Dirigindo em uma autoestrada, indo para um show... Esse não é apenas o primeiro passo do AC/DC em seu longo caminho até o topo para viver de música. É também a realidade de muitos fãs que percorrem grandes distâncias para poder dizer “eu fui” em um show épico da banda preferida. Seja a pé, de carro, avião ou teletransporte, verdadeiros “peregrinos da música” conhecem cada milha da estrada do sucesso. Conheça abaixo algumas destas histórias:
De fã a amigo da banda
Imagine acompanhar uma banda desde os 12 anos. Ter mais de 30 tatuagens pelo corpo para homenagear seus artistas favoritos, ser um dos maiores colecionadores do país dedicados a eles e, de repente, ser convidado a excursionar com a banda em todos os shows de turnês brasileiras por mais de três anos? Pois esse sonho se realizou para Danilo Van Erven, fã de Nazareth desde 1976.
A história começa a se tornar realidade em 2007, quando um cliente da vídeo locadora de Danilo o convidou para assistir às gravações do DVD “Live in Brazil” no qual trabalhava. Uma vez lá, Danilo teve seu primeiro contato pessoal com a banda. Mas não parou por aí, a convite de Andréia Cosme – produtora da banda no Brasil, à época – ele passou a integrar a equipe da turnê, assumindo funções de logística. Muito mais do que o prazer do trabalho, a experiência teve o peso de proporcionar uma proximidade pessoal única entre ídolo e fã. Danilo chegou a fazer a apresentação da banda durante a passagem da turnê de encerramento pela Sociedade Abranches, em 2013. Ao todo, caiu na estrada com a banda por mais de 50 shows.
Dedo quebrado e reportagem no The Times
Outro que teve um sonho realizado foi o editor e tradutor Felipe Martynetz, 31, que calcula já ter percorrido mais de dez mil quilômetros para assistir aos shows do Iron Maiden nas turnês com passagens pelo Brasil.
“Há estudos demonstrando que fãs de heavy metal e música clássica possuem os mais altos QIs entre todos os ouvintes [de música]. Um fã, Felipe Martynetz, de 24 anos, de Curitiba, no Brasil, tem uma carta para entregar à banda, na qual ele escreve que “o background filosófico nas letras de música do Maiden me fez descobrir a filosofia como algo que sempre estivera próximo a mim, mas de cuja presença eu nunca suspeitara. Então eu li Admirável Mundo Novo, de [Aldous] Huxley, O Senhor das Moscas, de [William] Golding, e A Balada do Velho Marinheiro, de [Samuel Taylor] Coleridge”.”
Não basta ter passado por Rio de Janeiro, São Paulo, Belo Horizonte, ou mesmo ter quebrado um dedo em um dos 13 shows da banda que acompanhou, a recompensa pessoal veio ao ser citado em uma reportagem do The Times Online – que mencionava uma pesquisa que mediu a relação entre a preferência por estilos musicais pesados e o alto Q.I. dos apreciadores – onde um trecho de uma carta enviada à banda foi publicado.
“Em 2009 fui ao Rio de Janeiro e entreguei ao empresário da banda Rod Smallwood uma carta onde eu mencionava toda a influência que a banda teve na minha vida. incluindo no despertar de interesses em novas áreas do conhecimento como a filosofia através das letras das músicas. Algum tempo depois, descobri por acaso a matéria que citava o meu nome, além de trechos da carta que escrevi, fiquei alguns dias sem poder dormir direito”, lembra.
Macapá - Curitiba por amor ao rock
Não menos peregrino – mas com um leque de interesses um pouco mais abrangente – o advogado curitibano Bruno Camargo já perdeu as contas de quantas vezes percorreu o trajeto de 3.730 Km (sem contar as escalas) que separam Curitiba de Macapá (AP), cidade onde reside e trabalha, somente para assistir a algum show na capital paranaense. Na lembrança estão shows de nomes como B.B.King, Pearl Jam, Bad Religion, entre outros. Mas, por força do imponderável, a viagem mais importante foi justamente marcada pela ausência.
Fã de rock desde a infância, Bruno herdou o gosto do pai. Durante a passagem de David Gilmour por Curitiba, em dezembro de 2015, os dois planejavam viajar juntos para assistir o ídolo na Pedreira Paulo Leminski, membro fundador do Pink Floyd. Infelizmente, Artur Camargo faleceu meses antes da viagem. “I Wish you were here” se tornou para a família uma espécie de homenagem: “Ele foi o cara que me fez gostar desse tipo de som. Me acompanhou em diversos shows. Quando tocou ‘I Wish you were here’ não teve como não se emocionar”, lembra.
A próxima viagem no radar de Bruno é o show da The End Tour, que marca o fim das atividades do Black Sabbath. A apresentação deve acontecer no dia 30 de novembro, justamente na Pedreira Paulo Leminski.
Casal que viaja unido...
Jornadas musicais também podem ser programas de casal. A música é mais um dos elementos que unem Edgar e Dani Serrato. Juntos, o casal já percorreu os 1.977 Km (em linha reta) que separam Curitiba e Argentina para ver um show do Foo Fighters. Mas é pelas estradas do Brasil que colecionam histórias curiosas.
Desde 2004, o casal acompanha todas as vindas da banda do Megadeth ao país. O empenho para ver os ídolos vai muito além de ir ao show. Não raro buscarem hospedagem em hotéis próximos ao da banda na tentativa de interagir de alguma forma com os músicos. Em uma dessas tentativas, os dois esperavam durante toda uma tarde pela chegada dos integrantes quando foram abordados pelo músico brasileiro Tony Garrido que estava hospedado no mesmo hotel. Quando o artista percebeu que os fãs não estavam ali por sua causa, para suavizar o mal entendido, enviou cerveja a eles. Uma recompensa justa pela jornada.
No cartão de milhas do casal constam viagens para ver bandas como Kiss, Haloween, Down, Black Label Society, Black Sabbath, Slayer, Nevermore, Deep Purple e até mesmo Sir Paul McCartney.
Quando perguntados sobre o que os motiva a viajar, o casal lembra que “houve um tempo que os grandes shows não chegavam por aqui. Então era a única maneira de ver um show da banda que você curtia. Claro que a gente aproveita para conhecer novos lugares, ir a museus nas cidades dos shows e até viajar em família, mas com certeza a música fala mais alto”, completa.
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