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Neil Young: autenticidade e emoção | Leon Neal/AFP
Neil Young: autenticidade e emoção| Foto: Leon Neal/AFP

Raridades

A série retrospectiva Archives prevê o lançamento de quatro álbuns inéditos de Neil Young. Confira:

1963 – 1972

O primeiro volume da série, lançado no ano passado, trouxe edições remasterizadas dos quatro primeiros álbuns de Young, de 1963 a 1972, acompanhados de fotos, entrevistas e trechos raros de apresentações ao vivo.

1975 – 1978

Ainda sem previsão de lançamento, o segundo volume da série irá contar com quatro álbuns inéditos – Homegrown (1975), Chrome Dreams (1977) e Oceanside-countryside (1978), além do disco ao vivo Odeon-Budokan Live, com canções gravadas durante shows realizados com o grupo Crazy Horse no Japão e na Inglaterra em 1976.

Neil Young pertence a um seleto grupo de artistas cujos novos trabalhos não são julgados exatamente por sua qualidade musical, mas considerando o que as canções representam em meio ao vasto ca­­tálogo que formaram.

No caso, de Le Noise, 34.º álbum de estúdio de Young, lançado ontem, a qualidade reside na coragem do cantor e compositor canadense. Completamente sozinho, sem a ajuda de qualquer outro instrumentista, ele registrou oito canções em que se ouvem apenas sua voz e sua guitarra distorcida.

A densidade sonora do trabalho ficou por conta do produtor do disco, o premiado Daniel Lanois (U2 e Bob Dylan), que, discretamente, deu tratamento à voz e aos acordes tocados por Young, com a emoção digna de um senhor à beira dos 65 anos, inconformado diante dos problemas do mundo e ainda em busca de respostas.

Para isso, ele convida o ouvinte, logo na faixa de abertura, "Walk with Me", a acompanhá-lo na solitária jornada experimental de Le Noise ("Eu nunca vou te desapontar, não importa o que você faça/ Se você caminhar comigo e me deixar caminhar com você"). Em meio a camadas de distorção, há ainda espaço para o lamento – "eu perdi algumas pessoas durante a minha viagem / sinto falta de suas almas e da amizade" – entoa Young, referindo-se às recentes mortes de dois amigos e parceiros de longa data: o cineasta Larry "L.A." Johnson e o guitarrista Ben Keith.

Sem bateria, baixo ou qualquer outro adereço, Le Noise vai revelando melodia em doses homeopáticas. É o que se ouve em "Someone’s Gonna Rescue You", em que Young transparece uma delicadeza em sua voz (devidamente acentuada por Lanois), que contrasta com a sonoridade suja de sua guitarra.

Com violão desplugado, Young trata de dois de seus temas favoritos na dramática "Love and War", cujo dedilhado remete a "Hey Hey My My (Into the Black)". Ainda panfletando, "Angry World" destaca-se pela sobreposição de trechos vocais, enquanto que "Hitchhiker" vale pela estranha narrativa – uma viagem sobre as experiências com drogas vividas por ele ao longo de muitas décadas.

Em meio a dissonâncias e mi­­cro­­fonias, a apreciação de Le Noise demanda mais esforço do que a maioria dos fãs espera de um disco de Neil Young. Mas a insistência é válida pela autenticidade de sua interpretação e pelo tom emocional das canções, tão bem preservado por Lanois. GGG

Serviço:

Le Noise, Neil Young. Reprise. Importado. Preço médio: US$ 14.

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