Rio de Janeiro (AE) – Recorde no horário das seis parece que virou mesmo rotina na vida do autor Walcyr Carrasco. Primeiro, foi a adorável O Cravo e a Rosa, em 2000, que fez média de 34 pontos e surpreendentemente repetiu a marca quando foi reapresentada, à tarde, em 2003; em 2001, veio A Padroeira, também com bons índices e, depois, em 2003, Chocolate com Pimenta, a primeira parceria com o diretor Jorge Fernando e um sucesso ainda maior, com média nacional de 37 pontos. Agora, ele lapida o estilo, e lidando com delicadeza com o tema da espiritualidade, chega a conquistar 70% da audiência com Alma Gêmea, que entra agora na reta final. É marca digna de novela das oito, e mais surpreendente ainda se pensarmos que ela foi alcançada em pleno horário de verão.

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Carrasco não gosta, no entanto, de falar sobre fórmulas e possíveis segredos do sucesso – fica até mal-humorado quando é questionado sobre isso. Mas, diante dos fatos, reconhece que o toque de espiritualidade que deu à trama é, sim, um dos ingredientes que mais contribuiu para que ela arrebatasse tantos telespectadores. O quase historiador – antes de optar pela carreira de jornalista, ele cursou três anos de História na Universidade de São Paulo (USP) – que, não por acaso, é hoje chamado de mago das novelas de época. Leia a seguir trechos de entrevista concedida pelo teledramaturgo

Agência Estado – O Cravo e a Rosa e Chocolate com Pimenta foram sucessos. Alma Gêmea, ainda mais. Você acha que o tema da espiritualidade é o diferencial que levou a um sucesso ainda maior?Walcyr Carrasco – Gosto muito do tema, claro, senão não escreveria sobre ele. Mas não posso dizer que seja o responsável pelo sucesso. As pessoas me perguntam por quê do sucesso, e eu digo que se a gente soubesse, seria fácil. No caso, acho que o tema da espiritualidade contribuiu sim, mas não só ele. Sem dúvida, este é um momento em que o tema da espiritualidade é muito forte no mundo inteiro.

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E esta força foi determinante na escolha do tema para a novela?Aí é que está: não. Faço questão de frisar que não penso assim. Sou Rosa Cruz há mais de 25 anos, e li sobre espiritualidade durante a minha vida toda. Foi o que me moveu na escolha do tema.

Você já foi questionado se agora, depois do sucesso no horário das seis, estaria preparado para escrever uma novela das oito. Você vê uma distinção hierárquica entre os horários?Não vejo uma distinção de fato, até porque a Alma Gêmea está dando um Ibope digno de novela das oito. Mas não sou só eu que não vejo esta distinção, o público também não vê, porque quando gosta de uma história, se deixa levar por ela. A Globo também não vê esta hierarquia entre as novelas, até porque é estrategicamente importante ter uma novela das seis que faz sucesso.

A formação em História foi determinante para que você agora escreva novelas de época?Sim. O fundamental que eu aprendi na faculdade de História foi ter o entendimento de como pensavam as pessoas no passado. Isso é um fator de sucesso de uma novela de época, a chave está em você entender como os costumes da época refletiam na cabeça das pessoas.

Como foi quando escreveu Xica da Silva (1996) com pseudônimo?Eu trabalhava no SBT, mas não como autor. Fui convidado para escrever para a Manchete, mas não consegui o desligamento do SBT, e achei que seria desconfortável escrever para outra emissora. Então, propus fazer com um pseudônimo – Adamo Angel –, mas hoje não faria isso. Foi muito interessante, porque pude ver a reação das pessoas sem estar na linha de frente da novela. Ninguém sabia, nem os atores, a equipe. Só o Walter Avancini (o diretor) sabia.

Basta um deslize na audiência para se ouvir falar que o modelo das novelas está desgastado. Você acha que é possível ou até mesmo necessária uma revolução na fórmula?Não sei por que todo o crítico de arte privilegia a palavra revolução, como se a busca de uma nova forma fosse um fator de qualidade. E não é, necessariamente. Você pode promover uma revolução e sair uma coisa espantosa. A gente vive uma época em que a crítica acredita muito na busca pela forma. Mas eu acredito na busca pelo conteúdo. Nunca vou me esquecer de uma vez em que, quando era jornalista, me pediram uma matéria sobre a morte do biquíni, por causa da volta do maiô inteiro. Não fiz a matéria. E as mulheres continuam comprando biquínis, e o público ainda vê novela.

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Você acha que como autor de novelas tem uma marca?Acho que minhas novelas sempre têm um toque de humor. Se bem que o Silvio de Abreu (de Belíssima) também tem isso… Não sei, acho que estou construindo a minha marca.