Filmografia
Conheça os filmes com César Troncoso no elenco
Em Teu Nome, de Paulo Nascimento (2009)
Cabeça a Prêmio, de Marco Ricca (2009)
El Cuarto de Leo, de Enrique Buchichio (2009)
Mau Dia para Pescar, de Álvaro Brechner (2009)
O Banheiro do Papa, de César Charlone e Henrique Fernández (2007)
XXY, de Lucia Puenzo (2007)
Matar a Todos, de Esteban Schroeder (2007)
El Viaje Hacia el Mar, de Guillermo Casanova (2003)
Quando não estava filmando, o ator uruguaio César Troncoso aproveitava para dar longas caminhadas por Curitiba. "Já conheço toda a cidade. Saía daqui, ia até a Rua XV, o Rebouças, as Mercês. Andava muito e, depois, fiz a linha turística", diz em uma conversa com a reportagem da Gazeta do Povo, na sexta-feira passada, no Hotel Rochelle.
Durante o mês em que permaneceu na cidade para participar das filmagens de Circular, produção em cinco episódios que marca a estreia na direção de longas dos curta-metragistas Aly Muritiba, Adriano Esturilho, Bruno de Oliveira, Fábio Allon e Diego Florentino, o ator de Montevidéu sentiu-se bem à vontade.
Depois do sucesso internacional do filme O Banheiro do Papa (2007), que protagonizou dirigido por César Charlone e Henrique Fernández, Troncoso recebeu vários convites para atuar no Brasil, e não tem se deparado com os papéis estereotipados que costumam ser concedidos a atores hispânicos. "É mais fácil estereotipar o argentino, embora ele não seja só o que se vê à primeira vista", ri. "O uruguaio é um cara médio, sem características muito marcantes. Como o curitibano. Quando se vem ao Brasil, os turistas querem ver a garota de Ipanema, as palmeiras, o samba, e isso não se encontra aqui. À parte a língua, não noto diferença entre um curitibano e eu", diz.
O próprio Carlos, seu personagem em Circular, um estrangeiro que chega a Curitiba e decide assaltar o ônibus onde os personagens dos cinco episódios do filme se encontram, mistura-se facilmente às pessoas que circulam na Rua XV. O personagem, amargurado por um problema, instigou a imaginação do ator. "O Aly (Muritiba, diretor do episódio do qual o ator participa) conta apenas um fragmento da vida do Carlos. Então, fiz o exercício de imaginar em detalhes seu passado, quantos filhos tem, quanto ganha, porque está no Brasil", conta.
Troncoso terminou as filmagens na semana passada e viajou ao Rio Grande do Sul para dar conta das primeiras cenas de A Oeste do Fim do Mundo, novo longa do gaúcho Paulo Nascimento, com quem já trabalhou no drama Em Teu Nome (2009). Ele interpreta Leon, um veterano da Guerra das Malvinas isolado na Patagônia, onde viverá uma história de amor com a personagem da atriz Fernanda Moro cujo ex-marido será interpretado por Carlos Bardem, irmão do ator espanhol Javier Bardem.
O uruguaio, que também trabalhou no longa Cabeça a Prêmio (2009), estreia na direção do ator Marco Ricca, se interessou por Circular logo que recebeu o roteiro. "Gostei muito do que li. E, quando cheguei aqui, me senti muito confortável ao lado desse grupo talentoso que trabalha muito bem junto. Foi uma experiência nova trabalhar com pessoas tão jovens. Os outros diretores com quem trabalhei são mais ou menos da minha idade", diz o ator de 47 anos.
Ator, fora do expediente
Um dos mais requisitados atores de seu país, Troncoso vai filmar no Brasil por cerca de dois meses graças à compreensão de seus patrões. É isso mesmo. Ele trabalha há 24 anos em uma empresa de contabilidade em Montevidéu. "No Uruguai, é muito difícil viver só da arte. Por um lado, isso é bom, porque, como não é meu ganha-pão, elejo os papéis que faço", conta.
Troncoso começou a atuar no teatro em um período em que a produção de cinema no país ainda era incipiente. "Não temos ficção televisiva como aqui, só a brasileira. Atualmente, estamos assistindo a Caminho das Índias. Mas há 20 anos se faz cinema com continuidade", conta ele, que estreou nas telonas com El Viaje Hacia el Mar (2003), dirigido por Guillermo Casanova.
O ator atribui a qualidade dos filmes uruguaios à necessidade de obter recursos internacionais. "Temos que apresentar projetos muito bons, que serão selecionados por um corpo de jurados", conta. A boa acolhida fora do país, no entanto, não garante o prestígio dos filmes pelos próprios uruguaios que, como todo espectador pouco acostumado a ver o que foge do padrão hollywoodiano, ainda resistem ao ritmo lento e à ousadia autoral do cinema independente.
O Brasil tampouco conhece bem o cinema de seu país vizinho. "Fui a algumas locadoras de Curitiba e encontrei Gigante, Whisky, O Banheiro do Papa. Mas temos muitos outros, produzimos de quatro a sete filmes por ano", conta Troncoso. No Uruguai, a situação brasileira também não é das melhores. "Só temos acesso a produções grandes como Cidade de Deus e Tropa de Elite, que chegam via distribuidoras norte-americanas", diz Troncoso, mais adepto de produções que, como as uruguaias, tratam de seres humanos e suas pequenas histórias.
Ele critica alguns filmes brasileiros que, diante de um grande orçamento, acabam se tornando vazios. "O arroz e feijão é algo muito simples, mas que todos comem por aqui. No cinema é a mesma coisa. Quando se faz algo muito complicado, se perde o principal", diz.
Em sua opinião, sua participação em filmes brasileiros é um dos indícios de que começa a haver um intercâmbio entre os dois países vizinhos, mas que pouco se conhecem. "O cinema latino-americano deveria ter um sistema de distribuição próprio. O Mercosul não deveria servir só para trocas industriais", considera.
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