“Soppy” não esconde suas intenções desde o título. Isso, claro, se você souber que a palavra do inglês significa, figurativamente, sentimental e piegas. Ou: breguinha.
O pequeno álbum em quadrinhos da inglesa Philippa Rice é uma coleção de momentos na vida de um jovem casal que começa a morar junto. Esses momentos são curtos: ilustrações de página dupla, poucos quadros. Em grande parte, não há falas. São vinhetas de um relacionamento em que qualquer casal jovem pode se enxergar.
Qualquer casal, contudo, se os dois trabalharem em casa em profissões criativas (os dois, no caso, são quadrinistas/ilustradores), idolatrarem o conforto do sofá, só saírem para ir ao cinema, à livraria ou para comprar pão, chá e bolo. E que façam viagens de fim de semana em que continuam sem contato com outros humanos. Nem todos os casais são iguais, afinal.
O foco da HQ em cenas apenas do casal não precisa ser uma declaração de que os dois são felizes fechados em si, mas mera decisão narrativa de Rice. Por um lado, os protagonistas parecem aqueles casais que excluem o resto do mundo devido a sua autossuficiência. Por outro, o livro evita clichês de comédia romântica como os amigos excêntricos de cada componente do casal, que geralmente viram conselheiros sentimentais.
Outros clichês ausentes: animais de estimação, proposta de casamento, a família louca dele ou dela. E as cenas com roupas íntimas fogem de qualquer erotismo.
Não é uma narrativa com altos teores dramáticos, mas de cenas do convívio cotidiano. Do lado breguinha do amor.
Todas as cenas se constroem em desenhos quase geométricos que se servem apenas de tinta preta e vermelha. A quadrinista expressa, dentro dessas limitações, todo o universo que precisa.
Combina-se a isso uma estética particular do quadrinho mudo. O uso da cor, das texturas e de expressões faciais para contar a história sem falas é exemplar.
O retrato que a autora constrói pode funcionar como retrato ou aspiração de quem se interessa por um livro sobre os momentos bregas da vida a dois.
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