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Na última semana, a MTV brasileira esteve com uma cara tipicamente curitibana. Não, os VJs não trajavam cachecóis ou sequer exibiam a brancura típica de um copo de leite quente. Tratava-se da estréia do especial MTV Apresenta – Relespública, show gravado pela banda curitibana em setembro, que deve chegar às lojas na metade da próxima semana, nos formatos CD e DVD.

Entre os músicos Fábio Elias (vocal e guitarra), Ricardo Bastos (baixo) e Emanuel Moon (bateria) e o produtor Marcelo Crivano, o clima era de comemoração e expectativa. A Relespública foi a primeira banda curitibana a lançar um trabalho exibido nacionalmente pela emissora musical brasileira, que gostou tanto do resultado a ponto de transformá-lo em CD.

Na sala de reuniões da gravadora curitibana Villa Biguá – de cujo elenco a Reles faz parte – em frente a uma tevê de 29 polegadas, exibindo as imagens do DVD, a reportagem do Caderno G entrevistou, conjuntamente, o falante Fábio Elias, o ponderado Emanuel Moon e o tímido, mas conciso Ricardo Bastos. Todos falaram sobre o novo projeto e dos percalços vividos nestes 17 anos de trajetória da banda. Confira abaixo alguns trechos da conversa.

Caderno G – O MTV Apresenta acaba de ser exibido e está em fase de reprises. Como foi ver tudo pronto, sendo transmitido nacionalmente? Estão muito orgulhosos?Fábio Elias – Estamos superfelizes de realizar esse sonho de gravar um show e ser transmitido para o Brasil inteiro. Isso é uma conquista muito importante para nós, porque apesar de termos feito muitas músicas e gravado demos e CDs, gravar um show sempre foi um sonho.

Quais são as expectativas da banda em relação a este projeto? Que tipo de alcance esperam que ele tenha?FE – Queremos que ele chegue, principalmente, à galera que tem MTV em casa, que gosta de música e que está ligada nas bandas novas.

Emanuel Moon – Também queremos continuar fazendo mais músicas, lançando mais discos e esperamos que esse seja o primeiro de muitos DVDs. O projeto nos dá mais credibilidade e força para cada vez pensarmos em novas iniciativas futuras.

Como vocês mesmos citaram, a exposição foi muito grande e muitas bandas da cena local e a própria imprensa, ao saber da notícia que vocês gravariam um MTV Apresenta, passaram a especular o valor do investimento da Villa Biguá no projeto. Comentários mais maldosos deram conta de que bastava pagar para participar. Gostaria que comentassem esse tipo de reação e que falassem mais detalhadamente sobre como funcionaram as negociações para a realização do especial.FE – A gente não pagou para aparecer. Chegamos na MTV há muito tempo. Quando íamos tocar em São Paulo, sempre levávamos nossos discos e demos até lá. Acabamos conhecendo o pessoal da MTV, que sempre ia aos nossos shows. A Relespública não é uma banda que surgiu há dois anos querendo pagar para aparecer. Para fazer um DVD desses há um custo de produção e isso foi uma negociação da gravadora com a emissora.

EM – O importante é que saibam o quanto a gente suou e batalhou até chegarmos aí.

Ricardo Bastos – Não basta um artista chegar na MTV e falar ‘quero fazer um MTV Apresenta aqui está o dinheiro ‘, as coisas não funcionam assim. Primeiro fomos convidados, depois, existe o custo de qualquer outro show bem produzido.

FE – Chegamos lá com As Histórias São Iguais, último CD que lançamos, e com os videoclipes de "Nunca Mais" e "Garoa e Solidão". Tudo isso chamou a atenção da direção artística da emissora e do público. O clipes tocaram bastante e "Garoa e Solidão" até hoje está na programação das rádios paulistas. A MTV percebeu que a gente não é fogo de palha, que temos algo a dizer e a oferecer.

Nesses 17 anos de carreira da Reles, o público vem se renovando bastante. É comum encontrarmos uma garotada nos shows de vocês. Como vêem essa mudança e como definiriam o público da banda hoje em dia?FE – Desde que começamos tivemos galeras diferentes. Quando começamos, eram os amigos da escola que iam aos shows. Depois, na época em que o Ricardo estudou no Cefet, o nosso público eram os alunos de lá. Com o tempo, o público foi mudando e crescendo junto com a gente, assim, uma galera mais velha começou a aparecer nos shows, passamos a tocar para pessoas de 25 a 30 anos. Quando lançamos As Histórias São Iguais, toda a molecada que estava curtindo as bandas novas da cidade como Faichecleres e Dissonantes, e que gostavam do Cachorro Grande, do Rio Grande do Sul, passaram a ser o nosso público.

EM – A gente sente que há uma identificação muito grande com as letras. As pessoas vêm conversar comigo nos shows e sabem melhor as letras do que eu (risos), querem aprender a tocar, mandam e-mails para mim e para o Fábio pedindo quais são as notas de guitarra, como fiz aquela bateria.

FE – Isso é o mais importante para a gente que faz música. Ver uma moçada que estava nascendo quando a gente começou a tocar, vindo falar que as nossas letras refletem a realidade delas. Com isso a gente se renova e se enche de gás para continuar fazendo o que a gente gosta: rock-n-roll.

Em 2000, vocês chegaram a integrar o elenco da gravadora Universal Music, selo que lançou o álbum O Circo Está Armado, na época em que eram um quinteto. O resultado parece não ter sido o esperado, visto que deixaram a gravadora em pouco tempo. Como foi essa experiência?FE – Éramos contratados da Universal mas, na época, a banda não estava consigo mesma. Cada um estava indo para um lado, o som estava se desvirtuando, o visual também. Estávamos deslumbrados com aquilo tudo, pois era a primeira vez que tínhamos um contrato com uma grande gravadora. Para nós era tudo novo. Éramos marinheiros de primeira viagem. Achávamos que estando no Rio de Janeiro, teríamos mais chance do que em Curitiba e isso foi a maior viagem. Torramos toda a nossa grana e não deu em nada (risos).

EM – Não teve essa história de que deu errado. Com um CD independente, que divulgamos do fundo da minha casa, com internet discada, chegamos na gravadora que, na época, era a maior do país. Então não foi algo que deu errado, na verdade, deu supercerto. Todo mundo fala, ‘a Relespública não deu certo na Universal’. Mas ninguém fala de como a gente deu certo para chegar até lá (risos).

RB – A gente aprendeu muita coisa de lá para cá e valeu. Valeu muita à pena passar por tudo isso. faria tudo de novo.

EM – No fim das contas hoje nós estamos em uma gravadora, mas somos completamente independentes.

FE – Quando você faz a coisa pensando em primeiro lugar na música, não é a gravadora, não é o mercado ou um momento não-propício para o seu som que vai te fazer desistir. Nós optamos por continuar tocando, pois sempre acreditamos nas nossas músicas e naquilo que temos a dizer. A nossa amizade e a nossa vontade de fazer música não vai parar por nada, nem ninguém.

A relação da Relespública com a Villa Biguá parece ser um indicador de que as coisas estão melhorando na cena independente local. Acham que estamos no caminho certo? O que falta para melhorar o acesso do público à música que é feita aqui?FE – Falta o público, antes de hostilizar o artista que é da terra dele, valorizar a própria cultura. As bandas daqui têm um trabalho decente, têm músicas boas, há coisas geniais brotando das mentes criativas do compositores paranaenses.

EM – Os meios para se chegar ao público ainda são muito complicados. Sabemos que há muita gente de talento por aqui, mas muitos não têm o ímpeto e a vontade de enfrentar todas essas batalhas que a gente vem enfrentando ao longo dos anos.

Juliana Girardi

A Relespública faz um pocket-show de lançamento do CD/DVD MTV Apresenta – Relespública no próximo dia 25 de abril, às 19 horas, na Fnac do ParkShopping Barigüi (R. Pedro Viariato Parigot de Souza, 600). A entrada será franca. Mais informações pelo telefone (41) 2141-2000.

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