Mariana Bazzo, promotora de Justiça e coordenadora do Núcleo de Promoção da Igualdade de Gênero (NUPIGE), comenta a situação da mulher nas rádios brasileiras.
Algumas das músicas mais ouvidas nas rádios são compostas por letras que tratam a mulher como objeto. Isso está diretamente ligado à sociedade machista em que vivemos ou é apenas um reflexo disso?
Penso que isso está diretamente ligado à noção da mulher como mero objeto a serviço do homem, discurso que vem sendo reproduzido há muito tempo.
As mulheres não tinham condições de igualdade. Somente em 1932 conseguiram o direito ao voto. E apenas em 1962 – que foi quando o Estatuto da Mulher Casada devolveu a plena capacidade à mulher na administração da sociedade conjugal, e quando foi dispensada a necessidade da autorização do marido para o trabalho –, foi possível que ela tivesse direito a ter a própria vontade acatada num ato civil.
A ideia da objetificação sempre foi reproduzida e isso [as letras que conotam objetificação] é reflexo de nossa sociedade impregnada por esse discurso.
O corpo como forma e objeto de consumo também é uma das principais formas de objetificação encontradas nas letras...
O corpo da mulher está enquadrado na perspectiva de ser um serviço ao homem. Nos manuais de direito penal, até a década de 1970, constava que o corpo da esposa estava a serviço do marido. O homem tinha a propriedade do corpo. A violência contra a mulher praticamente inexistia do ponto de vista legal.
A mulher tinha a obrigação de ceder o corpo. A própria legislação consolidava isso. Foi apenas no século 21 que a violência de gênero começou a desempenhar o papel de punição para o homem que cerceia a liberdade da mulher.
Você acha que isso também é quase um requisito do mercado fonográfico para que músicas vendam?
Como ouvinte posso dizer que sempre vendeu porque se fomentou isso de maneira sedutora e idealizada e sempre foi uma ideia aceita e privilegiada.
Acredita que esse conceito em volta da música vai mudar em algum momento?
Já vem mudando consideravelmente com o debate e a concepção da mulher dentro da sociedade. Não somente a lei garantiu isso, como também a mentalidade das pessoas, que vem mudando muito por causa das lutas das mulheres pela promoção da igualdade de gênero.
Fim do ano legislativo dispara corrida por votação de urgências na Câmara
Boicote do agro ameaça abastecimento do Carrefour; bares e restaurantes aderem ao protesto
Frases da Semana: “Alexandre de Moraes é um grande parceiro”
Cidade dos ricos visitada por Elon Musk no Brasil aposta em locações residenciais
Deixe sua opinião