Se você gosta de música erudita e tem R$ 50 para desembolsar nesta semana, não vai ser difícil escolher o destino do dinheiro. Nelson Freire – um dos mais importantes pianistas do mundo – vai estar em Curitiba na quinta-feira. Ele toca Mozart e Brahms em uma apresentação com a Orquestra Sinfônica do Paraná. O concerto de Brahms ele apresenta pela última vez antes de gravá-lo para a Decca, um dos maiores selos de música erudita do mundo. Ou seja: o Guaíra vai receber uma prévia de dois discos que qualquer pianista quer ter em casa.

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Nelson Freire tem uma carreira internacional sólida. Aos 60 anos de idade – ainda neste mês ele completa 61 – , já tocou com Pierre Boulez e Kurt Mazur; fez apresentações com a Filarmônica de Berlim e com a Concertgebouw; tem uma parceria com Martha Argerich, outra das mais importantes pianistas de nosso tempo; e já foi incluído em dezenas de listas de melhores instrumentistas da atualidade. Tudo isso certamente bastaria como cartão de visitas. Mas é muito pouco perto de tudo o que Nelson Freire já fez.

Menino prodígio, Nelson assombrou a família com seu talento desde cedo. Fez seu primeiro recital aos 4 anos. Logo, não tinha mais com quem aprender na pequena Boa Esperança, cidade de Minas Gerais onde nasceu. Para dar chance ao menino de se desenvolver, a família mudou-se para o Rio de Janeiro, na época capital federal. O menino teve aulas com boas professoras (entre elas, Guiomar Novaes) e logo estava fazendo concertos profissionais. Aos 11 anos, foi solista em um concerto com a Orquestra Sinfônica Brasileira. Aos 14, deixava o país para ir estudar na Áustria.

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Mini-turnê

O concerto de Curitiba faz parte de uma rápida passagem do pianista pelo Brasil. "Só vou tocar em São Paulo e Curitiba desta vez", conta ele. Depois, comemora o aniversário com amigos e volta para a Europa, onde passa boa parte de seu tempo. Apesar das diferenças óbvias entre tocar no Brasil e em países mais ricos, Freire diz que é sempre um prazer voltar para casa. "Não há comparação de condições. Os pianos daqui, por exemplo, não podem ser comparados aos da Europa", comenta. "Mas até por haver menos oferta de música por aqui, o pessoal é mais faminto por concertos, menos blasê", garante.

De dois anos para cá, o pianista tem mais um motivo para gostar de estar em sua terra natal. O documentário sobre sua vida, dirigido por João Moreira Salles, fez com que Nelson Freire ficasse conhecido por gente que nem costuma freqüentar salas de concerto. "Hoje acontece de eu entrar no táxi e o motorista dizer que me reconheceu, que já viu o filme", diz o pianista. A segunda característica mais conhecida de Freire é a sua timidez. Por isso, ele poderia não gostar desse sutil aumento de popularidade. Mas o pianista conta que está aprendendo a superar esse tipo de problema. Hoje, por exemplo, ele dá entrevistas com mais facilidade. "Mas você não está me vendo do outro lado da linha, roendo as unhas", brinca ele, enquanto fala ao telefone.

Mas ganhar confiança para falar em público não quer dizer que tenha assumido uma postura diferente em relação ao que faz. Apesar de todos os títulos e elogios, Freire continua modesto. "Na maior parte do tempo, não estou contente comigo", diz ele. "Sou muito exigente", completa, antes de voltar a ensaiar o repertório do concerto.

Serviço: Concerto com Nelson Freire. Concerto para Piano e Orquestra N.º 9, em Mi bemol Maior, KV 271 de Wolfgang Amadeus Mozart, e Concerto N.º 2 para Piano e Orquestra, Opus 82, de Johannes Brahms. Com a Orquestra Sinfônica do Paraná. Regência de Alessandro Sangiorgi. Dia 6, às 20h30. Ingressos a R$ 50 (platéia), R$ 40 (1.º balcão) e R$ 20 (2.º balcão).

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