homenagem ao compositor alagoano Hermeto Pascoal – na música Carolina IV, com um trecho da canção “Bebê” – foi o disco que abriu as portas inclusive para turnês no Japão.
Além dos integrantes da formação atual: Rafael Bittencourt (guitarra e vocal), Marcelo Barbosa (guitarra), Felipe Andreoli (baixo e violão), Bruno Valverde (bateria) e Fabio Lione (vocal), a apresentação vai contar com uma série de convidados especiais como Luis Mariutti (baixo), e Ricardo Confessori (bateria) – ambos da formação clássica – além de Junior Carelli (teclado) e André Reis (percussão). Para os fãs que pediram a participação de André Matos, responsáveis pelos vocais originais do disco, o mesmo chegou a ser convidado para o projeto mas preferiu realizar uma turnê comemorativa paralela.
Rafael Bitterncourt, guitarrista e membro fundador da banda falou sobre o disco, a turnê comemorativa e mais:
Entrevista
O disco Holy Land – que completa 20 anos – é um dos mais importantes da história do metal nacional. Em tempos de arte descartável, quais os elementos que tornam esse disco tão relevante ainda hoje?
São muitos os fatores. Primeiro, para o Angra, marcou como o momento em que realmente definimos nosso estilo. Para o cenário do metal brasileiro, ao lado do trabalho do Sepultura que estava já se consolidando, funcionou como ferramenta de identidade, autoestima. No metal mundial, contribuiu para propor maior liberdade de criação, uma vez que propôs a fusão com outros estilos – a música erudita, as referencias da música brasileira – em um cenário que era muito fechado.
Holy Land é uma obra conceitual, pensado para retratar o Brasil do descobrimento. Na sua opinião, esse espírito de pensar a obra como um todo tem se perdido?
Acho que sim. Isso está se perdendo por conta do formato. Ninguém mais compra um álbum [físico] para tê-lo em mãos, ficar lendo ou pesquisando seus detalhes. As pessoas baixam as músicas isoladamente dentro desse novo momento e novos hábitos de consumo que estamos vivendo.
São muitas as referências históricas presentes no disco, desde a primeira missa realizada no Brasil. Se o Angra, vinte anos depois, fosse retratar o Brasil atual, como seria esse álbum?
Nossa intenção com ele foi apresentar o Angra para o mundo. De onde viemos, como o Brasil foi colonizado... Justificar, por exemplo, o porquê do Angra misturar música erudita. Até então, muitos estrangeiros pensavam o Brasil como uma floresta com o Rio de Janeiro no meio, e através de nossas influências foi possível mostrar que existe muito mais que futebol e samba. Toda a cultura brasileira, os elementos sagrados indígenas, enfim. Pegar um outro momento histórico do país só faria sentido se fosse para justificar qualquer coisa na nossa própria história [como banda].
Dentro dessas referências está inclusive uma homenagem ao Hermeto Pascoal com o trecho de uma de suas composições. No cenário atual brasileiro, qual outro artista que você aprecia?
Eu gosto do Lenine. Acho que ele trabalha bem a brasilidade, os ritmos de maneira acessível da música popular. Ele tem uma linguagem bastante nova usando a World Music junto com os elementos brasileiros. João Bosco, Barbatuques, Uakti, eu estou sempre aberto para descobrir coisas novas.
Uma das características do disco são os arranjos extremamente elaborados, é um desafio levar isso para o palco?
Nós vamos ter como convidados um tecladista [Junior Carelli], um percussionista [André Reis], vamos ter em alguns momentos duas bateras [Bruno Valverde e Ricardo Confessori], a ideia é ensaiar bastante e colocar bastantes músicos no palco para reproduzir da melhor maneira os arranjos.
Apesar das participações especiais, ainda existe a ausência do André Mattos – que inclusive fez apresentações solo lembrando o aniversário de Holy Land –, o que faltou para esse reencontro acontecer?
Acho que ele ainda tem questões mal resolvidas. Não vou julgar porque, em algum momento da minha própria história, também eu não estive pronto para esse reencontro. Mas independentemente disso, o que os fãs têm visto é uma celebração. As pessoas presentes no projeto estão felizes de participar encerrando qualquer karma ou ressentimento.
Curitiba é a última parada do braço brasileiro da turnê antes de partir para shows internacionais. Há um motivo para escolher a cidade?
A gente queria que Curitiba estivesse inclusa neste primeiro momento. Ela é uma das cidades brasileiras que dá pra gente um crivo de qualidade. Temos um público fiel na cidade. Tocando em Curitiba a gente consegue sentir se estamos prontos para tocar em outros países.
Falando em outros países, o Holy Land alcançou grande sucesso inclusive no Japão. Levar essa turnê para lá está nos planos da banda?
A gente esteve no Japão ano passado promovendo o Secret Garden, mas por enquanto é nova essa ideia. A viagem é longa e envolve uma estrutura maior. Se for acontecer, somente no ano que vem.
Existe a ideia de registrar essa turnê de alguma forma?
Estamos analisando essa possibilidade de um DVD mas ainda não tem nada certo. Envolve questões financeiras, de autorização com a editora do André Mattos e ainda não entramos nessa negociação.
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