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O escritor, roteirista, dramaturgo e diretor teatral Fernando Bonassi, de 44 anos, não acredita em saída para o Brasil a não ser uma urgente e radical transferência de renda. "Concordo em dividir tudo o que tenho, só fico com a casa e o carro. O resto, eu dôo". Para ele, a outra alternativa é ver o país se desagregar socialmente, se esfacelar da forma mais cruel, sangrenta e irreversível, nos próximos 50 anos. A autodestruição se dará por meio de uma escalada da barbárie, que, assegura ele, já teve seu marco inicial: 16 de maio de 2006, dia em que a organização criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) parou e aterrorizou São Paulo.

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Muito desse fatalismo está no germe de O Incrível Menino na Fotografia, que estréia hoje no Teatro Paiol, dentro da Mostra Contemporânea. A montagem toma como base uma das narrativas de Bonassi, incluídas no livro Histórias Extraordinárias, publicado pela editora Conrad. A peça, escrita em forma de monólogo, tem como personagem único um aluno de 14 anos paralisado diante do rito de passagem da foto obrigatória no grupo escolar, em 1936. O tempo passa e ele continua ali, imóvel porém suscetível a uma deterioração tão lenta quanto fatal.

O adolescente tem de ocupar uma cadeira, atrás de uma mesa, cercada por bandeira e outros símbolos nacionais – numa situação que milhares, senão milhões, de brasileiros de determinadas gerações vivenciaram e da qual guardam a lembrança, devidamente emoldorada, carcomida pelo mofo ou não.

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O personagem interpretado por Eucir de Souza se vê imobilizado no tempo, mais ou menos como Bonassi vê o Brasil, prisioneiro de uma promessa não-cumprida de progresso, justiça social e desenvolvimento humano. Inércia à qual o autor também associa o presente. "É um registro que simboliza muito do que o país fez consigo dos anos 40 até aqui", afirma o autor.

Para Bonassi, o texto trata de um período "fundador" do estado de coisas a que a sociedade chegou com a falta de ausência de uma programa sério de distribuição de renda. "No início, pensava ter em mãos um texto mais trágico, amargo, mas a equipe me ajudou a também perceber o viés cômico", afirma.