Oliver Sacks, o neurologista e escritor britânico autor de “Tempo de Despertar” e “O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu”, morreu neste domingo (30), aos 82 anos, de acordo com o jornal “The New York Times”.
O escritor, que anunciou em fevereiro de 2015 que tinha câncer de fígado em estágio terminal, morreu em sua casa em Nova York, afirmou sua assistente de longa data Kate Edgar ao jornal nova-iorquino.
Sacks foi chamado de “uma espécie de poeta laureado da medicina” e “um dos grandes escritores clínicos do século 20” pelo “New York Times”. Com Sacks, a ciência se tornou poesia, disse o “Times”.
Usando uma máquina de escrever ou escrevendo à mão, Sacks produziu mais de uma dúzia de livros, repletos de detalhes, com relatos de um ano de casos de pacientes, que muitas vezes se tornaram seus amigos. Ele explicou para leitores leigos como o cérebro lida com tudo desde autismo até savantismo, daltonismo e síndrome de Tourette, e como seus pacientes puderam se adaptar a suas mentes não convencionais.
A ideia de Sacks, como a expressa em seu livro de 1995 “Um Antropólogo em Marte”, é que tais distúrbios também vieram com um potencial que pode trazer para fora “poderes latentes, desenvolvimentos, evoluções, formas de vida que podem nunca ter sido vistas ou até mesmo imaginadas”.
“O cérebro é o mecanismo mais complexo no universo”, disse ele em uma entrevista à revista “People”. “Eu não poderia imaginar passar minha vida com rins.”
A própria psique de Sacks era bastante complicada.
A certo ponto em sua vida, ele lutou contra o abuso de drogas e a timidez aguda e sofria de prosopagnosia, uma doença que deixa vítimas incapazes de reconhecer rostos.
Ele também escreveu sobre a perda de visão e de audição, e sobre memória, em ensaios publicados principalmente pela revista “The New York Review of Books”. Seu livro mais recente, de memórias, publicado nos EUA e também no Brasil foi “Sempre em Movimento”, em maio.
Em 2012, ele disse à revista “New York” que tinha feito psicanálise por mais de 45 anos e era celibatário desde meados da década de 1960, porque estava essencialmente casado com seu trabalho.
No entanto, em sua autobiografia revelou ter se apaixonado aos 77 anos pelo escritor Billy Hayes, seu parceiro até o fim da vida.
Sacks, um ateu declarado, nasceu em Londres em 7 de julho de 1933, em uma família de médicos judeus. Na esperança de mantê-lo a salvo dos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial, os pais o mandaram embora da cidade para uma escola, e o tímido jovem Sacks se voltou para a ciência.
Depois de frequentar a escola de medicina e exercer a profissão na Grã-Bretanha, ele se mudou para os Estados Unidos na década de 1960, onde estudou um grupo de pessoas que contraíram encefalite letárgica. Elas estavam sem tratamento e praticamente congeladas em estados catatônicos por décadas até Sacks administrar uma droga psicoativa experimental conhecida como L-Dopa.
A droga teve um efeito explosivo de “despertar” sobre os pacientes, mas o experimento caminhou para o fracasso quando eles desenvolveram tiques, convulsões ou comportamento maníaco e tiveram problemas para se adaptar ao mundo contemporâneo.
Sacks escreveu sobre os pacientes no livro de 1973 “Tempo de Despertar”, que levou ao filme homônimo indicado ao Oscar de 1990, estrelado por Robin Williams como Sacks e Robert de Niro como um de seus pacientes.
“Isto tornou-se uma experiência de céu e inferno”, disse Sacks à revista “People”. “Mas os pacientes teriam morrido sem sequer um vislumbre da vida que tiveram se não fosse o L-Dopa.”
Seu trabalho mais conhecido é o livro de 1985, “O Homem Que Confundiu Sua Mulher Com Um Chapéu”, uma coletânea de estudos de casos de pessoas cujos cérebros falharam, incluindo perda de memória, problemas de percepção e síndrome de Tourette.
Sacks, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Nova York, muitas vezes considerou suas próprias vivências em seus livros, incluindo “Enxaqueca”, “O Olhar da Mente” sobre como lidar com a cegueira, e “A Mente Assombrada”, com suas experiências com LSD e mescalina.
Todos os livros de Sacks foram publicados no Brasil pela Companhia das Letras.
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