Rico Dalasam. “Orgunga”. Hip hop.
Em um dos versos de seu disco de estreia, o rapper paulista Rico Dalasam indaga o ouvinte com uma questão fundamental para o entendimento de sua obra. “Negros, gays, rappers, quantos no Brasil?”. A pergunta manifesta as identidades sintetizadas na palavra “Orgunga”, que dá nome ao trabalho e afirma o engajamento do artista. O álbum dá sequência aos temas expostos no EP “Modo Diverso”, que o apresentou à cena. Voz ativa na luta contra a homofobia e o racismo, o rapper inaugura um novo estrato no hip hop, chamado queer rap, em referência à sigla LGBT. Composto por oito faixas, o disco foi gerado com a colaboração de seis produtores, criando distâncias estéticas evidentes entre as músicas. Em “Riquíssima”, o soteropolitano Mahal Pita, do BaianaSystem, introduz um energético berimbau às camadas, interpelando as extravagâncias eletrônicas das demais faixas, que eventualmente admitem propositadas cafonices. Mas timbres da música pop indiana, discurso político e purpurina têm seus lugares. Rico Dalasam é um artista necessário. (Braian Boguszewski, especial para a Gazeta do Povo)
Guizado. “Guizadorbital” (EP). Instrumental.
O trompete soa distante, tocando melodias espaçadas e improvisos, cercado por notas dissonantes, timbres sintetizados, samples, fragmentos, ruídos, texturas e batidas eletrônicas hipnóticas que passeiam de um canal a outro. O novo trabalho do trompetista Guizado é uma viagem. É ele quem diz: “Guizadorbital é uma ode as viagens, aos percursos, às trajetórias”, escreveu, em seu perfil do Facebook. O EP – “de temática jazzísitca-espacial-sensorial”, segundo a descrição– nasceu como desdobramento do último disco do músico, “O Voo do Dragão”, lançado em 2015. Uma das inspirações foram os corpos celestes. “Plutão” soa distante e erma; “Netuno”, com um groove mais marcado, leva a experimentação para um lado mais dançante; em “Júpiter”, uma melodia mais marcante ganha espaço em meio aos ruídos; “Sol”, por outro lado, arde em meio a sons distorcidos e tensão. O projeto será apresentado ao vivo com recursos de vídeo, o que deve tornar o show uma experiência das mais interessantes. (Rafael Rodrigues Costa)
Descendents. “Victim Of Me” (single). Punk rock.
Após 12 anos sem divulgar material inédito, a banda californiana Descendents anunciou um novo disco, intitulado “Hypercaffium Spazzinate”, com lançamento previsto para julho deste ano. O primeiro single, “Victim Of Me”, foi lançado na última terça-feira (7), e representa o estilo clássico da banda desde o primeiro álbum, “Milo Goes to College”, lançado em 1982; a faixa tem pouco mais de um minuto e meio de punk rock com guitarras sujas, acompanhado pelo vocal melódico e um refrão carregado por vozes de apoio que harmonizam no típico estilo Bad Religion. (Thaís Carvalho, especial para a Gazeta do Povo)
Garbage. “Strange Little Birds”. Rock alternativo.
Liderada pela escocesa Shirley Manson, a banda Garbage lançou, na última sexta-feira (3), o álbum sucessor de “Not Your Kind of People”, de 2012. O disco de inéditas “Strange Little Birds”, lançado através do selo independente da própria banda, Stunvolume, tem um tom sombrio que soa atual ao mesmo tempo em que se assemelha às composições mais antigas do grupo. O rock alternativo se mistura com texturas eletrônicas, resultando em composições pop soturnas que tornam-se uma temática do início ao fim do álbum. E apesar de músicas como “Blackout” se arrastarem ao ponto de serem maçantes, faixas como “So We Can Stay Alive” e “We Never Tell” trazem uma atmosfera mais energética ao disco. (Thaís Carvalho, especial para a Gazeta do Povo)
The Claypool Lennon Delirium. “Monolith of Phobos”. Rock progressivo
A parceria do caçula de John Lennon, Sean Lennon, com Les Claypool, baixista da banda Primus, foi anunciada no final de janeiro. Desde então o álbum era aguardado por fãs e críticos. O CD divulgado na última sexta (3) agradou o público e parte da crítica com um som psicodélico. Nos site Metacritic e na lista de vendas da Amazon, 77% dos fãs classificaram o trabalho como ótimo. Já o site PopMatters (de críticos de música) classifica o disco como uma “aberração”. Para os leigos, os 50 e poucos minutos de música são agradáveis aos ouvidos, num mix de referências a Frank Zappa, Pink Floyd e, obviamente, Beatles e Primus. ( Beatriz Peccin, especial para a Gazeta do Povo ).
Brad Mehldau Trio. “Blues and Ballads”. Jazz.
Conhecido, entre outras coisas, por ter incorporado ao jazz músicas de estilos estranhos ao gênero – como o rock alternativo do Radiohead –, o pianista americano Brad Mehldau se volta para um repertório mais tradicional em “Blues and Ballads”. Ao lado do baixista Larry Grenadier e do baterista Jeff Ballard, o pianista – com um approach mais focado em ideias inspiradas desenvolvidas a partir das melodias originais do que em improvisos virtuosos – relê composições famosas, como os standards “Since I Fell for You” e “I Concentrate on You” e a balada dos Beatles “And I Love Her” – que, nas mãos do trio, ganha cores bem diferentes.
Paul Simon. “Stranger to Stranger”. Pop/Rock.
O 13º álbum solo de Paul Simon, primeiro desde 2011, mostra a persona de experimentador do lendário compositor ainda em alta. Batidas eletrônicas de nomes hypados como o italiano Clap! Clap!, sons do cotidiano de Nova York, tambores, instrumentos de sopro africanos e sul-americanos e até instrumentos exóticos como o Chromelodeon, inventado pelo músico Harry Partch na década de 1940, dão ambientação incomum ao conjunto de melodias pop que são a especialidade de Simon. Aos 74 anos de idade e 50 de carreira, o músico se encontra em forma e atualizado com a musica pop de seu tempo, falando de amor e morte na maioria das canções, testando sons ao extremo nos arranjos. (Sandro Moser)
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