A música de Ennio Morricone para “Os Oito Odiados”, de Quentin Tarantino – vencedora do Oscar 2016 de melhor trilha sonora original –, já pode ser encontrada em CD no Brasil.
Foi a primeira vez que o diretor dispôs de uma trilha original do compositor e músico italiano para um filme seu. Tarantino é admirador de longa data de Morricone, sobretudo das trilhas de “spaghetti western”, que pegou emprestadas para filmes como “Kill Bill”.
“Oito Odiados” não é western, diz compositor
O trabalho para Tarantino editado no CD foi a primeira trilha de Morricone para cinema western desde “Buddy no Velho Oeste” (Michele Lupo, 1981)
Leia a matéria completa“Ter o grande maestro do cinema e meu compositor preferido de todos os tempos, Ennio Morricone, escrevendo e tocando uma trilha original para um filme meu é um sonho realizado”, escreve Tarantino no encarte do CD. “Tão importante e significativo [...] é o fato de que meu filme tem um álbum de trilha sonora de Spaghetti Western de Ennio Morricone”, comemora.
Western
É o estilo que mais marcou a obra de Morricone: além das melodias inspiradas, comumente tocadas por instrumentos de sopro – como trompetes e o oboé usados no tema principal da trilha dos “Oito Odiados”, “L’Ultima Diligenza di Red Rock” –, a música do compositor para westerns é facilmente identificada pelo uso de assobios, coros de vozes masculinas, melodias tocadas por guitarras cheias de reverb, sons de tiros e chicotadas. É a sonoridade rústica indissociável dos filmes de Sergio Leone estrelados por Clint Eastwood.
Pop
A influência de Ennio Morricone na música pop é relevante: Muse e Massive Attack já o citaram como referência; o Metallica gravou uma versão para “The Ecstasy of Gold” e usa a música para entrar no palco nos shows; e os Ramones a usavam para sair, lembra Tim Jonze, do “Guardian”.
“Morricone partiria sempre dos mesmos elementos para construir a música dos filmes subsequentes de Leone: uso de instrumentos exóticos, como a ocarina e o oboé (...), a celesta e o berimbau de boca (...); ruídos pinçados da diegese (tiros, galopes de cavalo, chicotadas, sinos, assobios, gritos de coiote, grasnar de corvos) e usados tanto como elementos rítmicos quanto para compor a harmonia; estruturas simples calcadas na música pop (versos e refrões), que tomavam emprestados também instrumentos populares de caráter urbano (guitarra elétrica, piano elétrico, bateria); mescla de influências concretistas com o neo-romantismo tradicional da música para cinema; e forte sincronia entre a trilha de áudio e a banda visual, chegando ao ponto de compor a música antes que as imagens fossem registradas”, descreve o professor da Universidade Federal de Pernambuco Rodrigo Carreiro no artigo “Notas sobre o papel da música de Ennio Morricone na passagem do cinema clássico para o moderno”.
Colaboração
A lista de diretores com quem Morricone trabalhou inclui Bernardo Bertolucci e Brian De Palma. Além de Tarantino, também trabalhou com Clint Eastwood, Michael Mann e até na trilha sonora da animação “Os Simpsons”.
Para o pesquisador, Morricone – ao sintetizar música popular, concreta e orquestrações neo-românticas – teve um papel efetivo na transição da música cinematográfica do cinema clássico para o moderno.
Para o produtor cultural Antonio Cava, fã das trilhas de Morricone, a melodia italiana é a força principal da música do compositor. “Esse é o grande talento musical de Morricone. A musicalidade transformada das tradições italianas, de Nápoles, Sicília”, diz. “É o que fazia Villa-Lobos. Estar atento às influências da melodia italiana e aproveitá-la, fazer a ponte entre erudito e popular. E não desprezar a cultura popular nunca”, analisa.
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