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De salas de aula nem sempre glamurosas está saindo a nova geração do teatro paranaense. Dentro de um mês, os alunos de artes cênicas da Faculdade de Artes de Paraná dão o último passo necessário antes de serem admitidos como profissionais. E, em muitos casos, o primeiro passo significativo de suas carreiras. Trata-se de uma montagem teatral completa, uma peça nos moldes em que qualquer trupe profissional faz. É uma exigência do curso, que existe há vários anos, mas refinada com o passar dos anos.

Em 2005, seis grupos estão preparando suas encenações. Cada um é comandado por um aluno do curso de direção da faculdade. Há mais alunos no curso, mas só os que apresentaram projetos considerados bons pelos professores podem seguir em frente e fazer o trabalho de conclusão de curso. Cada um forma seu elenco com formandos do programa acadêmico de atuação. Se necessário, estudantes matriculados em outros anos são incluídos. No total, são dezenas de novos atores entrando em cena.

A expectativa para este ano é de que os projetos sejam exibidos todos em seqüência em um único teatro – o que daria uma repercussão maior para os trabalhos. E ainda há a expectativa de transformar a série em uma mostra paralela durante o próximo Festival de Teatro de Curitiba, em março de 2006. Tudo depende de negociações. O certo é que, para conseguir o aval final do curso, cada grupo precisa fazer pelo menos três apresentações públicas de sua obra – em grande parte com recursos do próprio bolso.

"O interessante é que todos os projetos deste ano vão conseguir ultrapassar esse número mínimo obrigatório", diz Márcio Mattana, professor do curso de direção e um dos responsáveis pelos projetos. Quase todos estão com temporadas pré-agendadas maiores do que o necessário. E já há quem pense em fazer do trabalho um produto comercial.

Os professores acreditam que o projeto de fim de curso é fundamental para o desenvolvimento dos alunos, que pela primeira vez se vêem às voltas com todas as etapas da criação de um espetáculo. Eles são responsabilizados por tudo: desde a escolha do texto até a negociação de direitos autorais, desde a seleção do elenco até a maquiagem. Arranjar o dinheiro extra para a peça também é papel dos alunos. A FAP, numa iniciativa inédita, está disponibilizando um valor mínimo para cada grupo, de aproximadamente R$ 1,7 mil.

Outro fator de relevância do projeto, segundo os professores, é a aproximação de alunos para formação de futuras companhias. "Às vezes, o pessoal sai daqui como grupo de amigos e acaba se transformado em uma equipe profissional", fala Andrei Moschetto, professor da FAP que tem experiência própria no assunto. Ele é formado pela instituição, assim como outros integrantes de seu grupo, o Antropofocus.

Um dos diretores que está se formando neste ano, Henrique Saidl, tem uma história desse gênero. Ele é um dos últimos membros de seu grupo, a Companhia Silenciosa, a estar saindo da FAP. Muitos deles se conheceram dentro da faculdade. Dois estão trabalhando com Henrique em seu projeto de conclusão. "O mais importante para a gente, que já trabalha na área, é que essa é uma chance de ter uma visão mais crítica sobre o que você está fazendo", diz Saidl. "Você é obrigado a achar referências teóricas, embasar teu trabalho no de outros diretores conhecidos, escrever sobre o que está pensando", fala o jovam diretor, que já fez uma pré-estréia de seu trabalho de conclusão a convite do Teatro Guaíra. Parasitas, peça do alemão Marius von Mayenburg que Henrique Saidl está montando, foi convidada para participar de um ciclo de leituras dramáticas. Antes mesmo de se formar, o grupo apresentou a peça no palco do Teatro José Maria Santos.

Veterano

Nem sempre os diretores que estão fazendo o projeto são iniciantes. Neste ano, um dos formandos é Fernando Klug, um diretor experiente da cidade. "Ele tem mais tempo de carreira do que eu, mas decidiu fazer o curso agora", brinca Mattana, que ajuda a coordenar o projeto do colega. "Mesmo nesses casos, é importante um projeto como esse. Na época em que eu fiz a faculdade, as coisas não eram desse jeito e até hoje eu sinto falta de ter tido a chance desse aprendizado", afirma.

Neste ano, três dos grupos aceitaram uma espécie de desafio imposto pelos professores. Vão montar textos de outros autores, já conhecidos. Três outros, porém, decidiram enfrentar outro tipo de desafio e fazer textos próprios. "Nem sempre as pessoas têm carpintaria para escrever, por isso recomendamos fazer algo já pronto. Mas há textos que saíram muito bons nesse ano", diz Mattana.

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