Como acontece periodicamente, uma série de atrizes proeminentes estiveram recentemente dizendo que não estariam avessas a interpretar James Bond se o papel icônico tivesse seu gênero trocado e fosse oferecido a elas. Gillian Anderson tuitou com aprovação um pôster feito por um fã retratando ela na pele do famoso espião britânico. E a estrela de “Quantico”, Priyanka Chopra, disse à revista Complex que não tem nenhum interesse em interpretar uma Bond Girl, um papel que se tornou famoso, mas tão descartável quanto o do espião.
Os comentários de Anderson e Chopra provavelmente têm tanto a ver com um desejo por um papel estilo Bond quanto são uma expressão de um desejo de vestir um Le Smoking, carregar uma Walther PPK e se apresentarem como Jane Bond. Mas, previsivelmente, suas observações incitaram a usual rodada de queixas de que mulheres não podem interpretar James Bond por causa da tradição, ou, como Johnny Oleksinski pôs no New York Post, um filme de Bond é “um filme de ação frívolo, não um curso de estudos de gênero na faculdade de Oberlin (onde se formaram Alison Bechdel e Lena Dunham, por exemplo)”.
Mas, ainda que eu seja totalmente a favor da ideia de que mulheres deveriam ter chances iguais de interpretar personagens que têm sido tradicionalmente interpretados por homens sem nenhuma razão particularmente boa para isso, e ainda que me repugne ter de concordar com alguém que apela para tolices tão preguiçosas assim em seus textos, temo que tenha de me colocar do lado de Oleksinski nesse tópico. Mulheres deveriam conseguir grandes papéis de espiãs. Mas não deveriam interpretar James Bond.
Estudo da masculidade
Não é exigido que James Bond seja um homem porque somente um homem pode levar uma sequência de ação crível, ou apenas um homem pode seduzir uma série de lindas mulheres, ou apenas um homem pode crivelmente representar o Império Britânico, ou por qualquer similar baboseira sem sentido. Mulheres podem fazer todas essas coisas na vida real, e certamente deveríamos ter permissão para fazê-las na tela.
Ao invés disso, James Bond deveria ser interpretado por um homem porque o personagem é um estudo da masculinidade em um contexto particular. Ter uma mulher interpretando o principal espião do serviço secreto britânico, uma personagem que usa sua sexualidade para obter informações e vantagens sem ser julgada por isso, e que vai até o fim do mundo em defesa de seu país, seria fascinante. Uma atuação como essa iria desafiar pressupostos a respeito do que homens e mulheres podem fazer. Mas não exploraria o que filmes de James Bond são desenhados para explorar: o que é considerado desejável e admirável em um homem a qualquer momento.
Alternativas
Escalar um homem negro, como David Oyelowo ou Idris Elba, para o papel de James Bond daria à franquia uma nova perspectiva sobre a intersecção de masculinidade, raça, sexualidade e poder, uma combinação particularmente poderosa dado o legado do colonialismo britânico e o lugar de Bond dentro dele. Escalar um homem asiático iria contra as maneiras como Hollywood tem tradicionalmente tratado asiáticos e asiático-americanos como nerds assexuados socialmente inábeis, especialmente em um momento em que a influência cultural crescente da Coreia do Sul está oferecendo poderosas alternativas a esse modelo. Permitir que o James Bond de Daniel Craig mostrasse sofrimento físico e psicológico em “Skyfall” fez do filme um dos episódios mais elegíacos e sensíveis que a franquia ofereceu em anos.
Exceção
E indo além da questão de o que James Bond representa, acredito que vale a pena fazer sérias perguntas sobre se permitir que mulheres ocasionalmente peguem papeis que previamente eram reservados a homens é um passo adiante significativo para a igualdade de gênero na indústria do entretenimento. Ainda que pudesse ser uma divertida mudança de passo ver a indomável Anderson ou uma recém-chegada aos Estados Unidos como Chopra no lugar de Bond, ela seria uma exceção em vez de uma regra. E é a regra que importa.
Se nosso objetivo é que Hollywood crie papéis de ação para mulheres que estarão disponíveis por décadas a vir, então precisamos de franquias que sejam construídas ao redor de mulheres. Precisamos de papéis como Bond, ou Jack Ryan ou Capitão Kirk que sejam desenhados para serem ocupados por uma série rotativa de mulheres. Emprestar o smoking de Bond pode ser uma fantasia divertida. Mas poder de verdade significa ter um papel que não temos de devolver aos homens.
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