É fácil descrever Ney Matogrosso como um cantor versátil. Desde que veio “artisticamente” ao mundo como frontman do Secos & Molhados, tomou de assalto cada palco que ocupou pelo Brasil. A maquiagem e os figurinos exuberantes nunca foram suficientes para esconder a potência vocal do cantor ou sua familiaridade em transitar por variados estilos e gêneros da música popular brasileira. Há o Ney de “Bandido Corazón”, gravado em 1976; há o Ney de “Homem com H”, de 1981; há o Ney cantando Chico Buarque de 1996. Desde sua estreia, em 1973, foram pelo menos 37 discos originais gravados, sem contar as coletâneas e participações.
A partir do disco em que interpretou somente canções de Cartola, de 2002, Ney trilhou um caminho que o aproximou de compositores de gerações mais jovens . Primeiro veio “Vagabundo”, com Pedro Luís e A Parede. Mais recentemente, “Atento aos Sinais”, que traz canções de Vitor Pirralho, Tono e Criolo, entre outros. O formato parece ter agradado o cantor. “Tenho gostado de cantar mais de jeans”, diz Ney em entrevista exclusiva ao Caderno G, por ocasião de sua participação como headliner da 20ª edição do Psicodália, festival de música que acontece de 24 de fevereiro a 1º de março em Rio Negrinho (SC), na divisa com o Paraná, a 115 quilômetros de Curitiba.
“Não sou de carnaval. Já desfilei em escola, no trio elétrico de Caetano e Gil, mas não é a minha. Prefiro fazer meu show”
As apresentações descaracterizadas podem contrastar com a persona pública de Ney, mas são nada menos do que mais uma de suas facetas como artista. “É um repertório praticamente inédito, de bandas novas, compositores menos conhecidos, misturados com grandes figuras da música brasileira”, conta o intérprete a respeito do show que apresentará no Psicodália. “Atento aos Sinais” já é o espetáculo principal de Ney desde 2013, ano em que também gravou o disco homônimo. “É uma coisa louca. Cada vez que faço o show recebo uma nova proposta. Não consigo parar”, afirma ele, que, ainda este ano, deve levar o espetáculo para Argentina, Uruguai e Portugal, além de outras cidades brasileiras.
“Plateia ao ar livre é outra coisa”, classifica Ney sobre a expectativa do público que encontrará no Psicodália, cuja faixa etária está distante coisa de 50 anos a menos que a sua. “Tenho notado uma aproximação de um público abaixo desse (na idade)”, revela. O fenômeno, recorda, remete ao disco em que gravou Cartola. “São pessoas de 17, 16, 15 anos. Quando percebi, me perguntei: essa gente gosta disso? Foi uma surpresa para mim”.
Psicodália
De 24 de fevereiro a 1º de março
Na Fazenda Evaristo - Rua Afonso Koehler, s/n - Rio Negrinho (SC)
Passaportes esgotados
Estrela do carnaval de cerca de 5 mil pessoas que comparecerão ao Psicodália, Ney Matogrosso diz que ele próprio não é afeito às folias de Momo. “Não sou de carnaval. Já desfilei em escola, no trio elétrico de Caetano e Gil, mas não é a minha. Prefiro fazer meu show”, diz ele. Pior ainda seria a ideia de homenageá-lo como tema de um desfile carnavalesco: “Tenho resistência. Em geral uma homenagem como essa exige muito em troca. Muito esforço, trabalho, show. É assim. Eu não tenho essa vaidade”, diz.
Rock in Rio, Nação Zumbi e Secos & Molhados
Recentemente foi anunciado que Ney Matogrosso se apresentará, ao lado da Nação Zumbi, no palco Sunset do Rock in Rio 2017, em setembro. Ao anúncio foi acrescentada uma novidade que deixou exaltados os fãs da primeira banda de Ney: no repertório deste show estariam somente canções do Secos & Molhados, grupo que encerrou suas atividades com o mesmo furor que os alçou ao sucesso no começo dos anos 70. Ney, entretanto, prefere ir devagar com o andor. “Sempre cantei músicas do Secos & Molhados em meu repertório. Não é uma retomada”, diz. “Uma parte do repertório será do Secos, outro da Nação e também pedi músicas de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro. Vamos ver no que vai resultar tudo isso”, completa.
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