Na natureza selvagem

Terremotos sacodem o Haiti e o Chile. Tsunamis varrem as ilhas do Pacífico. Inundações castigam grandes centros urbanos. O frio e o calor batem recordes.

Diante deste cenário apocalítico, o crítico de arte alemão Alfons Hug – curador de mostras como a 2ª Bienal do Fim do Mundo, em Ushuaia, na Argentina, e as edições da Bienal de São Paulo de 2004 e 2004 – criou há dois anos uma exposição com dez videoinstalações de artistas que refletem sobre as transformações climáticas que afetam o planeta.

Já exibida em países como o Uruguai, o Chile e Berlim, Tempestade chega a Curitiba por iniciativa do Instituto Paranaense de Arte (Ipar), o Instituto Goethe da Alemanha, a Oi e a Fundação Cultural de Curitiba. A partir de amanhã, o Museu da Gravura, localizado no Centro Cultural Solar do Barão, reúne obras de 11 artistas de oito países, entre eles a paulistana Laura Vinci e o mineiro (radicado em Berlim) Marcellvs L., selecionados pela curadoria tanto por sua qualidade artística como por sua relação com o tema.

Para filmar uma violenta tempestade no norte da Holanda, Marcellvs amarrou uma câmera em uma ponte. Em seguida, limpou a lama e o gelo do equipamento e obteve imagens trêmulas de uma revolta natural. "São obras que mostram a confusão e impotência do homem diante de uma força maior", analisa a chilena Paz Guevara, assistente da curadoria.

Ela explica que o vídeo foi escolhido como suporte adotado pela exposição por permitir o movimento. "É o meio da transformação, revela as mudanças climáticas." Dividida a partir dos elementos fogo, água, ar e terra, a montagem quer conscientizar o público sem, no entanto, abrir mão do seu status de arte. "Não se trata de uma análise científica, mas de uma abordagem estética que, pela percepção dos sentidos, dirige nossa atenção à interdependência entre natureza e atividade humana.", escreve o curador da mostra, juntamente com Alberto Saraiva.

Uma boa parte das obras expõe o aquecimento global ao mostrar o derretimento de geleiras. O artista alemão Kalle Laar, por exemplo, instalou um microfone em um glacial a três mil metros de altitude, nos Alpes austríacos, que permite ao público ouvir o ruído de um riacho que se formou com o degelo.

No extremo oposto, o nigeriano George Osodi pesquisou as condições apocalípticas na produção de petróleo no delta do rio Níger e os americanos Reynold Reynolds e patrick Jolley exibem cenários domésticos incendiados onde as pessoas agem normalmente, alheias ao fogo.