Levar 25 mil pessoas à gravação de um DVD na Pedreira Paulo Leminski, em Curitiba, não é tarefa fácil. Ainda mais para um grupo paulistano de pagode na pouco sambista capital do Paraná. Mas um feito desses mostra que nada é óbvio na história do Inimigos da HP, que lança agora o DVD "Ao vivo em Zoodstock". A obra já está nas lojas.
A banda paulistana de pagode-pop começou a carreira em 1999, tocando no circuito universitário de São Paulo. Não à toa, o nome do grupo vem das famigeradas calculadoras científicas da empresa Hewlett-Packard, com quem os cinco engenheiros e formação do grupo (completado por um advogado e pelo o publicitário Sebá) conviveram por todo o período de graduação. "Depois de formados, a galera queria mesmo era fazer música. Daí o nome "Inimigos da HP" - deixaram a calculadora na gaveta e foram fazer samba", explica o vocalista Sebastian Arietti, o Sebá, em entrevista ao G1.
Apesar de a banda ter saído das festas de alunos de faculdades como o Mackenzie (onde o grupo se conheceu), o Inimigos da HP rejeita o rótulo de "pagode universitário": "No começo a expressão tinha mais a ver com a gente", justifica o cantor, "mas hoje tocamos para um público muito maior, estamos em várias rádios, atingimos várias classes sociais. Acho melhor sermos chamados de 'pagode pop', especialmente pela nossa mistura de ritmos".
Essa mistura de ritmos realmente se sobressai no DVD "Ao Vivo em Zoodstock", versão em vídeo do disco lançado em agosto desse ano. A música de abertura,. "Toca um samba aí", tem groove funkeado e um naipe de metais que não são típicos do pagode mais tradicional. Além de elementos de rock, soul e música romântica, o DVD da banda tem medleys que trazem dance music (com direito a "Dancin' days", das Frenéticas), funk carioca ("Rap das armas") e revival infantil dos anos 80, com músicas como "Ilariê" e "Uni duni tê". Nos bônus, a banda aparece em parcerias com a dupla sertaneja Edson & Hudson e com o grupo de pagode Fundo de Quintal.
Tatuado e aparecendo no vídeo vestindo blazer e uma camisa pólo, Sebá sabe que o Inimigos da HP estão longe de parecer um grupo tradicional de pagode, mas também está consciente de que este é o diferencial da banda: "Nós misturamos mesmo, trazemos vários elementos para a nossa música - por isso o rótulo 'pop', ele nos dá essa abertura".
Com quase dez anos de palco e estrada, o Inimigos da HP recebe elogios de bambas como Bira Presidente, do tradicionalíssimo Fundo de Quintal, grupo de pagode nascido do bloco carnavalesco Cacique de Ramos. Mas Sebá conta que a banda sofreu um certo preconceito quando começou, em 1999: "O preconceito vinha de dois lados - o pessoal do morro, que ouvia samba desde pequeno, não acha que nosso som era 'de raiz' o suficiente, enquanto nossos amigos não gostavam de pagode, não era música para a nossa classe social".
Ao vivo
Acima das rádios ou dos discos, o Inimigos da HP é uma banda cuja grande vitrine são os shows - dos quatro álbuns da banda, apenas o primeiro, "Inimigos da HP independente", de 2001, foi gravado exclusivamente em estúdio, os outros três são registros ao vivo do grupo. Um show dos Inimigos, como abreviam os fãs, é um espetáculo completo, com cara de balada. Dessa forma, a banda não está muito longe das micaretas da axé music, que, como disse o empresário Emanuel Junior em entrevista recente ao jornal "Folha de S. Paulo", vende "beijo na boca".
"A letra de 'Toca um samba aí', uma das músicas de maior sucesso do Inimigos, diz: 'Toca um samba aí que eu vou me apaixonar/ Hoje eu só quero é beijar, beijar, beijar'. Com certeza beijo na boca vende muito bem", admite Sebá, "Mas também nos preocupamos em tocar músicas que não banalizam o beijo na boca".
A faceta romântica é forte entre os temas da banda, que tem músicas com títulos como "Isso é amor" e "O dia do nosso amor". A letra de "Tudo como está" poderia muito bem pertencer a algum artista "brega" brasileiro dos anos 70: "Um gole e outra indecisão/ Sapato no canto da sala /Rádio ligado fora de estação e eu nem me incomodo mais". Sebá acha que a banda se inclui facilmente na tradição romântica da música brasileira: "Mesmo com um ritmo diferente, colocando as pessoas para pular, nós somos românticos - 99,9% das minhas composições têm esse tema".
Acima de todas as novas influências, todo o espetáculo e adereços, o Inimigos da HP mostra com propriedade que é um grupo de samba de fato numa roda, no final de "Ao vivo em Zoodstock", ao lado dos pais da matéria do Fundo de Quintal, cantando "A batucada dos nossos tantãs": "No seu ecoar, o samba se refez/ Seu canto se faz reluzir/ Podemos sorrir outra vez/ Samba, eterno delírio do compositor/ Que nasce da alma, sem pele, sem cor".
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