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Posicionamento dos atores em nichos próprios durante todo o espetáculo traz sensação de “empacamento” | Maria Baptista/Divulgação
Posicionamento dos atores em nichos próprios durante todo o espetáculo traz sensação de “empacamento”| Foto: Maria Baptista/Divulgação

Estreia

Buraco da Fechadura

Portão Cultural (Av. República Argentina, 3.430 – Portão), (41) 3229-4458. Quarta-feira, às 17 e 20 horas; de quinta a sábado, às 20 horas, e domingo, às 18 horas. Ingressos a R$ 10 e R$ 5 (na quarta, o ingresso é um quilo de alimento não perecível). Até 26 de agosto.

Classificação indicativa: 16 anos.

Serviço

Suave Napalm

Indra (R. Dr. Reynaldo Machado, 81 – Rebouças), (41) 3333-3586. Terça a sexta-feira, às 21 horas. Ingressos a R$ 20 e R$ 10 (3ª e 4ª) e R$ 30 e R$ 15 (5ª e 6ª). Até 24 de agosto.

Classificação indicativa: 18 anos.

  • Grupo de seis atores apresenta seis contos de Nelson na íntegra, sem personagens fixos
  • Gustavo e Guenia interpretam um casal hiperbólico

Nelson Rodrigues não precisa ser realista. Enquanto a maioria das montagens que homenageiam o centenário do dramaturgo, comemorado dia 23 de agosto, mantém o formato de diálogo, o diretor Rafael Camargo coloca atores solitários em nichos individuais para representar seis contos da coletânea A Vida como Ela É na peça Buraco da Fechadura, que estreia hoje no teatro Antônio Carlos Kraide do Portão Cultural.

O título tem relação com a definição que Nelson deu várias vezes para sua obra: a de um menino que olha o que não deve.

VÍDEO: Assista ao teaser do espetáculo

"Pensamos em como é transpor Nelson para os dias de hoje... Normalmente, as pessoas usam preto e branco, figurino dos anos 1940, personagens cariocas e apelo à sensualidade. Quisemos mostrar a universalidade do autor", conta Adriano Petermann, que faz uma atuação contida como contraponto às montagens tradicionais. "Brincamos que este é um teatro do empacado, em que a ação está muito mais na cabeça do espectador."

"É uma visão daquilo que vemos no teatro hoje e no mundo da tecnologia, em que histórias se misturam", contou Camargo (de Lingüiça no Campo, 2001), em conversa com a reportagem. O conteúdo dos contos "O Monstro", "A Dama do Lotação", "Caça Dotes", "Missa de Sangue", "Veneno" e "Unidos na Vida e na Morte" foi utilizado na íntegra, mas adaptado por Camargo para o teatro. Originalmente, os textos foram publicados por Nelson durante vários anos da década de 1950 no jornal Última Hora, de Samuel Wainer.

Rio com frio

Numa interpretação caleidoscópica, os personagens de cada conto surgem na voz de vários atores, confundindo no início o espectador. Por outro lado, a abertura que remete a uma coreografia contemporânea ajuda a entrar no clima do que se seguirá. Contribui ainda a ocupação do proscênio (parte anterior), e não do palco, que fica vazio.

O trabalho das consagradas atrizes Rosana Stavis e Pagu Leal intensifica o clima denso. Estão em cena também Diego Marchioro, Marcel Gritten e Martina Gallarza.

"É difícil para o ator trabalhar sem protagonismo. Como todos vivem os mesmos personagens, acabamos fazendo pesquisa vendo uns aos outros", conta Pagu.

A ideia original já havia resultado em uma peça com direção de Edson Bueno, em 2009 (A Vida como Ela É). Esta segunda parte do projeto, tocado pela produtora Rumo em parceria com o Coletivo Portátil de Theatro de Alumínio, tenta "transformar Curitiba numa grande Tijuca", em referência ao bairro onde se passavam muitas histórias de Nelson e à "estética do frio" que permeia a montagem.

A única vazão da faceta tragicômica de Nelson vem pelo texto, repleto das expressões caras ao autor, como "batata!" e "papagaio...".

O figurino e o cenário casam-se: atores em roupas domésticas ocupam camas estilizadas. Na trilha sonora, Cartola, compositor de sambas quatro anos mais velho do que Nelson e que morreu no mesmo ano em que o dramaturgo (1980). As canções "Acontece" e "Felicidade" surgem desmanchadas, com interferências de Leonardo Pimentel.

Philip Ridley em montagem curitibana

Se você acha que teatro contemporâneo é sinônimo de dramaturgia criada em grupo, irá se surpreender com a trajetória que antecedeu a estreia de Suave Napalm, que tem texto do celebrado e controverso inglês Philip Ridley. Ao assistir ao segundo dia de apresentação da peça, em abril de 2011, no Southwark Playhouse de Londres, o ator Gustavo Lorenzo decidiu correr atrás dos direitos para fazer uma adaptação brasileira – que é a segunda no mundo, depois de uma versão australiana. Ele mesmo traduziu o texto caudaloso em cerca de três meses – tinha que interpretar aquelas linhas.

A trama da peça é centrada no relacionamento de um casal. O que poderia parecer corriqueiro ganha tintas surreais na pena de Ridley. Em uma conversa hiperbólica, os jovens passeiam por diversos mundos. "Optamos por um palco muito intimista, sem cenário, porque a cada cinco minutos a cena muda totalmente", explica Gustavo. O trabalho será apresentado até 24 de agosto no espaço de eventos Indra.

Destruição

Gustavo atua ao lado de Guenia Lemos, a quem assistiu em Séance – As Algemas de Houdini, da companhia Vigor Mortis, e que imaginou no papel. Teve de esperar o nascimento do bebê dela, agora com dois meses e meio, para estrear.

Para compor o clima de construção e destruição de uma imagem atrás da outra, como acontece no texto, Gustavo buscou um diretor de cinema com quem havia trabalhado, Paulo Barros. "Ele trouxe o conceito de liquidez, em que uma situação se transforma em outra", conta o ator.

Outro auxílio veio do próprio Ridley, já que, quando alguém compra os direitos de montar o texto, o autor envia ideias de como ele concebe a história no palco.

Gustavo começou a fazer teatro com Os Satyros quando o grupo ainda estava em Curitiba, há 16 anos, e passou pelos tratos do Cena Hum e da preparadora Fátima Toledo, em São Paulo.

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