Embalar
Ná Ozzetti. Ná Records/Circus Produções. R$ 25 (no site loja.circusproducoes.com.br). Download gratuito em naozzetti.com.br. MPB.
Baseado na canção, Embalar percorre influências com fluidez
Sustentado por composições substanciais e concebido por um grupo azeitado de músicos criativos, habilidosos e imersos num clima de liberdade estética, Embalar é uma daquelas obras que revigoram a canção.
Faz isso de forma manifesta quando conduzido pelas letras de Luiz Tatit, que tem neste formato seu tema principal, como em "Musa da Música", que diz: "Mostra/ Pra quem gosta/ Que aposta/ Na canção/ Zela/ Por aquela/ Que protela/ A extinção"; e até mesmo na espontaneidade dos versos de Tulipa Ruiz que parecem falar sobre o ato de compor em "Pra Começo de Conversa": "Pra começar senão dispersa/ Pode dar traça pode embolorar/ Pega de jeito, vai do começo/ Pra ter o que mostrar".
Mas as sonoridades que partem dessas canções também são sopros de frescor. Elas percorrem e diluem referências com fluidez, elegância de timbres, uma medida de sofisticação nos arranjos, das raízes brasileiras ao pop rock. Tudo a favor da autenticidade do canto de Ná Ozzetti. Um tiro certo. GGG1/2 (RRC)
Acompanhada pela mesma banda desde o disco Balangandãs (2009), Ná Ozzetti explora a vocação mais dançante das canções em seu novo disco, Embalar, lançado há alguns dias com download gratuito na internet.
Arranjado e produzido coletivamente pela cantora e compositora com Dante Ozzetti (violões), Mário Manga (guitarras e violoncelo), Sérgio Reze (bateria e gongos melódicos) e Zé Alexandre Carvalho (contrabaixo), o álbum é um novo passo na direção autoral da formação esboçada no projeto de 2009, que atualizou o repertório de Carmen Miranda, e elaborada no disco seguinte, Meu Quintal (2011).
"Foi o disco em que começamos a experimentar em canções inéditas essa sonoridade que tínhamos desenvolvido", conta Ná, em entrevista por telefone para a Gazeta do Povo.
"Sinto que o Embalar é uma sequência do Meu Quintal, que é um pouco mais contemplativo. Tudo aquilo que não realizamos no anterior, tivemos muita vontade de realizar neste, que tem uma sonoridade de maior peso, outras cores timbrísticas. Tivemos vontade de sacudir o esqueleto", brinca a cantora.
A faixa-título, "Embalar", traduz em tom de celebração a dinâmica de elaboração desta sonoridade. "Esse som e o de lá/ Sim, põe também, pode pôr, pode misturar/ Se puser vai chiar/ Se chiar traz pra cá", diz a letra de Luiz Tatit, coautor de outras três faixas do disco com Dante Ozzetti, além de "Miolo", nova paceria com Ná colaboração que remonta ao início da carreira da cantora no Grupo Rumo, na década de 1980.
"Uma das minhas características é essa coisa coletiva. Comecei minha carreira num grupo, gosto de trabalhar assim", diz.
Ná assina mais três coautorias: "Olhos de Camões", uma "poemontagem" de Alice Ruiz com versos de Luis de Camões que citam olhos; "Os Enfeites de Cunhã", que ganhou letra de Joãozinho Gomes; e "Pra Começo de Conversa", letrada por Tulipa Ruiz.
Esta última é uma das cantoras de maior destaque recente na música paulistana. Kiko Dinucci, outro representante dos mais prolíficos deste cenário, faz dueto com Ná em "Lizete" uma das canções e arranjos que mais remetem ao universo da Vanguarda Paulista.
Ná reconhece a ressonância deste capítulo da música, que protagonizou com o Grupo Rumo ao lado de Itamar Assumpção, Arrigo Barnabé e Premê, na música destes novos artistas.
"Sinto que para eles é uma referência importante", diz Ná. "No meu caso, é uma linha que nunca abandonei."
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