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Maria Bethânia alegrou o público curitibano em apresentação do Circuito Cultural Banco do Brasil em Curitiba | Bárbara Magalhães/Divulgação
Maria Bethânia alegrou o público curitibano em apresentação do Circuito Cultural Banco do Brasil em Curitiba| Foto: Bárbara Magalhães/Divulgação

Opinião

Pela tela das câmeras digitais

Isadora Rupp, repórter

Não sou contra tirar a foto de um ídolo e guardar um registro que dure além das horas do show. Mas o uso desenfreado das câmeras digitais e dos celulares com o equipamento acoplado têm prejudicado apresentações, como aconteceu no show de Maria Bethânia. O aviso era claro desde o início: proibido fotografar ou filmar. Mesmo assim, logo na primeira música, foi um festival de flashes de todos os cantos do Guairão. Torci para que o frenesi durasse poucas canções, mas o ato se repetiu ao longo do espetáculo. As luzes atrapalharam, e muito, a cenografia e as pessoas que, como eu, ainda preferem o modo mais eficaz e primitivo de se registrar um bom momento: a memória.

Chico Buarque e Maria Bethânia não escondem a grande – e mútua – admiração que têm um pelo outro. Isso ficou evidente durante o show que a cantora realizou em um Guairão lotado no último domingo, e que fechou o projeto Circuito Cultural Banco do Brasil (CCBB) em Curitiba, que também teve apresentações de Lulu Santos cantando Roberto e Erasmo Carlos e Sandy interpretando Michael Jackson.

No repertório de Bethânia, que teve cerca de 30 canções, foi possível ver como a cantora interpreta, impecavelmente, as letras de seu grande amigo. Com algumas músicas repaginadas, puxando mais para o samba, ela conseguiu animar e também levar o público às lágrimas, que, atônito com sua voz, não se atrevia a cantar junto com ela: ouviam-se apenas sussurros de uma plateia bastante eclética.

Bethânia abriu o show com "Rosa dos Ventos", música que já faz parte de seu repertório, seguida por "Baioque". Outro presente foi a interpretação de músicas que o próprio Chico não canta mais, por considerar fora do contexto atual. "Cálice", "Roda Viva" e "Apesar de Você" ganharam força na voz de Bethânia, que explora bastante a teatralidade no espetáculo. Ponto também para a cenografia do show, muito afinada com os momentos mais animados e também com os mais melancólicos, como em "Olê, Olá".

Outro momento emocionante foi a exibição de um vídeo de Bethânia e Chico cantando "Sem Fantasia" no espetáculo de 35 anos de carreira da cantora, há 10 anos. Bethânia vibrou, de braços abertos e sorriso largo no rosto. Funcionou a maneira dinâmica como as músicas foram apresentadas (praticamente sem pausa) e o potpourri de "Cala a Boca Bárbara" com "Tira". Generosa com fãs que gritavam "casa comigo", respondia: "eu caso, faço tudo o que vocês quiserem". Bethânia declamou letras como "Gota d’Água", e também precisou da partitura ao cantar "Brejo da Cruz". Nada que tenha atrapalhado o andamento e a beleza do show, afinal é uma letra complexa. No curto e rápido bis, o público não conseguiu ficar sentado com "A Banda".

Lulu

Na sexta, o show de Lulu Santos abriu o circuito. O cantor e compositor carioca interpretou diversas músicas da fase roqueira de Roberto e Erasmo Carlos, como "Se Você Pensa", "Festa de Arromba" e "Eu Sou Terrível". Lulu inovou nos arranjos, com direito a reggae, rhythm & blues e citações a Bob Dylan (em "Eu Te Darei o Céu"). A nota negativa ficou pelo excesso de repetições. Lulu tocou duas vezes "Sentado à Beira do Caminho", "Se Você Pensa" e "Você Não Serve pra Mim" (cantada brilhantemente pelo baixista Jorge Ailton). E ainda se atrapalhou com algumas letras, o que causou a impressão de que a banda não teve muito tempo para ensaiar.

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