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Neil Young A Autobiografia
Globo Livros. 408 págs. Tradução de Renato Rezende e Helena Londres. R$ 49,90.
Não tem a poesia das memórias de Patti Smith, não tem o rigor historiográfico da biografia de Bob Dylan. Entretanto, tem a crueza e a honestidade típica da carreira de Neil Young, de 66 anos. Não segue uma cronologia facilitadora, é elíptico e digressivo, e às vezes cansa com suas histórias intermináveis sobre marcas de carros e ferromodelismo, mas com paciência e atenção o rocknroll escapa pelas páginas e seu fogo consome o leitor.
Trata-se do recém-lançado Neil Young A Autobiografia (Globo Livros). O lilvro conta a história do roqueiro canadense que criou os lendários grupos Buffalo Springfield e Crazy Horse e que inscreveu seu nome na galeria dos heróis da consciência do rock, ao lado de Bruce Springsteen, Bob Dylan, Leonard Cohen, Patti Smith e outros poucos. "É melhor queimar do que se apagar", diz um dos versos mais famosos de Neil Young, citado por Kurt Cobain em sua última carta.
Ao contar sua história, Young pretendeu que ela não resultasse num livro de premeditação, cheio de lances de nobreza e inspiração fabricados. Todos seus vícios e fraquezas são escancarados ao longo da biografia. Ele conta como participou de festas com Charles Manson (que torturou e matou a atriz Sharon Tate, grávida) e tentou convencê-lo a assinar um contrato de gravação de discos. Sobre festas com drogas com Eric Clapton e Stephen Stills, e narra como está tendo dificuldades para compor uma música sequer desde que largou a bebida e a maconha.
Young é pai de dois filhos com paralisia cerebral, Zeke e Ben Young (que nasceu tetraplégico e se alimenta por um tubo no estômago, tem 34 anos e é a quem o cantor dedica o livro) e de uma garota, Amber. Neil é filho de um escritor que largou a família (e que morreria de Alzheimer, em 2005), deixando-o para ser criado pela mãe. Nasceu em Omemmee, uma pequena cidade de Ontário, cuja população era de 750 pessoas na sua infância.
Vivendo numa fazenda nas montanhas de Santa Cruz, ao Sul de São Francisco, Neil Young admite sua impaciência crônica e chuta o traseiro da autocomiseração. Examina com atenção seus próprios excessos, "a fama, as drogas, o dinheiro, as casas, os carros e os admiradores".
Suas reflexões são muitas vezes quase desencarnadas de tão cruas. "Eu achava que comprar um carro ou uma guitarra era como comprar as lembranças de alguém, seus sentimentos e sua história." E ele cita, e às vezes adota, um lema do seu ex-produtor David Briggs, que costumava dizer: "A vida é um sanduíche de bosta. Coma ou morra de fome".
O título original do livro é Waging Heavy Peace (algo como "pagando por uma paz pesada"). "Houve momentos em que fui um banana e deixei para os outros o trabalho sujo, mas aprendi que não é assim que se faz", diz o cantor. Young parece ter escrito para compreender o combustível que move suas próprias escolhas morais, das quais ele não está inteiramente convicto.
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