É possível cravar 2005 como o nascimento do sertanejo universitário. Foi ali que as primeiras duplas do gênero conseguiram romper o nicho a que estavam restritas, alavancadas pelo sucesso de nomes como João Bosco & Vinícius e Cesar Menotti & Fabiano. Era também o início de redes sociais como Youtube e Orkut, instrumentos que se mostraram essenciais para a construção dessa roupagem mais moderna à música.
“Trata-se de mais um ciclo de vitalidade de um gênero que de 20 em 20 anos se remodela, ampliando seu público e incorporando outras sonoridades”, explica Gustavo Alonso, doutor em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e autor de “Cowboys do asfalto: música sertaneja e modernização brasileira”, que aborda a trajetória da música sertaneja, desde a origem caipira no interior do país até o sucesso internacional de nomes como Michel Teló.
“A especificidade música sertaneja surgiu nos anos 50, embora a primeira gravação tivesse ocorrido em 1929”, diz Gustavo. A partir da década de 50 a música rural incorporou novos elementos, como o bolero e ranchera mexicanos, a guarânia paraguaia, o chamamé argentino, e então surgiu a primeira grande distinção: os sertanejos foram aqueles que se mostraram abertos às influencias estrangeiras, enquanto os autonomeados caipiras defendiam um purismo musical do passado rural.
Sertanejo, funk e forró
Há pouco mais de dez anos, quem dá as cartas no mercado de música popular no Brasil é o sertanejo universitário. O sucesso deve-se, sobretudo, a capacidade em incorporar outros gêneros: “Ai se eu te pego” flerta com o forró; “Eu quero tchu, eu quero tcha”, pende para o funk.
“É um movimento que surgiu de forma independente, distribuindo CDs piratas, produzindo vídeos compartilhados através das redes sociais. Quando passaram a vender 30, 40, 50 mil de cópias, passaram a chamar a atenção das gravadoras e catalisaram seu sucesso. Mas, diferente da geração anterior, que se forjou dentro das gravadoras, os universitários criaram a si mesmos”, afirma Alonso.
Apesar do sucesso, a aversão de setores específicos da sociedade e da crítica ao gênero ainda é nítida. Para Gustavo, em geral, o público das mídias tradicionais é composto por setores de classe média que pouco ou nenhuma afinidade tem com o sertanejo; por isto o sertanejo os incomoda e ofende, sobretudo, roqueiros tradicionais. “Ele traz à tona algo incômodo: que o rock antes também era visto como banal, comercial, como música para adolescentes”, argumenta. Alonso crê que a música sertaneja relembra o brasileiro que ele é parcialmente interiorano, brega e melodramático: “A maioria gostaria de ser novaiorquino ou londrino, não sertanejo”.
César Menotti & Fabiano
Teatro Positivo
13 de agosto (sábado)
Ingressos de R$ 180 a 320
Disk Ingressos (www.diskingressos.com.br)
Novos palcos
Sempre marcado por ser um gênero mais popular, hoje seus principais nomes tocam constantemente em teatros. Em Curitiba, apenas neste mês, Luan Santana e Cesar Menotti & Fabiano se apresentaram no Teatro Positivo – o Guaíra, recentemente, recebeu nomes como Victor & Léo e Jorge & Mateus.
“É um espaço onde o público tem a chance de assistir a apresentação sem distrações, diferente de um festival ou show aberto, por exemplo”, explica a produtora Márcia Correa, responsável por levar os já citados César Menotti & Fabiano ao Teatro Positivo. “Uma parte do público pedia isso, então notamos que essa carência poderia ser suprida com show em teatros”, completa.
De qualquer forma, os sertanejos começaram a se apresentar em redutos das classes médias e altas das capitais já no final da década de 80: Chitãozinho & Xororó, aliás, foram a primeira dupla a tocar no Teatro Guaíra; Leandro e Leonardo tocaram no Canecão, tradicional palco carioca, no início dos anos 90.
“Foi um escândalo na época. Teve jornalista de ‘O Globo’ que disse que o Rio estava vivendo uma ‘invasão alienígena’”, relembra Alonso. “Talvez o grande público estranhe essa inversão, mas quem acompanha o sertanejo universitário tem se mostrado bem aberto a este novo palco: este processo de chegada às capitais é contínuo e irreversível e o sucesso conseguido ajudou a trazer ainda mais público e a nacionalizar o gênero”, diz Márcia.
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