Ao contrário de muitos artistas, João Urban sabe vender seu peixe. Cedo na carreira de fotógrafo, percebeu que suas imagens podiam ser trocadas por um dinheiro bem-vindo. De início, a verba resultante das fotos publicitárias era recebida de olho na contribuição que representaria para a "causa". Militante, Urban participou da resistência contra a ditadura militar e chegou a ser interrogado quando tirou fotos de soldados.
SLIDESHOW: Veja as imagens de algumas fotos feitas por João Urban
Sete livros de fotos publicados depois, o fotógrafo de olhos azuis e, hoje, cabelos brancos faz circular suas imagens em meios sofisticados. Um exemplo é o portfólio de alto padrão com 18 imagens da carreira de Urban lançado pela editora artesanal Omicron Fine Art, durante o evento Paraty em Foco, realizado no mês passado.
A divulgação de seu trabalho na internet rende vendas avulsas também. Quando a reportagem visitou o apartamento de Urban, o fotógrafo estava com duas ampliações prontas para entrega. O comprador se interessou pela imagem de um casal de boias-frias (veja na foto acima) e por uma singela casca de laranja, que, pendurada a uma parede de madeira para secar, remete às receitas populares que marcaram a infância de quem nasceu no campo. "Nunca pensei que essas imagens fossem interessar a alguém", surpreende-se.
Com o olho no futuro, Urban visualiza o momento em que ampliações de fotos em filme (não feitas com câmeras digitais, mais comuns hoje) valerão uma pequena fortuna. "Um dia vai ser vintage. Mas ainda não."
Influências
Se você perguntar quais foram as influências estéticas de Urban, talvez ele dispare o nome do alemão August Sander, com quem divide o gosto pelo retrato, muitos deles em que a pessoa em questão olha para o fotógrafo.
Mas o fato é que pessoas bem mais próximas tiveram ligação direta com seus primeiros cliques e a escolha de temas: um tio mantinha um laboratório no porão da casa dos pais de Urban, que o invadia constantemente. Quando o idolatrado parente, fotógrafo amador, comprou uma segunda câmera um pouco mais avançada, deixou o modelo Brown Jr à toa para o sobrinho que hoje não se lembra se chegava a clicar ou só fingia que fotografava.
A proximidade com trabalhadores rurais veio pela influência de um cunhado que tentou empreender atividades no campo e com quem Urban fazia escaladas pela Serra do Mar. "Comecei fazendo um registro bastante básico das nossas atividades montanhísticas", relembra.
Entre esses primeiros cliques e o ensaio com boias-frias que o lançou no campo da foto autoral, houve fotos para métodos de alfabetização e teatro isso antes de Urban descobrir o ganha-pão da publicidade.
Mais adiante, o contato com trabalhadores, sejam os boias-frias ou personagens das colônias polonesas, fluiu bem porque, segundo Urban, ele passou a infância "enchendo" os funcionários da marcenaria do pai.
"Mas talvez nada disso [os ensaios da carreira] teria acontecido se não tivesse havido a grande crise no campo do Paraná", diz, referindo-se ao êxodo rural que expulsou da roça para a periferia das grandes cidades grandes quantidades de famílias nas décadas de 1960 e 1970. "Toda pessoa que tinha uma sensibilidade se interessou pelo que estava acontecendo."
Os descendentes de poloneses que ele encontrou em polos como Cruz Machado, no sul do estado, pertenciam a uma classe média rural, com quem Urban teve fluência de cara por ser "filho da Janina". "Todo mundo conhecia minha mãe."
Em ambos os temas, Urban sente que retratou um momento em extinção do Paraná. "Hoje com as cooperativas muita coisa mudou para o trabalhador rural. E as parabólicas mudaram tudo nas colônias também."
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