Na mira da fúria de Gibraltar

O livro "Gibraltar e Almafina", segunda parceria do jornalista Otávio Duarte com o artista plástico Rones Dumke, foi lançado há duas semanas na internet de uma maneira, diga-se, um tanto curitibana. Otávio Duarte, autor das poesias, disponibilizou o livro para leitura gratuita em formato digital e fez uma única divulgação do trabalho pelo seu próprio perfil no Facebook. "Na verdade eu nem tenho tantos amigos no Facebook, porque eu prefiro ter amigos de verdade do que pessoas que eu não conheço, não é?", brinca o autor. Em uma semana, o livro teve 420 leituras.

Não apenas a maneira como foi lançado, mas o conteúdo do livro é baseado em referências regionais. O cenário é uma Curitiba ameaçada pela fúria de Gibraltar, que a todo custo quer ter a donzela Almafina, colocando em risco toda a cidade e seus personagens. Gilda, Oil Man, a cobra verde do subterrâneo do São Francisco e até o monge João Maria estão no texto de Otávio Duarte. "Eu acho que a literatura cria um fundo para a cidade. Isso é o que os escritores fazem. Temos de falar da nossa cidade e criar em cima dela".

A linguagem épica foi a maneira escolhida para criar um universo mágico, que faz uma "brincadeira literária", como define Otávio, com o folclore urbano. A maior parte da poesia foi feita de maneira independente, para depois ser casada com alguns desenhos, colagens e pinturas de Rones Dumke. Ao todo, 20 obras do artista ilustram o trabalho.

Formato

A opção de disponibilizar o trabalho apenas em formato digital tem dois motivos: o cuidado dos autores em manter a qualidade do material e a preocupação em tornar o livro acessível sem alto custo. A ideia inicial era fazer um livro artesanal em serigrafia, mas o plano foi abortado porque resultaria em um produto muito caro para venda. A solução foi então pensar numa disposição de texto e imagem que garantisse uma boa apreciação na tela de um computador.

A sintonia entre a arte de Rones Dumke e os versos de Otávio Duarte já vem do trabalho anterior que fizeram juntos: o livro "Clepsidra", lançado em 2008, que o escritor considera diferente por ser mais "literário" que "Gibraltar e Almafina", e que não tem a cultura local como tema principal. Por outro lado, a característica trazida do primeiro trabalho para este lançamento é o entrosamento entre arte visual e escrita. "O diálogo entre texto e imagem continua. Eu gosto muito de artes plásticas, e o Rones gosta muito de literatura, então essa conversa flui bem. Somos muito interessados na arte um do outro", explica o autor.

"Gibraltar e Almafina" está disponível para leitura gratuita no site Issuu. A plataforma faz a simulação de um contato real com o livro, permitindo o leitor a virar as páginas e ampliar a visualização.

Apesar do formato tecnológico, o objetivo é direto e tradicional. "É um livro que foi feito para divertir as pessoas, principalmente quem gosta da cidade e de literatura. Eu e o Rones nos divertimos fazendo", simplifica Duarte.