Sabe-se que o riso é um destino de infinitas estradas: fazer comédia depende pouco do “quê” e muito do “como”. Seja por expressão facial, diálogo, contexto, posição corporal ou mera aleatoriedade, comediantes diferentes aproveitam recursos igualmente distintos para causar no outro o nem sempre explicável ato de rir. De Mr. Bean jamais esperaríamos uma conversa marcante, por exemplo, e nem por isso os sensacionais trejeitos de Rowan Atkinson são inferiores aos ataques verborrágicos de Jerry Seinfeld — a cada ilusionista, pois, seu número especial.
Ainda que algumas séries de comédia tenham parado no tempo, gaguejando bordões e dependendo de risadas gravadas para não gerar uma atmosfera aterrorizante, não faltam opções de humor bom – o que não necessariamente indica bom humor. Isso porque Louie, estrelada, escrita, dirigida e até editada por Louis C.K., notabiliza-se pelo clima soturno que circunda o protagonista, uma versão exagerada do próprio ator. Atualmente em sua quinta temporada, Louie abusa de pessimismo para fazer comédia.
Não passa no Brasil.
Transmitido pelo canal a cabo
Comedy Central
Louie, o personagem, é um comediante de meia-idade divorciado que lida com os problemas cotidianos da maneira mais derrotista possível. Louie, o diretor, aproveita-se disso para desenvolver contextos surreais, como a mulher que foge de seu beijo direto para um helicóptero até então inexistente, ou a nítida troca de atores para representar os mesmos personagens. Apontando sutilmente o foco do riso para si, ele consegue tocar em temas polêmicos e situações delicadas com a tranquilidade de quem passeia no parque.
Valendo-se do baixo orçamento inicialmente oferecido pelo canal FX, Louis C.K. teve carta branca. Hoje ele é um dos grandes nomes da comédia, seus shows de stand-up lotam e a série costuma ser louvada por críticos, apesar da audiência não tão expressiva. Popularidade, afinal, não costuma andar de mãos dadas com carta branca e baixo orçamento, o que ocasionalmente traz ao seriado a perigosa classificação de humor inteligente.
É aí, pois, que entra outro vértice desse hipercubo do humor: na série Workaholics, com a quinta temporada recém-finalizada, acompanhamos três colegas de trabalho que moram juntos, ou três colegas de quarto que trabalham juntos. São, enfim, três amigos completamente irresponsáveis e infantilizados, abusando de substâncias ilícitas antes, depois e durante o emprego ordinário de atendentes de telemarketing.
Ao contrário de Louie, Workaholics evita qualquer drama metafísico para se concentrar em besteiras que raramente carecem de álcool ou necessidades fisiológicas. E é ótimo! Dirigindo a atenção para a incrível falta de discernimento dos protagonistas Adam, Blake e Anders, a série entrega qualidade à sua maneira por meio de obscenidades, piadas de masturbação e estados debilitados da consciência. Tudo isso facilmente a categoriza como um besteirol, ou, aplicando a lógica supracitada, um humor burro. Não por acaso, entretanto, seus atores principais já deram as caras nos seriados Community e Arrested Development, dois favoritos dos críticos.
Se é verdade que, seguindo a lógica de Dadá Maravilha, não existe gol feio, pois feio é não fazer gol; podemos esboçar o mesmo raciocínio na comédia. Não existe humor burro; burro é não fazer rir. A cada iludido, sua preferência.