Opinião
Veja o que diz o crítico João Rocha sobre alguns dos novos autores brasileiros:
Adriana Lunardi (SC): "Além da preocupação recorrente com o tema da finitude, possui no nível da frase um domínio notável. Qualquer frase dela é exemplar."
Luiz Ruffato (MG): "Com projeto muito próprio, terminou agora a pentalogia do Inferno Provisório, um painel da vida urbana brasileira, caleidoscópico, com vários registros linguísticos."
Carola Saavedra (Chile/RJ): "Um trabalho muito interessante, sobretudo voltado para a estruturação rigorosa do romance, que funciona como um quebra-cabeça, em que a última peça falta ou desmonta o conjunto."
Marcelo Moutinho (RJ): "Tem um diálogo deliberado com uma tradição de prosa que busca recuperar a experimentação com a linguagem contemporânea."
Ferréz (SP): "Defende a existência de uma literatura marginal. A grande intuição é usar para o mundo do crime o vocabulário técnico do mundo do capital e da política."
Num contraditório país de poucos leitores, onde ocorre uma feira literária a cada três dias, muitos criticam a transformação do escritor em celebridade. Para o crítico João Cezar de Castro Rocha, que ministrou oficina na Biblioteca Pública do Paraná na semana passada, nada substitui a leitura do próprio livro, e a "tarefa principal de quem trabalha com literatura é desenvolver a capacidade de articular discursos diferentes para públicos que não são iguais". Ou seja, saber dialogar com alunos, conferencistas e estudantes de ensino médio presentes a uma feira de maneira compreensível e que fomente a leitura. Veja outras opiniões do pesquisador na entrevista concedida à Gazeta do Povo:
O senhor percebe interesse por parte dos jovens em fazer crítica literária?
Existe um interesse crescente, que concilia um modelo que vigorou muito tempo na imprensa, a chamada crítica de rodapé, com décadas de ensino nas faculdades de Letras. É como se os professores aprendessem a dialogar com o público mais amplo, ou reconhecessem a necessidade disso. Por décadas, no Brasil, as duas experiências a crítica de jornal e a universitária conheceram um divórcio absoluto. Chegou a hora da geração mais jovem buscar uma tensão produtiva entre o conhecimento que se produz e o que se difunde.
O que melhorou?
Em primeiro lugar, há um cuidado maior dos críticos oriundos da universidade com o próprio texto. O reconhecimento de que a simples utilização de conceitos ou a referência a teorias não constitui nem uma leitura inteligente nem um texto legível. Ao mesmo tempo, não quer desconsiderar a importância da teoria.
Com isso a literatura ganhou mais espaço?
Nos últimos dez anos, há um fenômeno novo: a literatura adquiriu presença no espaço público. A cada três dias ocorre uma feira literária no Brasil, e escrever ficção se tornou um atrativo especial. Equivale a dizer que um número maior de pessoas pode sobreviver disso. Não de direitos autorais, impossível no Brasil, onde a vendagem é baixa e o repasse é complexo, mas há um número cada vez maior de escritores, muitos deles jovens, que participam de feiras, fazem oficinas, possuem colunas em revistas ou jornais. A atitude do Cristovão Tezza [colunista da Gazeta do Povo] de abdicar do cargo de professor na Universidade Federal do Paraná para se dedicar exclusivamente à literatura é algo que há dez anos ele nunca poderia ter feito.
Isso se reflete em aumento no número de leitores?
Essa é a questão central. A principal tarefa é fazer com que as feiras literárias sejam não um encontro de celebridades, e sim fomentem a leitura. Nada substitui a leitura do livro.
Como as feiras poderiam melhorar?
Pensando em voz alta, as feiras poderiam ter uma contrapartida social: comprar livros dos autores convidados e doar para bibliotecas locais, e sortear alguns exemplares para o público. Poderiam promover concursos de crítica e redação para estudantes, que lessem anteriormente os livros dos escritores convidados.
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