Quando foi diretor de um festival de blues patrocinado por uma marca de uísque, na virada dos anos 1990 para os 2000, o bluesman André Christovam participou de uma pesquisa de público nas capitais brasileiras para decidir onde sediar o evento.
O guitarrista estava atrás de “cidades que absorveram menos a música de baixa qualidade”. Curitiba e Porto Alegre foram as escolhidas. “Este era o perfil daquela época. Talvez hoje, com o sertanejo predominando, isto já tenha ido para o saco”, avalia.
“Mas Curitiba era o lugar para tocar blues naquele tempo e acho que sempre será um dos melhores lugares do país”, disse o músico que hoje vive na Escócia.
O “tempo” a que Christovam se refere é a década de 1990. Além da movimentação da cena roqueira que deu projeção nacional à cidade, Curitiba também era notório ponto do ancestral do rock, o blues.
Em espaços como o John Bull Pub se apresentaram nomes da primeira linha do blues, como Magic Slim, Charlie Musselwhite e Robert Cray. Em 1995, o Aeroanta promoveu um Festival Internacional de Blues que contou com Buddy Guy, entre outros. Bandas nacionais de destaque como os Blues Etílicos ou como os curitibanos do Mister Jack e Bartenders de Curitiba tinham público cativo e agenda garantida o ano todo.
Público fiel
Duas décadas depois, o blues segue vivo e em pé em Curitiba.
“Apoiado por um público fiel”, afirma o musico Tony Caster. “O blues resiste, mesmo com menos espaço”.
O momento atual, porém, divide opiniões entre expoentes do gênero na cidade.
Gaúcho radicado há vinte anos em Curitiba, o músico Emerson Caruso avalia que, na comparação com outras capitais, como São Paulo e Porto Alegre, o mercado do blues por aqui é bem maior.
“Curitiba, dá um pau em todos. Não há, como em outras cidades, um estigma de que blues não dá dinheiro. Aqui o blues consegue lotar bares grandes e pequenos”.
Blues maloqueiro
O gaitista Bené Chireia pensa diferente. O fundador da banda Mister Jack, que dominou a cena no começo dos anos 2000, avalia que a cena ficou restrita desde que as marcas de bebida pararam de apoiar os grandes festivais.
“Tudo ficou limitado aos bares, algo que já existia na época. Não dá para dizer que com menos de dez lugares para tocar, temos uma cena”.
Chireia também condena a glamourização do gênero, colocado ao lado do jazz como sinônimo de bom gosto musical. “O blues precisa ser mais ‘maloqueiro’. Além de mais arroz e feijão, precisamos de mais artistas com identidade, hoje tá tudo muito igual”.
Como boa novidade no cenário local, Chireira cita o cantor e compositor Lucian Araújo. “Ele surgiu para dar uma oxigenada no cenário”.
O jovem bluesman, egresso de bandas de rock, apareceu em 2015.
Seu primeiro álbum foi gravado na base da “viola, voz e sapato” numa sessão de gravação de seis horas dentro de uma cabana, ao pé do Morro do Canal, na Serra do Marumbi, em Piraquara.
Lucian define seu som como “blues brasileiro”. Ao lado de clássicos como “You Gotta Move”, canta a versão blueseira do samba “Cordas de Aço”, de Cartola. “As letras do Cartola são os maiores blues que eu já ouvi”, diz.
Outra novidade é o Gringo’s Washboard Band, a banda que toca blues e jazz tradicionais de New Orleans e foi um dos destaques da edição 2016 do programa SuperStar, da Rede Globo.
Responsável por manejar a washboard (tábua de lavar roupa usada como instrumento de percussão), o músico Guto Krainski acredita numa retomada no blues na cidade. “Houve uma época que o blues bombou na noite. Havia várias casas, mas a coisa foi minguando”, analisa.
“Sinto que de alguns anos para cá, o interesse aumentou, o público está voltando e as casas abrindo mais espaço”. Guto conta que sua banda fez 190 shows em Curitiba e região metropolitana no ano passado.
Noites de blues
Ainda que a cena não seja a mesma de vinte anos atrás, alguns bares seguem apostando no slogan ”Curitiba , capital nacional do blues”.
Em algumas casas como o Sheridan’s Irish Pub e o Harvest Folk Bar há programação permanente todas as quartas-feiras. Outros bares como o Dizzy Café Concerto, o Beto Batata Barigui e o Dobrucki Pub reservam pelo menos uma noite por semana para o blues.
O Dobrucki Pub é quem ainda tem apostando em atrações internacionais. No próximo dia 14 de julho, a casa recebe o cantor norte-americano Lorenzo Thompson. Há dois meses, o bluesman Tail Draffer também cantou no local que é ponto de encontro de motociclistas.
Fernanda Botarelli, relações públicas do Dobrucki Pub, afirma que é o “público” que torna as apostas da casa viáveis. “O público do blues tem um perfil particular: pessoas um pouco mais velhas que, em tese, têm um poder de compra maior e gostam de curtir o show”.
Com a experiência de trinta anos de blues, Emerson Caruso, resume esta conta.
“Num show de rock vão 200 pessoas e, às vezes, não se vende uma cerveja por cabeça. No show de blues, o cara vai acompanhado, come alguma coisa e desce uma garrafa de uísque. Os donos de bar adoram”.
Gustavo Haas, um dos sócios do Sheridan’s é um dos que gosta e aposta. Há dois anos, a casa abre para blues todas as quartas-feiras.
Haas conta que o bar no Batel até muda a decoração – colocando mesas em frente ao palco - para acomodar a noite temática. “O blues pede esse clima mais intimista, então há essa oportunidade de ficar mais próximo da banda”.
Para ele, como a casa é dedicada ao rock, faz sentido apostar numa noite de blues. “Quem gosta de boa música, de um bom rock, também gosta de blues”.
Veja onde e quando ouvir blues em Curitiba:
Chicago Blues Night
Todas as quartas-feiras a partir das 21h
Abertura da casa: 19h. Entrada R$ 15 (feminina R$ 8) a noite toda
Todas as quartas-feiras, das 19h às 0h.
Quarta-blues com Lucian Araújo e convidados
Entrada R$ 10.
Sábado (9), às 20h, show com a banda Dose In Blues
Entrada livre.
Dia 14 de julho, show do cantor Lorenzo Thompson.
Entrada: R$ 25 (feminino) e R$ 35 (masculino)
Sexta-feira (8), às 22h, show com Decio “The Blues Man” Caetano.
Entrada R$ 15.
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