Nevermind não foi o primeiro disco do grunge; tampouco o passo inaugural da cena de Seattle; nem sequer foi o primeiro álbum do Nirvana. Mas foi ele quem pulverizou para sempre as fronteiras entre o alternativo e o mainstream – e isso cinco anos antes da massificação da internet. Com informações pinçadas da biografia de Kurt Cobain (Mais Pesado Que o Céu, de Charles R. Cross) e da revista Billboard, confira a seguir um raio-x do disco que mudou a história do rock.

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A melhor capa do rock

Eleita pela revista Rolling Stone a melhor capa de disco de todos os tempos, a foto estampada em Nevermind foi inspirada por um programa sobre parto subaquático, que Kurt Cobain assistiu na primavera de 1991. A ideia inicial era usar a cena do parto em si – o momento em que o bebê sai do corpo da mãe –, mas a banda acabou se convencendo de que seria uma imagem forte demais. Convidado pelo diretor de arte do disco, Robert Fisher, o fotógrafo Kirk Weddle – especializado em fotos na água – resolveu levar Spencer Elden, filho do casal de amigos Rick e Renata Elden, então com quatro meses de idade, para ser o bebê nadador. A mãe entrou com Spencer na piscina do Aquatic Centre de Rose Bowl, em Pasadena. A nota de dólar presa a um anzol foi inserida mais tarde, por meio de recursos gráficos. A foto em si foi tirada numa sessão que durou cinco minutos.

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Pequenas joias ocultas

Passados 20 anos, o início de Nevermind continua sendo demolidor: "Smells Like Teen Spirit", "In Bloom" e "Come as You Are" em sequência. Pula uma faixa, outro petardo: "Lithium". Não por acaso, foram esses os quatro singles do álbum. O problema é que essas músicas acabaram ofuscando outras pequenas joias incluídas no disco. A raivosa "Breed", um complexo diálogo sobre a indiferença; a doce – e desconcertante – "Polly", na qual Kurt encarna um estuprador; a semipop "Drain You"; a atrevida e quase metaleira "Lounge Act", e a autoafirmativa "On a Plain" são alguns exemplos.

Maiores sucessos

Em setembro de 1991, ninguém – nem a própria banda, muito menos a Geffen Records, que distribuiu inicialmente míseras 46.251 cópias nos Estados Unidos – imaginava que Nevermind fosse um disco especial. Porém, pouco mais de três meses depois, os singles lançados a partir dele ("Smells Like Teen Spirit", "Come as You Are", "Lithium" e "In Bloom") indicariam a direção da sonoridade da década. Mais: conforme se descobriria depois, essas faixas detonaram a última grande revolução no rock-and-roll – pelo menos até agora.

Underground radiofônico

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Hoje ninguém discute a força das músicas de Nevermind. Mas quem as lapidou, garantindo musculatura suficiente para que o disco rompesse a barreira do submundo alternativo, foram o produtor Butch Vig e o engenheiro de som Andy Wallace. A banda conheceu Vig em abril de 1990, no Smart Studios em Wisconsin, quando gravaram oito músicas – cinco das quais seriam aproveitadas em Nevermind. Como também era baterista, o produtor conquistou a banda principalmente pela habilidade em captar o som do instrumento. Quase um ano depois, em março de 1991, Vig era convidado para produzir Nevermind no Sound City Studios, em Los Angeles. A remixagem foi feita por Wallace, que já havia trabalhado com artistas tão diversos quanto Slayer e Madonna. Ele criou uma separação entre a guitarra e a bateria que ajudou as faixas a soarem poderosas no rádio, mas a própria banda – e principalmente Kurt – não aprovou muito o uso do recurso.

Destronando o rei do Pop

Nevermind teve mais de 30 milhões de cópias vendidas no mundo inteiro, e permaneceu durante 253 semanas na parada da Billboard. O segundo álbum do Nirvana atingiu o top 10 (em nono lugar) na semana de 16 de novembro de 1991, e chegou ao topo da lista dois meses depois, em 11 de janeiro de 1992. Naquela semana, o disco dos "cabeludos maltrapilhos" Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl desbancou ninguém menos que Michael Jackson, empurrando seu Dangerous para o quinto lugar – sem falar em outros concorrentes de respeito, como Achtung Baby, do U2, o lendário "álbum preto" do Metallica e os dois Use Your Illusion, do Guns N’ Roses. Nevermind figurou entre os dez álbuns mais vendidos na lista da Billboard até a semana de 23 de maio de 1992, e só deixou o top 200 em 17 de julho de 1993.

Você sabia?

Que o título inicialmente imaginado por Kurt Cobain para o disco era Sheep (Ovelha)? Tratava-se de uma piada – profética – sobre as massas que, segundo ele, iriam comprar o próximo trabalho do Nirvana. Em junho de 1991, porém, Cobain apareceu com "Nevermind", que tinha várias características: era uma metáfora para a atitude dele diante da vida; grafado de forma incorreta, juntando as duas palavras da expressão "never mind" (esqueça); e vinha da letra de "Smells like Teen Spirit". O título dessa música, aliás, também surgiu de maneira curiosa: foi tirado de uma pichação feita por Kathleen Hanna, ex-namorada de Dave Grohl, na parede do quarto de Kurt Cobain: "Kurt smells like Teen Spirit" ("Kurt cheira a Teen Spirit") – uma zoação com o desodorante que Tobi Vail, então namorada de Kurt, usava na época: o tal do Teen Spirit.

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