Pode ser um saudosismo bobo, apoiado naquilo que chamamos de memória afetiva, mas se tem uma coisa da qual sinto uma saudade danada é dos cinemas de rua. Do primeiro período que morei em Curitiba, encerrado em 1995, ao meu retorno, quatro anos atrás, foram todos eles dizimados. Alguns literalmente, como o Cine Plaza, na Praça Osório.
Restaram a Cinemateca, que se mantém com uma programação alternativa, e as memórias. Como a de quando o ônibus entrava na Cruz Machado e se via de longe o gigantesco cartaz reproduzido à mão anunciando o filme em exibição no Cine Condor. O primeiro que me recordo tinha um assustador Norman Bates segurando um molho de chaves em “Psicose 3”.
Recentemente estive no Rio de Janeiro e São Paulo, onde os cinemas de rua ainda resistem. Ainda que os tempos sejam outros, são locais que preservam um charme particular e propiciam uma experiência diferente de ser obrigado a atravessar um shopping e suas multidões em vaivém.
Mas, em muito tempo, nada se aproximou tanto da experiência única que um cinema de rua pode proporcionar como ir ao Cine Olido, na capital paulista. Não se trata exatamente de uma sala de rua, visto que fica dentro de uma galeria, juntamente com um teatro, mas isso não diminui sua peculiaridade. Pelo contrário.
A começar pela localização, na Avenida São João, centrão paulistano. Bem ao lado da Galeria do Rock, pertinho de onde alguma coisa aconteceu no coração de Caetano Veloso. Uma região povoada por ambulantes e onde sobrevive outra espécie em extinção: os cinemas pornôs, que durante todo o dia disponibilizam sexo explícito a preços módicos.
No Olido, cuja programação integrava a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, o ingresso também era simbólico: R$ 1. Não conversei com os frequentadores, mas era bem provável que alguns entrassem na sala atraídos unicamente pela oportunidade de ver um filme desembolsando apenas uma moeda. Senhoras charmosas, idosos de passos lentos, hippies de chinelo, gente falando sozinha. Muitos solitários, pouquíssimos casais enamorados ou grupos de jovens empunhando celulares.
Inaugurado em 1957, fechado e restaurado, o Olido mantém sua aparência antiga. Não aquele antigo elegante e altivo, como o Cine Odeon, no Rio, mas o que a gente costuma chamar de “velho” mesmo, com aquele carpete desgastado e poltronas desconfortáveis. Antes da sessão, um jovem dá as boas vindas ao público e anuncia o filme a ser exibido. Um cavalheirismo que também anda fora de moda.
E convenhamos: em que outro cinema seria necessário atravessar um saguão tomado por mulheres trajadas como baianas e homens ao estilo pai de santo, saboreando um farto almoço? Creio que nem em um domingo no shopping.
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