Natural de Andradina (SP), Eleotério fez carreira em Curitiba e hoje vive em São Paulo| Foto: Fabrício Maruxo

A falta de oportunidades fez com que Curitiba perdesse um de seus mais conhecidos livreiros para a cidade de São Paulo. Dia 2 de janeiro, Eleotério Burrego, de 51 anos, pegou a BR-116. Depois de três décadas no comércio de livros, foi obrigado a migrar devido à falta de oportunidades na capital paranaense. Hoje, é vendedor na Livraria Martins Fontes, também editora. E, em meio ao acaso entre os 80 mil visitantes diários da 20ª Bienal Internacional do Livro de São Paulo, a reportagem da Gazeta do Povo o encontrou em um dos corredores do Pavilhão do Anhembi, domingo passado (17).

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"Os vendedores paulistas não sabem vender livros. Sabe por quê? Porque eles não são leitores", afirma Burrego, que acumula mais de 30 anos atrás e à frente de balcões em livrarias curitibanas. De 1975 a 1997, atuou na Livraria do Chain. Então, raspou as economias e abriu negócio próprio. A Livraria do Eleotério, de 1998 a 2003, se tornou o cenário predileto de muitos leitores e escritores curitibanos. Mesmo autores de outras cidades, durante passagem pela cidade, faziam questão de participar, sobretudo, dos encontros nas manhãs dos sábados, realizados na loja da esquina das ruas Amintas de Barros e Tibagi. O negócio não prosperou. De 2004 ao ano passado, ele vendeu livros na Livraria Guerreiro.

"Aqui em São Paulo, diferentemente do que acontecia em Curitiba, não há uma única livraria que seja ponto de encontro de escritores e leitores", constata, em tom de lamento e saudade de um passado "mais do que perfeito" na capital paranaense. Eleotério construiu, ano após ano, reputação não apenas de vendedor mas também de guia e referência. "Perdi a conta de quantos retornos já obtive de clientes que, depois de uma indicação, vieram agradecer por eu ter recomendado determinada obra a qual, sem o meu auxílio, a pessoa não teria acesso."

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Leitor exigente

Eleotério constata que a fama de São Paulo de megalópole, onde parece "existir tudo", se desmente nas livrarias. "Aqui, em São Paulo, não ‘tem tudo’. As livrarias vendem, principalmente, o que é divulgado nos grandes jornais e revistas". Ele garante que as lojas curitibanas são mais completas e oferecem mais variedade do que se pratica na Paulicéia. "Apenas os sebos paulistas apresentam acervos mais completos que os de Curitiba".

Outra constatação do livreiro é que a curiosidade dos leitores, incluindo paulistas e curitibanos, aumenta – progressivamente. "Estar na escola e na universidade é pouco. As pessoas buscam, cada vez mais, o ‘reforço’ por meio dos livros." De acordo com Burrego, o conhecimento está mais nas páginas do que nas salas de aula. "E tem mais: o livro liberta" – e essa idéia já estava estampada na placa de sua (extinta) livraria: "Leia. O livro liberta".

Vontade de voltar

A esposa e os filhos estão em Curitiba. Além da família e dos amigos, ele confessa sentir saudade dos clientes. "Muitos clientes se tornaram amigos." Escritores, professores e estudantes universitários e leitores, de maneira geral, costumavam comprar livros onde o Eleotério estivesse, seja no Chain, na própria livraria ou na Guerreiro. "Aqui em São Paulo tenho clientes. Mas é mais difícil fazer amizade."

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Eleotério diz que, se houver um convite profissional, arruma as malas e volta no mesmo instante para Curitiba. "O que houve foram ‘propostas indecentes’, salários baixíssimos." Ele enfatiza que não exige honorários elevados, mas rendimento que, além da sobrevivência, viabilize a aquisição de jornais e revistas. "Trabalho com livro e tenho de me manter atualizado. Sem informação, não é possível sobreviver." Enquanto isso, segue a trabalhar e a sonhar. "Sonho todo dia que estou, de volta, em Curitiba."